novo filme é um morno recomeço para a série
Não fosse o visual do filme, a beleza de Penélope Cruz e um velho pirata, essas misteriosas águas seriam tão paradas que mosquitos da dengue poderiam aproveitar!
Thiago Siqueira
twitter.com/thiagosiqueiraf
Avaliação: 5
A franquia “Piratas do Caribe”, que teve sua gênese em um brinquedo da Disney, pegou todos de surpresa com seu primeiro e arrebatador filme e depois deixou a desejar com duas sequências que primavam pela megalomania e esqueceram diversão. Agora, sob o comando de Rob Marshall, chega quarto longa da série, “Piratas do Caribe – Navegando em Águas Misteriosas”.
Pouco se relacionando com as fitas anteriores, este novo capítulo seria perfeito para arrebanhar um novo público para a série, não fosse um pequeno fator: uma excruciante falta de ritmo, problema que simplesmente destruiu a película passada e volta a se mostrar neste exemplar mais recente.
A história mostra Jack Sparrow (Johnny Depp) tentando voltar ao mundo da pirataria depois de – novamente – ter perdido o “Pérola Negra”. No entanto, o destino o coloca à bordo do navio “A Vingança Da Rainha Ana”, comandado pelo maligno Barba Negra (Ian McShane), que zarpou em busca da Fonte da Juventude. Ao seu lado, Jack tem Angélica (Penélope Cruz), sua linda e dúbia ex-amante e filha de Barba Negra. No entanto, a Fonte é um prêmio também desejado por outras partes, como os espanhóis e a coroa inglesa, representada pelo agora corsário Barbossa (Geoffrey Rush).
Enquanto o terceiro filme tinha pouca trama e muitas cenas de ação regadas por caríssimos efeitos especiais, aqui não temos nenhuma batalha exatamente memorável ou grandes diálogos. Tudo é muito mediano, muito comum e nada desperta a atenção ou as risadas do público. A cena de ação mais interessante que temos é aquela envolvendo as sereias, criaturas cujo interessante conceito renderia um filme só para elas e que passam quase batidas, salvo esta sequência.
Digo quase porque uma delas acaba por continuar no filme para ser parte do obrigatório romance proibido entre coadjuvantes. No caso, temos o missionário Phillip e a sereia imaginativamente chamada Syrena. Interpretados respectivamente, por Sam Claflin e Astrid Berges-Frisbey, os atores com certeza são o destaque negativo da fita. A falta de carisma e talento dos dois só consegue ser equiparada pela inexistência de desenvolvimento de seus personagens. Sabemos que a coisa está feia quando sentimos falta de Orlando Bloom e Keira Knightley.
Já o próprio Jack Sparrow parece deslocado no filme, o que é estranho se repararmos que ele deveria ser o centro das atenções. Johnny Depp exibe sua energia e trejeitos de sempre, mas simplesmente a química com os demais personagens falha. Algo parece faltar em cena. Sparrow aparentemente necessita de um contraponto, que consiga devolver à altura seus gracejos. Quando surge a voluptuosa Angélica, vivida por Penélope Cruz, percebemos algumas faíscas e isso ajuda o barco a flutuar por algum tempo, mas ela é parecida demais com o próprio Jack para apresentar um impacto maior na tela.
Não por acaso, o melhor personagem em cena é Barbossa. Geoffrey Rush exibe sua competência habitual e, desta vez, vemos que o velho pirata tem um risco pessoal palpável. Tendo sido mutilado, perdido o seu orgulho e até mesmo sua bandeira pirata, Barbossa é como um pitbull dopado, lutando para se libertar de uma vida de gracejos falsos e de um mundo ao qual simplesmente não pertence. Ele sim funciona como um real antagonista para o vilanesco Barba Negra, primeiro vilão realmente maligno da série, sem nenhum traço de redenção, interpretado de maneira adequada pelo marcante Ian McShane.
Em seu primeiro grande filme de ação, Rob Marshall mostra não ter aptidão para este riscado. Batalhas desinteressantes, alguns núcleos são apresentados como importantes e somem para voltar apenas quando é conveniente para a trama sem nenhuma preparação narrativa e uma falta de ritmo que tenta aos gritos ser compensada pela ótima trilha sonora de Hans Zimmer acabam por aleijar o longa de maneira quase que mortal.
Muito se falou ainda sobre o projeto contar com um 3D real, tendo em vista que fora filmado com câmera específicas para este formato. Pois bem, Marshall fracassa em aproveitar o recurso de maneira interessante, se limitando a apontar espadas para o público e fim. Meu conselho é que evitem as sessões neste formato.
Aliás, queria saber de quem foi a brilhante ideia de filmar este longa em 3D sabendo que a maioria das cenas do projeto se passaria à noite e com fotografia escura. Sim, pois com a perda de luminosidade da tela causada pelos óculos 3D, o público não consegue enxergar quase nada. O que não é uma grande perda, pois salvo Barbossa, a bela figura de Penélope Cruz e o fantástico design de produção, não há nada muito interessante para ser visto mesmo.
P.S.: Há uma cena pós-créditos. Aliás, a mais sem-graça de toda a franquia.
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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.
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