O Espião Que Sabia Demais (Tinker, Tailor, Soldier, Spy, 2011)
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Excessivamente confuso para um filme que deveria ser apenas inteligente. |
Adoro filmes inteligentes e complexos, que desafiam o espectador comum a pensar e, ao mesmo tempo, parar de encarar o cinema como um pacote de respostas prontas e fáceis. Sem dúvida, O Espião Que Sabia Demais (Tinker, Tailor, Soldier, Spy, 2011) se encaixaria perfeitamente nessa definição caso sua ambição não fosse maior que a execução final. Como não se perder em pelo menos um momento deste filme? Falemos a verdade, é confuso. Apesar da áurea de intrigas ser construída magnificamente, a edição não joga a favor. É aí que Tomas Alfredson, brilhante em seu trabalho anterior, o sueco Deixa Ela Entrar (Låt Den Rätte Komma In, 2008), mescla momentos irretocáveis com confusões de quem se ludibriou com o potencial da história. Seu trabalho deveria ser o de facilitar, sem perder a inteligência intrínseca à boa trama, a compreensão da história sobre qual daqueles homens da elite de espionagem inglesa é, na verdade, um espião russo infiltrado. Para essa missão, um agente aposentado interpretado com competência por Gary Oldman é chamado de volta para liderar a tarefa de descobrir a identidade do traidor. Enquanto a edição desfila confusão na tela – não demorei muito a me perder e demorei a me reencontrar –, os atores seguram qualquer desinteresse – e uma vontade maluca de reiniciar o filme para vê-lo com atenção redobrada – graças às maravilhosas interpretações que, sem dúvida, formam uma das grandes atuações coletivas do ano. E são esses fatores complementares, como os intérpretes, os responsáveis por, no fim das contas, o longa-metragem ser acima do convencional. Pode parecer contraditório criticar a forma como a história é contada, julgá-la confusa em excesso e, mesmo assim, tecer elogios. Mas realmente o clima construído prende, enquanto a forma expulsa. O espectador cai, inevitavelmente, nesse jogo de querer desistir de tudo, mas não conseguir. E é nesse aspecto que reside todo o acerto de Alfredson. Ao mesmo tempo em que erra a mão, também acerta ao desenvolver aquele ambiente de eterno conflito, escuro, em grande trabalho ao lado do diretor de fotografia. As paisagens são sempre cinzas, não importa em qual país ou dia os personagens estejam, e os enquadramentos parecem dizer um pouco mais sobre aqueles homens de rostos fechados. Só que nesse jogo de altos e baixos na direção, Alfredson se equivoca ao achar que pequenos e difíceis detalhes em cena serão suficientes para o espectador acompanhar o que é passado e o que é presente. Nem sempre a sutileza é sinônimo de inteligência, às vezes, como aqui, pode significar confusão. E não adianta só redobrar a atenção, porque mesmo assim o ritmo da narrativa poderá boicotá-lo. Se a história vai e volta a bel prazer, se é difícil acompanhar a todo instante qual papel cada um está desenvolvendo, tudo piora na hora em que as peças daquele xadrez ganham apelidos, justamente os que dão título ao filme em inglês (Tinker, Tailor, Soldier, Spy). Confesso, fui incapaz de guardar quem era quem e acompanhar perfeitamente a trama a partir do momento em que ora se referiam a eles pelo nome, ora pelo apelido. O pior é que ao final da projeção, tendo mais claro na mente tudo que o se passou, não senti nenhuma vontade de rever O Espião Que Sabia Demais para aproveitar melhor a história. Esse é o maior erro: a complexidade não suscita curiosidade, reflexão, ou mesmo o sentimento de provocação racional, mas sim um profundo desinteresse por aquele universo que, visualmente, é mais atraente do que seus conflitos. |
Por Emilio Franco Jr., em 14/01/2012 | Avaliação: 6.0 |
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