No Maquinária, banda de Mike Patton não desaponta fãs e traz velha pegada, e Deftones e Jane's Addiction dividem opiniões.
Bem-vindo aos anos 1990, época em que Faith No More e Jane"s Addiction respondiam pela música de vanguarda. Olhos atiçados por um sol a pino, público quase todo focado na última atração da noite (o grupo liderado por Mike Patton), o Maquinária Festival apresentou suas credenciais na Chácara do Jockey com 10 horas de rock. "Aqui no palco, secos; aí, molhados", brincou Patton, com um português carregado, referindo-se ao grupo de Ney Matogrosso e a chuva. Mancando de uma perna, Patton e o Faith No More tocaram profissionalmente por uma hora e meia. Os sorrisos amarelos trocados entre Epic, Easy e We Care a Lot evidenciavam o porquê da banda não querer dar entrevistas neste retorno. Já basta tocar juntos, falar com a imprensa é demais.
Algumas horas antes, desde os primeiros acorde do Deftones, uma batalha entre o público e as atrações internacionais marcou as apresentações. Distantes do auge, cada um deles mostrou seu repertório sem paralelos nos anos 90. Antes, Nação Zumbi e Sepultura tentavam contagiar um público ainda pequeno. O sol derretia e apresentava dois palcos - o principal e o My Space, onde tocavam bandas iniciantes -, além de uma área premium finalmente merecedora desse nome. Um morro ao lado trazia bares, estandes de roupas e até redes para os mais preguiçosos. Enquanto o Sepultura tocava, por volta das 16h40, no backstage o guitarrista do Deftones assistia ao show e Mike Bordin, o baterista do Faith No More, contava para os curiosos como conheceu Cliff Burton, o segundo baixista do Metallica.
No presépio ambulante patrocinado pela tecnologia, músicos e público usavam seus smartphones. Durante a apresentação do Deftones, Amy Lee, a vocalista do Evanescence - que tocaria no domingo - disse em seu Twitter que assistia ao show e gostava muito. Às 17h40, o vocalista Chino Moreno entrou embaixo de um sol escaldante. Foi aí que público e bandas começaram a se estranhar. O som do Deftones é ácido na veia. Tudo é arrastado, dramático, hipnótico, propício a lugares fechados com pouca luminosidade. Chino cutucava com pérolas como Hexagram, Passenger e Feiticeira, e fazia a festa do fã-clube. Sujeitos sem camisa tatuados, com piercings e bonés virados. A cada galopada dos ótimos músicos, um campeonato de "quem pula mais alto". Uma bandana é arremessada e Chino a veste: "My name is Tupac."
Uma hora e vinte de shows mais tarde, o público se dispersou ainda mais antes do Jane"s Addiction, banda que trazia pela primeira vez ao Brasil a dupla Perry Farrell e Dave Navarro. Vocalista e guitarrista, respectivamente, entraram com humores opostos. Enquanto Farrell "Matogrosso" parecia ter tomado um ecstasy tamanha a felicidade, Navarro fazia pose de prima donna. Chegou a usar seu iPhone durante Ocean Size e postar no Twitter uma foto de cima do palco. O quarteto formado em 1985 nos Estados Unidos também marcava sua turnê de retorno. As poucas pessoas que conheciam músicas como Stop e Been Caught Stealing, do clássico Ritual de Lo Habitual de 1990, cantavam e tentavam fazer os fãs do Faith No More pararem de vaiar.
Duas dançarinas e uma garrafa de vinho acompanhavam Farrell, que merecia um público maior e mais atento. O virtuoso e polêmico Navarro irritou-se com o câmera do festival, atirou sua palheta na cabeça do sujeito e azedou a apresentação, que teve fim com Jane"s Says e Chip Away. Esta última ganhou mulatas e percussão constrangedora.
O Faith No More entrou, com o perdão do clichê, com o jogo ganho. Patton vestia uniforme vermelho e carregava guarda-chuva e bengala. Na noite anterior, tinha ido se refestelar no show de Caetano Veloso. Era mais um que guardava na voz seu maior trunfo, assim como Moreno e Farrell, impecáveis. Patton se expressar em português: "Porra, caralho", gritava. Dedicou uma música a Zé do Caixão (Evidence, em português), cantou a bossa nova Caralho Voador e emitiu seus sons guturais engolindo o microfone. O fim trouxe Digging the Grave, Out of Nowhere e Patton e o baixista Billy Gould gritando "Palmeiras, Palmeiras" . "Estamos velhos. Esta deve ser nossa última vez no Brasil", falou Patton em mais uma acesso de português. "Faz mais de 10 anos que viemos pela última vez." A primeira foi em 1991. Quanto tempo, quanta diferença.
Bem-vindo aos anos 1990, época em que Faith No More e Jane"s Addiction respondiam pela música de vanguarda. Olhos atiçados por um sol a pino, público quase todo focado na última atração da noite (o grupo liderado por Mike Patton), o Maquinária Festival apresentou suas credenciais na Chácara do Jockey com 10 horas de rock. "Aqui no palco, secos; aí, molhados", brincou Patton, com um português carregado, referindo-se ao grupo de Ney Matogrosso e a chuva. Mancando de uma perna, Patton e o Faith No More tocaram profissionalmente por uma hora e meia. Os sorrisos amarelos trocados entre Epic, Easy e We Care a Lot evidenciavam o porquê da banda não querer dar entrevistas neste retorno. Já basta tocar juntos, falar com a imprensa é demais.
Algumas horas antes, desde os primeiros acorde do Deftones, uma batalha entre o público e as atrações internacionais marcou as apresentações. Distantes do auge, cada um deles mostrou seu repertório sem paralelos nos anos 90. Antes, Nação Zumbi e Sepultura tentavam contagiar um público ainda pequeno. O sol derretia e apresentava dois palcos - o principal e o My Space, onde tocavam bandas iniciantes -, além de uma área premium finalmente merecedora desse nome. Um morro ao lado trazia bares, estandes de roupas e até redes para os mais preguiçosos. Enquanto o Sepultura tocava, por volta das 16h40, no backstage o guitarrista do Deftones assistia ao show e Mike Bordin, o baterista do Faith No More, contava para os curiosos como conheceu Cliff Burton, o segundo baixista do Metallica.
No presépio ambulante patrocinado pela tecnologia, músicos e público usavam seus smartphones. Durante a apresentação do Deftones, Amy Lee, a vocalista do Evanescence - que tocaria no domingo - disse em seu Twitter que assistia ao show e gostava muito. Às 17h40, o vocalista Chino Moreno entrou embaixo de um sol escaldante. Foi aí que público e bandas começaram a se estranhar. O som do Deftones é ácido na veia. Tudo é arrastado, dramático, hipnótico, propício a lugares fechados com pouca luminosidade. Chino cutucava com pérolas como Hexagram, Passenger e Feiticeira, e fazia a festa do fã-clube. Sujeitos sem camisa tatuados, com piercings e bonés virados. A cada galopada dos ótimos músicos, um campeonato de "quem pula mais alto". Uma bandana é arremessada e Chino a veste: "My name is Tupac."
Uma hora e vinte de shows mais tarde, o público se dispersou ainda mais antes do Jane"s Addiction, banda que trazia pela primeira vez ao Brasil a dupla Perry Farrell e Dave Navarro. Vocalista e guitarrista, respectivamente, entraram com humores opostos. Enquanto Farrell "Matogrosso" parecia ter tomado um ecstasy tamanha a felicidade, Navarro fazia pose de prima donna. Chegou a usar seu iPhone durante Ocean Size e postar no Twitter uma foto de cima do palco. O quarteto formado em 1985 nos Estados Unidos também marcava sua turnê de retorno. As poucas pessoas que conheciam músicas como Stop e Been Caught Stealing, do clássico Ritual de Lo Habitual de 1990, cantavam e tentavam fazer os fãs do Faith No More pararem de vaiar.
Duas dançarinas e uma garrafa de vinho acompanhavam Farrell, que merecia um público maior e mais atento. O virtuoso e polêmico Navarro irritou-se com o câmera do festival, atirou sua palheta na cabeça do sujeito e azedou a apresentação, que teve fim com Jane"s Says e Chip Away. Esta última ganhou mulatas e percussão constrangedora.
O Faith No More entrou, com o perdão do clichê, com o jogo ganho. Patton vestia uniforme vermelho e carregava guarda-chuva e bengala. Na noite anterior, tinha ido se refestelar no show de Caetano Veloso. Era mais um que guardava na voz seu maior trunfo, assim como Moreno e Farrell, impecáveis. Patton se expressar em português: "Porra, caralho", gritava. Dedicou uma música a Zé do Caixão (Evidence, em português), cantou a bossa nova Caralho Voador e emitiu seus sons guturais engolindo o microfone. O fim trouxe Digging the Grave, Out of Nowhere e Patton e o baixista Billy Gould gritando "Palmeiras, Palmeiras" . "Estamos velhos. Esta deve ser nossa última vez no Brasil", falou Patton em mais uma acesso de português. "Faz mais de 10 anos que viemos pela última vez." A primeira foi em 1991. Quanto tempo, quanta diferença.
Marco Bezzi (ESTADO DE S. PAULO)
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