O Spielberg que não gostamos está de volta mais meloso que nunca.
Para alguém que cresceu assistindo as fitas VHS de Jurassic Park, Tubarão e Indiana Jones, sentar na sala do cinema para ver um filme de Steven Spielberg é quase um evento. Mas o cineasta, infelizmente, possui três vertentes bem distintas: Spielberg “mestre do cinema”, Spielberg “para toda a família” e Spielberg “meloso”. Na primeira se encaixam a maioria de seus trabalhos, incluindo O Resgate do Soldado Ryan, A Lista de Schindler, os três já citados e, seu último grande filme, Munique. Na segunda vertente entram Hook, Indiana Jones 4 e a versão remasterizada de E.T. Já na última sobra espaço para obras como A.I. Inteligência Artificial e, seu mais recente, Cavalo de Guerra.
Escrito por Lee Hall e Richard Curtis e dirigido por Steven Spielberg, Cavalo de Guerra conta a história de Joey, um cavalo que atravessa a 1º Guerra inteira para conseguir reencontrar o seu dono. O rapaz, um fazendeiro chamado Albert (Jeremy Irvine), chega a se alistar no exército para procurar por seu cavalo perdido, que havia sido vendido pelo pai alcoólatra.
O terço inicial do filme, enquanto ainda temos Albert como protagonista, é um tanto arrastado, mostrando como o rapaz conseguiu o cavalo e todos os seus desafios para treiná-lo. Mesmo com menos tempo em cena que o trailer parecia sugerir, o estreante Jeremy Irvine mostra todo seu talento adquirido na Escola Kristen Stewart de Atuação e investe no inconfundível olhar abobalhado e boca entreaberta, capengando na liderança do filme em menos de 20 minutos de duração. Nem o bom elenco coadjuvante parece conseguir salvar o rapaz, já que os personagens escritos por Hall e Curtis são igualmente sem graça e desinteressantes.
Felizmente, o cavalo Joey se sai melhor como protagonista no 2º ato. Quando o bicho começa sua jornada, Cavalo de Guerra atinge seu ponto alto. A trama é contada em forma de episódios, apresentando vários personagens que tiveram contato com o herói equino. O interessante é que Spielberg não usa a viagem do cavalo como forma de patriotadas ou denúncias rasas contra os inimigos dos ingleses. Pelo contrário, o cineasta introduz figuras de todos os lados, nada menos do que pessoas agindo como elas mesmas durante uma situação de guerra. Desta forma, surge na trama a dupla de irmãos desertores, o tratador de animais do exército, o corajoso soldado que se arrisca para salvar o cavalo e até a menina sonhadora dona de um lado assustadoramente maduro para sua idade.
Lamentavelmente, com a chegada do 3º ato, o fraquíssimo Albert volta ao posto de protagonista e Spielberg se entrega ao seu lado chorão. As diversas reviravoltas forçadas, os diálogos melosos, a música ilustrativa em excesso (raro exemplo de equívoco na carreira de John Williams) e os frequentes zoons na cara dos personagens só denunciam o trabalho em piloto automático de um cineasta que esqueceu do próprio talento. Por um momento animador achei que Spielberg estava fazendo um filme sobre pessoas que permanecem bondosas mesmo diante de uma guerra, mas na verdade era só um rápido percurso de um diretor unicamente interessado em arrancar nossas lágrimas à força.
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