Embora lida com mais uma história sobre o Holocausto, o espectador já pode esperar por um registro diferente de todos aqueles já concebidos ao mergulharem no drama “Milagre em Sta. Anna”, dirigido por Spike Lee.
Trabalhando com o maior orçamento de toda a sua carreira (45 milhões de dólares), o projeto se tornou um fiasco de bilheteria e crítica por duas razões. O primeiro veio com a demissão do empresário de Spike Lee posterior ao fracasso do filme. A segunda, que é muito mais grave, surgiu na época de divulgação do longa, onde Spike Lee teceu um polêmico bate boca com o cineasta Clint Eastwood por conta de seu descontentamento em não ver atores negros presentes em “A Conquista da Honra” e “Cartas de Iwo Jima”.
Em “Milagre em Sta. Anna”, a trama persegue quatro soldados negros em plena Segunda Guerra Mundial. Mas se trata de um longo flashback, já que o filme se inicia na década de 1980 com Hector Negron (Laz Alonso) assassinando sem razão aparente um senhor presente na fila da agência de correio onde trabalha. Ele só começa a explicar a razão deste crime quando o jovem jornalista Tim Boyle (Joseph Gordon-Levitt) insiste para que ele justifique este ato. Mais do que isto: pede que também entre em detalhes sobre como adquiriu a cabeça de um monumento italiano valioso, encontrado em sua casa na coleta de alguma prova a ser usada em seu julgamento. É deste ponto que o roteiro, adaptado do livro homônimo de James McBride, ganha formas, encenando o confronto dos nazistas contra a Divisão Búfalo, formado somente por soldados negros, em Toscana.
Se é inédito para Spike Lee o cenário que ele habita em “Milagre em Sta. Anna”, as características de seu cinema continuam presentes. A questão do preconceito, claro, é o que mais predomina na narrativa, com soldados sendo desprezados e virando alvo fácil em campo inimigo por causa de etnia. Além do mais, Lee continua construindo sequências fortes, como o farto massacre de soldados norte-americanos e italianos. A trilha singular de Terence Blanchard, constante colaborador do cineasta, eleva o choque. O problema está na metragem. Ao focar as atenções no pequeno e inocente Angelo (Matteo Sciabordi), “Milagre em Sta. Anna” se alonga, ainda que o personagem seja a chave do filme. Mesmo assim, é acima da média, embora o seu próprio realizador precisa rever os seus conceitos antes de proliferar asneiras para cineastas como Eastwood e Woody Allen.
Uma observação: sendo uma obra importante na filmografia de Spike Lee, é possível localizar diversas presenças especiais no filme, incluindo de atores que já trabalham com o diretor nascido em Georgia em cinquenta e dois anos atrás. John Turturro (“Faça a Coisa Certa”) e John Leguizamo (“O Verão de Sam”) têm participações quase relâmpagos. Mas vale é direcionar todas as atenções para Alexandra Maria Lara, que fez a secretária de Hitler em “A Queda – As Últimas Horas de Hitler” e que aparece fantástica no momento mais assombroso de “Milagre em Sta. Anna”.
Título Original: Miracle at St. Anna
Ano de Produção: 2008
Direção: Spike Lee
Elenco: Derek Luke, Michael Ealy, Laz Alonso, Omar Benson Miller, Pierfrancesco Favino, Valentina Cervi, Matteo Sciabordi, John Turturro, John Leguizamo, Joseph Gordon-Levitt, Kerry Washington, D.B. Sweeney e Alexandra Maria Lara.
Nota: 7.0
FONTE: http://cineresenhas.wordpress.com
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