Sobrenatural: ele tem um ótimo trailer, mas decepciona no resultado final
Terror tenta assustar em uma história sem grandes ideias.
Avaliação: 3
Assim como as comédias românticas, os filmes de terror ou suspense se sustentam em fórmulas desgastadas que, vez por outra, funcionam em sua proposta básica de assustar ou entreter. O diretor James Wan, responsável pelo argumento do então surpreendente “Jogos Mortais”, volta aos cinemas com “Sobrenatural”. Lançado na mesma época do já elogiado e memorável comeback de “Pânico 4”, que segue fórmulas simples do gênero, mas ao mesmo tempo nos traz uma nova experiência para a franquia, repleta de referências e metalinguagem, o filme de Wan se perde no excesso de explicações que beiram o absurdo.
No enredo, uma família comum se muda para uma casa na tentativa de construir uma nova rotina. Josh (Patrick Wilson) e Renai (Rose Byrn) tentam se adaptar ao novo espaço com os filhos. Porém, a calmaria dura pouco. Certa noite, o pequeno Dalton entra em um coma inexplicável. A medicina não consegue diagnosticar o que aconteceu com o garoto. A partir daí, estranhos acontecimentos sobrenaturais passam a atormentar a família e o corpo de Dalton parece ter alguma conexão com os eventos.
O roteiro escrito pelo também ator Leigh Whannell, que foi parceiro de criação de Wan nos três primeiros “Jogos Mortais”, traz em seu ato inicial um marasmo prejudicial à apresentação da história. Os eventos sobrenaturais são óbvios, sempre envolvendo objetos se mexendo ou saindo do lugar. Nada que não estejamos acostumados. As tentativas de assustar quase sempre são frustradas, mas ainda assim gera no público a expectativa que, a partir do momento em que o mistério começar a ser explicado, as coisas possam melhorar. Não melhoram. É impressionante como duas das mentes que colaboraram no breakthrough que foi os três primeiros filmes da franquia de Jigsaw (os únicos dos sete que realmente valem a pena) não tragam um novo ar ao longa em questão.
A partir do momento em que personagens aleatórios explicam o que está acontecendo com a família, é quase vergonhoso a forma como o roteiro força o espectador a acreditar em justificativas infames. E não acaba por aí. O ato final, onde o herói precisa eliminar os “demônios” que cercam a família, destrói a pouca credibilidade da trama. Os argumentos não são suficientes para tais eventos sobrenaturais. Talvez se apropriar de outros clichês (que tal uma casa mal assombrada por espíritos do passado?) fosse uma melhor escolha. Outro deslize é fazer os personagens ditarem os motivos dos eventos como uma verdade irrefutável. Por essa prepotência, o longa não funciona como deveria.
Não há como compreender a participação de Patrick Wilson, que ainda luta pelo reconhecimento, mas que é visivelmente um bom ator. Rose Byrne, na mesma de Wilson, exagera na carga dramática, permitindo até a desconfiança de que ela está louca (que não é pensada pelo roteiro). O elenco infantil pouco colabora com a película, já que Dalton está em coma e as outras crianças são esquecidas da metade para o final da história. O roteirista Whannell ainda faz uma participação na pele de Specs, uma espécie de “caça fantasmas” de Elise, interpretada por Lin Shaye, que possui “poderes” para se comunicar o além que, diga-se de passagem, também não tem explicação. Ela apenas sabe o que está acontecendo e a resistência dos personagens em acreditar nela não dura mais que dois minutos.
Na direção, Wan até tenta criar um clima de tensão com suas tomadas menos convencionais, mas não agrada por sua inconsequência ao utilizar a câmera na mão ou a steadycam sem dar bons resultados. Se há algo de razoável em “Sobrenatural” é a fotografia fria e obscura, que colabora com a direção de arte quase sempre macabra na construção dos cenários. Entretanto, o que parece ser um acerto gera dúvida, já que no terceiro ato percebemos que a falta de qualidade dos efeitos visuais é “maquiada” por essa fotografia escura, como se apagasse os defeitos da computação gráfica. Os recursos sonoros são estridentes, seguindo a linha das atuais produções do gênero que assustam apenas pelo som. O silêncio que predomina em algumas sequências até colabora com a pouca tensão que o filme gera, mas enfraquece o ritmo do roteiro.
Sem surpresas, “Sobrenatural” é apenas mais uma produção que prometia pelo trailer trazer uma pitada a mais para o gênero, mas não sai do lugar comum. Aliás, o longa regride em sua proposta, sendo inconsequente chegar aos cinemas em uma época em que o espectador está cada vez mais esperto não só em termos de história, mas de linguagem cinematográfica.
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Diego Benevides é editor geral, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação e estudioso em Cinema e Audiovisual. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.
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