quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

/crítica
Desaparecidos
(Desaparecidos, 2011)
Por Marcelo Leme Avaliação:     2.0









                                           




 Procura-se originalidade. Recompensa: não ter que assistir esse filme.

São 73 minutos de agonia, mas parecem 120. Desaparecidos, de David Schurmann, se apropria do modelo documental para propor uma versão brasileira de um, digamos, A Bruxa de Blair (The Blair’s Witch Project, 2009). A história toda acontece aos arredores de uma casa num local afastado, perto de uma cachoeira em Ilhabela. Jovens são convidados para uma festa no local e são incumbidos de carregar uma câmera no pescoço e registrar tudo. 6 são os que irão para a festa e não voltarão. 

O diretor nos comunica sobre a veracidade daquele evento, como se essas câmeras tivessem sido encontradas guardando imagens desesperadoras. Segue-se o filme exibindo uma brevíssima apresentação dos envolvidos, curta o bastante para nem lembrarmos o nome deles. Logo é instituído planos escuros numa floresta com um ser obscuro no meio da vegetação. E os intermináveis 73 minutos? A agonia de suportar a sucessão de cenas é inteiramente nossa. 
Sem qualquer novidade, o filme constrange quem já viu trabalhos semelhantes com tamanha reciclagem de idéias. A ficção exposta provém de um marketing viral em redes sociais, com perfis falsos dos personagens combinando de ir a uma fictícia festa. Chega o filme e desenrola trivialidades de um modo neurótico, repetindo elementos narrativos temperado com sustos no estilo de um Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007) genérico. Sombras surgindo, folhas balançando, um silêncio interrompido por sons repentinos e gritos enlouquecidos são artifícios que recheiam o longa de Schurmann.

E a sensação de dúvida costumeira de, afinal, porque estão filmando tudo ao invés de fugir? Aqui essa questão não existe. A coisa toda desenrola com naturalidade, muito embora a proposta esteja longe de ser crível. As desculpas são cuspidas e as encaramos com desconfiança. Fica razoavelmente divertido na limitadíssima construção de personagens, dando alguma humanidade a essas criaturas condenadas quando salientam suas relações, amores perdidos, planos para o futuro, doenças. Um Cloverfield - Monstro (Cloverfield, 2008) menor se estabelece com proporções bem modestas tanto narrativas quanto de orçamento: Desaparecidos não passou de 60 mil. 

Como nas obras mencionadas, o filme explora cenas documentadas pelos próprios personagens, mas sem força no texto e irritando na sua composição. Vai perdendo a pouca originalidade que no início sustentou à medida que o grupo dissipa e se perde na floresta em busca de um desaparecido. Gritos à exaustão acumulam e tanta choradeira desenfreada nos obriga a olhar para o relógio a fim de descobrir quanto tempo ainda resta. Ao final, um desejo sádico: que morram logo, pelo menos essa perturbação acaba. No entanto não precisava descambar ainda mais no ridículo quando no ato final uma das personagens converte-se numa versão de Manuela Velasco arrastada em [REC] (idem, 2007). É a tal vergonha alheia, sentimento inevitável e compartilhado. Se ainda fosse um tipo de homenagem inspirada nos outros filmes, porém acreditam estar sendo inovadores. Paciência!

Por Marcelo Leme, em 01/01/2012 Avaliação:     2.0

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