terça-feira, 6 de abril de 2010

A Cruz de Mel Gibson


Acusado de fazer comentários anti-semitas, prisão por embriaguez ao volante e muita polêmica tem cercado um dos maiores astros de Hollywood. Muito por conta de uma relação pouco saudável do ator com a imprensa e sua pouca disposição para manter a boca fechada. É mais um elemento da panela de pressão da mídia, de quem Gibson precisa, mas simplesmente não consegue mais seduzir.


Na manhã ensolarada de quinta-feira, Mel Gibson vai pessoalmente até a porta de sua residência em Malibu, na Califórnia. Lá encontra uma equipe de TV francesa pronta para entrevistá-lo por conta de seu novo filme, O Fim da Escuridão (Edge of Darkness). Parte da regalia se dá por conta da boa relação de Gibson com a distribuidora do filme na França, mas também é um jeito de dizer: bem-vindos, sou um sujeito legal e quero ser amigável com vocês. Mas os tempos são outros e sua fama de temperamental ganhou níveis tão altos que, quando o astro convida os jornalistas para ficar mais um pouco depois do fim da entrevista e almoçar com ele, é repelido. Sob a desculpa de outro compromisso, os franceses deixam para trás um Mel Gibson contrariado. A verdadeira razão é clara: quanto menos contato, melhor. É um verdadeiro pesadelo de relações públicas, especialmente com a facilmente ofendida imprensa internacional, pronta a taxar os grandes nomes sem piedade.

Caso sofresse apenas com os frutos de uma relação desgastada, Gibson ainda poderia sonhar com uma volta por cima, porém, os problemas continuam. No início de fevereiro, Mel Gibson concedeu uma entrevista a um canal de TV de Chicago e quando perguntado sobre “o público ter superado a controvérsia e estar pronto a esquecer o assunto”, o ator reagiu mal, disse que já se desculpou o suficiente e sugeriu que a entrevista seguisse outro rumo. Mas o pior estava por vir: antes das câmeras saírem do ar, tomou um gole de seu café e, aparentemente, xingou o repórter de babaca [a$#hole, em inglês]. Foi pego pelas câmeras.


A ofensa caiu como uma bomba no colo da mídia, que transformou o caso em grande acontecimento e gerou uma quantidade gigantesca de publicidade negativa para Edge of Darkness. Mais tarde, Gibson disse ter xingado seu assessor de imprensa por não ter gostado das perguntas. Não importava mais, o estrago estava feito. E o filme só faturou US$ 42 milhões, contra US$ 80 milhões de orçamento.

De um lado a imprensa diz que Gibson deveria estar preparado para perguntas referentes a seus momentos conturbados e, corretamente, se vê no direito de tocar no assunto [mesmo que de maneira repetitiva e, normalmente, por falta de assunto]; do outro, o ator e diretor sendo cada vez mais hostilizado e confrontado com questões sobre seus exageros e opiniões, em vez de suas realizações profissionais. O conflito é inevitável, uma vez que, na cabeça de editores ao redor do mundo, falar de polêmica é mais lucrativo e atrai mais leitores. Verdade incômoda, mas ruim a longo prazo. Situações como essa transformaram Eddie Murphy, por exemplo, num astro relativamente retraído em entrevistas e sempre muito bem preparado para transmitir uma imagem positiva e sorridente, mas menos autêntico do que fora anos atrás. Gibson é autêntico em demasia e tem trocado sinceridade por agressividade.

Nada disso diminui a brilhante carreira de Mel Gibson, responsável por filmes como Coração Valente, Máquina Mortífera e Mad Max. Entretanto, fica clara a necessidade de deixar os holofotes um pouco. Anti-semitismo, violência gratuita e surtos. Agressividade gera mais agressividade. E a imprensa é imperdoável. É um caso clássico de quanto mais mexer, mais problema vai causar. Uma pena.
Por Fábio M. Barreto,de Los Angeles

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