sábado, 27 de junho de 2009

'Jean Charles' chegou aos cinemas brasileiros nesta sexta (26).








































27/06/09 - 12h26 - Atualizado em 27/06/09 - 12h50



Com olhar brasileiro, filme reconta drama de brasileiro morto em Londres
Filme 'Jean Charles' chegou aos cinemas brasileiros nesta sexta (26/06/2009).





Selton Mello interpreta eletricista confundido com susposto terrorista.



Débora Miranda

Do G1, em São Paulo






  • O assassinato de Jean Charles de Menezes por policiais no metrô de Londres, em 22 de julho e 2005, ganhou nesta sexta-feira (26) as telas dos cinemas brasileiros, em versão assinada por Henrique Goldman na direção e Marcelo Starobinas no roteiro. Mas a dupla afirma que queria ir além de apenas retratar a morte do eletricista, confundido com um suposto terrorista – o foco é usar sua vida para retratar como vive a comunidade brasileira na Inglaterra.



  • “Nosso desejo era fazer um filme que celebrasse a vida dele e da comunidade brasileira no exterior. Queria homenagear esse jovem ambicioso e sonhador. Não lamentar que os imigrantes vão até lá para fazer o trabalho que os europeus recusam”, afirma o diretor Henrique Goldman, que mostra um Jean Charles envolvido nos mais diversos rolos para ganhar dinheiro, inclusive na compra de vistos para brasileiros conseguirem permanência no país. “Ele fazia esse tipo de coisa, mas não da forma que mostramos no filme”, garante o cineasta, que diz ter temperado a história real com ingredientes ficcionais.

  • Em “Jean Charles”, Selton Mello interpreta o personagem-título, e vem acompanhado de Vanessa Giácomo, Luis Miranda e Patricia Armani (prima do brasileiro na vida real), entre outros.


Veja, abaixo, trechos da entrevista que Goldman e Starobinas deram ao G1.

G1 – Como surgiu o projeto de recontar a história de Jean Charles?

Henrique Goldman – Logo que soube do caso, da morte dele no metrô, achei a história interessante de ser investigada e contada. Queria fazer um documentário, tentei contato com algumas TVs inglesas, mas não consegui nada. Oito meses depois, o Fernando Meirelles me encaminhou um projeto da BBC, que o tinha procurado justamente para dirigir um filme sobre o caso. Chegamos à terceira semana de pré-produção, mas eles queriam fazer um filme pela perspectiva da polícia, e eu queria mostrar o olhar dos brasileiros.

G1 – Como foram feitas as pesquisas para o roteiro?

Marcelo Starobinas – A gente teve que pesquisar muito. Entrevistamos todo mundo que o conheceu, pessoas que podiam nos mostrar quem era ele. Queríamos tentar entender como tudo aconteceu e a melhor forma de contar essa história. Ao longo do trabalho, mostramos o roteiro para essas pessoas, que, às vezes, viam coisas com as quais não se sentiam confortáveis, por não ser realidade ou por não quererem se ver naquela situação. Houve respeito e liberdade ficcional.

Goldman – Jean é um ícone e representa os imigrantes brasileiros em Londres. Nosso desejo era fazer um filme que celebrasse a vida dele e da comunidade brasileira no exterior. Queria homenagear esse jovem ambicioso e sonhador. Não lamentar que os imigrantes vão até lá para fazer o trabalho que os europeus recusam. Todo mundo conhece a história e sabe que, no fim, ele vai morrer. Queríamos mostrar o oposto. A ficção foi usada para mostra a história de forma inteligível.



G1 – Algo foi alterado por pedido da família?

Goldman – A princípio, na cena do metrô, mostrávamos o Jean levantando e questionando a polícia sobre o que estava acontecendo, antes de ser morto. O Alex, primo dele, nos ligou e pediu que fosse alterado. Pensamos a respeito e decidimos alterar [a cena definitiva mostra apenas uma gritaria, barulho de tiros e o corpo do brasileiro estendido no chão do vagão]. A polícia fez de tudo para responsabilizá-lo pela própria morte. Starobinas - A gente mostrar que ele reagia daria força à versão da polícia, e as pessoas presentes no trem afirmaram que eles não deram voz de prisão e que ele não reagiu.

G1 – Como foi a recepção da família ao filme?

Goldman – A reação não poderia ser melhor. Ela agradeceu por ter retratado ele de forma fiel.

Starobinas – A exibição para eles foi emocionante. Uma de nossas preocupações era fazer os pais não sofrerem mais do que já sofreram. Voltamos aliviados, pois a mãe dele gostou e viu que o filme é uma homenagem ao filho dela, que morreu de forma trágica e injusta.



G1 – Como tem sido a repercussão do caso na Inglaterra?

Goldman – A polícia matou esse brasileiro de forma ridícula, estapafúrdia e depois tentou politizar o caso. Espero que o filme ajude para que os policiais envolvidos sejam responsabilizados pelo que ocorreu. A indignação foi enorme no Reino Unido. A opinião pública também está contra a polícia.

Starobinas – Claro que também há a ponderação de quem são esses brasileiros para acusar nossa polícia? Há uma linha muito fina entre o pensamento de que, sim, é um absurdo o que houve, mas ao mesmo tempo temos que dar o braço a torcer de que a polícia inglesa é muito mais correta do que a nossa, e por se tratar de um país civilizado, o caso virou esse escândalo. Jean Charles é manchete até hoje nos jornais de lá, enquanto aqui não vira nem notícia de rodapé as pessoas chacinadas pela polícia. O escândalo mostra também que aquele país tem respeito com a vida humana.

G1 – O filme contou com financiamento do governo inglês? E como foi a participação de Stephen Frears (diretor de “Alta fidelidade” e “A rainha”, entre outros) na produção executiva?

Goldman – Conheço o Stephen há alguns anos e duas vezes ao mês tomamos chá juntos. Falei para ele do projeto e joguei sujo [risos]. Íamos para o Festival de Berlim e eu queria poder anunciar que ele produziria o longa, para tentar vendê-lo a outros países. Mas ele disse: “Eu nem li o roteiro ainda”.

Starobinas – Levamos uma das primeiras versões do roteiro, ele gostou e opinou. Agradecemos muito pela força.

Goldman - Ele foi se envolvendo aos poucos, leu os tratamentos que fizemos no roteiro. O papel dele foi como o de um padrinho, que orienta. Quando ao financiamento, fizemos o filme em parte com financiamento brasileiro e em parte com apoio do governo britânico. Não houve nenhuma censura, nos deram liberdade total. O mesmo governo que deixou esses policiais corruptos sem punição é o que nos financiou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário