Piratas do Caribe 4:
apesar de divertido, cansa em sua primeira metade
Cuidado, Disney! Sua mina de ouro pode estar caminhando para águas realmente misteriosas...
Jader Santana
cinemacomrapadura.com.br/
Avaliação: 7
Não importa o que façam ou digam, parece que a franquia “Piratas do Caribe” sempre terá uma boa recepção do grande público durante sua exibição nas telonas. O que se assiste no último episódio da série, “Piratas do Caribe 4 – Navegando em Águas Misteriosas”, é um emaranhado de situações desconexas e tediosas que não conseguem ofuscar a sempre caricata (e adorada) interpretação de Johnny Depp e o charme espanhol de Penélope Cruz. Aqueles para os quais tais fatores não são suficientes, precisam de esforços redobrados para acompanhar, até o fim, a nova saga de Jack Sparrow.
Tudo nesse quarto filme parece resultado de um plano ambicioso para encher o bolso de dinheiro do modo mais simples possível. Partindo do roteiro de Ted Elliott e Terry Rossio (baseado no livro “On Stranger Tides”, uma aventura marítima escrita em 1987 pelo americano Tim Powers), até ao desempenho dos atores parece canastrão demais para os padrões de relativa qualidade dos três filmes anteriores.
Aqui, a trama acompanha a disputa entre Sparrow, Barbossa (Geoffrey Rush) e Angélica (Penélope Cruz) na busca pela Fonte da Juventude. A despeito de suas motivações específicas, a verdade é que os três parecem tão interessados em chegar ao ponto X do mapa do tesouro que quase não resta tempo para o saudável desenvolvimento da história. Então, dentro de seus 137 minutos (duração reduzida se comparada aos outros três filmes), não estranhe a sensação de uma correria exagerada e, ao mesmo tempo, de que nada de interessante foi contado.
Os protagonistas da rixa são carismáticos, originais e conseguem escapar do lugar comum gerado em torno dos corsários do mar. Nada extraordinário para nomes que já fizeram grandes obras do cinema moderno, como “Ed Wood” e “Cry Baby” (Depp), “O Discurso do Rei” e “Shine – Brilhante” (Geoffrey Rush), e “Volver” e “Carne Trêmula” (Penélope Cruz).
O capitão Sparrow continua cheio de tiques e trejeitos que não causam mais estranhamento e não divertem como antes. É o mesmo modo problemático de atuar que Depp vem colocando em seus demais projetos, como se fosse impossível dissociar ator e personagem. O capitão Barbossa parece ínfimo quando analisado ao lado do terapeuta vivido por Rush em “O Discurso do Rei”, e é difícil não desejar, durante todo o filme, um pouco mais de naturalidade ao seu personagem. A grande novidade é Penélope Cruz, deslumbrante como a figura que parece ter mais histórias pra contar: filha do pirata Barbanegra, ex-noviça e ex-namorada desiludida de Sparrow.
Gregor Verbinski, que havia sido chamado para dirigir o primeiro “Piratas do Caribe” em 2003, após filmes de relativo sucesso, foi substituído pelo premiado Rob Marshall, mais conhecido por seus trabalhos esteticamente impecáveis, como “Chicago”, “Memórias de uma Gueixa” e “Nine”. Muitos acreditaram que essa seria a oportunidade ideal para a renovação estética da série, e muito se falou sobre a possibilidade de um filme visualmente arrebatador, com uma perfeita sincronia entre cenário e personagens, cores vivas e cenas de luta perfeitamente coreografadas.
O que é visto, levando em conta a capacidade de Marshall, é decepcionante. Pouco mudou em relação ao trabalho visual demonstrado no último filme e em alguns pontos não é precipitado afirmar que houve uma sensível perda de qualidade. As batalhas épicas, que davam ritmo ao roteiro, agora não foram bem planejadas e executadas, e muitas delas carecem de agilidade. As cores de Marshall foram substituídas por uma fotografia demasiadamente sombria, que se estende por toda a primeira hora do filme. Ao sinal do primeiro raio de luz, a sensação é de alívio.
A cartela de defeitos não deve ser suficiente para comprometer o êxito de “Piratas do Caribe 4”. Se os estúdios Disney planejem dar continuidade ao propósito de filmar boas histórias de piratas, é importante rever conceitos e renovar seus atributos. Caso contrário, a franquia pode terminar como um produto descartável para seus diretores e vergonhoso para o elenco.
Jáder Santana é crítico do CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.
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