Avaliação: 4


Pensar em neurose no mundo da Sétima Arte significa pensar em Woody Allen. Mas o cinema norte-americano também conta com outro diretor que adora retratar personagens com extrema necessidade de consultar um psicanalista. James L. Brooks vem tentando se especializar no assunto nas duas últimas décadas, seja por meio de um nova-iorquino mal-humorado e compulsivo, como em “Melhor é Impossível” (1997), ou de uma dona de casa preocupada pela chegada de uma bonita imigrante no seu lar, como em “Espanglês” (2004).

Falta a Brooks, porém, mais humor, inteligência e carisma, itens que sobram nos filmes de Allen (mesmo nos mais atuais). Neste “Como Você Sabe”, ele opta por uma linha mais comercial, arriscando-se pelo concorrido universo das comédias românticas. Resultado: uma história de ideias e diálogos confusos, longa demais e atraente de menos, que desagradará do espectador mais seletivo, em busca de uma obra alternativa, ao menos exigente, sedento por deixar-se envolver por uma mesmice que parece não ter fim.

A trama centra-se em um triângulo amoroso. Na ponta principal está Lisa (Reese Witherspoon), uma famosa jogadora de softball que já teve a honra de integrar a seleção norte-americana mundo afora, mas que no momento está mais próxima da aposentadoria. Por outro lado, sua vida amorosa nunca decolou, chegando rapidamente a se envolver com alguns atletas. Um encontro casual marcado com o empresário George (Paul Rudd) pretende modificar essa situação, o que acaba inicialmente não acontecendo.

O problema é que George também vem passando por graves problemas profissionais, que ainda não são amenizados pela vida pessoal, especialmente devido à turbulenta relação com o pai Charles (Jack Nicholson). Na última ponta do triângulo, encontra-se Matty (Owen Wilson), um mulherengo jogador de beisebol com quem Lisa tenta ter uma relação estável. Coincidências, desavenças e frustrações, no entanto, acabam colocando George de volta no caminho da moça, deixando-a em dúvida sobre qual a melhor escolha.

Já neste sentido, o roteiro do próprio James L. Brooks não alcança os êxitos. Mesmo fugindo de estereótipos, o filme, ainda em seus primeiros minutos de duração, deixa claro quem é o par apropriado para a protagonista. Na verdade, a pretensa maturidade requerida pelo script é apenas uma “fachada” para personagens donos de atitudes dignas de adolescentes em suas primeiras incursões amorosas. E a característica vem através de cenas recheadas de diálogos, que deveriam propor discussões e reflexões, mas que, no máximo, causam estranhamento.

A intenção é desviar de um romantismo óbvio, dar sensatez a pessoas que já viveram o bastante para não deixar-se iludir com um destino que guardaria episódios exclusivamente felizes para suas vidas. Mas o que se vê são três personagens chatos (dois deles neuróticos e outro a caminho), sem qualquer tolerância para um relacionamento, que falam qualquer besteira que venha à cabeça, sempre achando que são donos da verdade. Por isso, “Como Você Sabe” vira um desastroso vai e vem amoroso com pouca química entre os atores, que ainda partilham tramas paralelas que para nada servem.

Jack Nicholson, em especial, é um desperdício. Depois de dois trabalhos com o cineasta, pelos quais ganhou dois de seus três Oscar, o ator vive um pai e empresário fraudulento, com senso ético desvirtuado, mas sem qualquer justificativa para agir de tal forma. Nicholson protagoniza, ainda, piadas sem sucesso do roteiro, como a medonha cena do parto da assistente de George. A personagem, aliás, interpretada por Kathryn Hahn, é mais uma com grau de estresse acima do limite aceitável. A sequência em que ela quase soca Nicholson é a constatação do exagero do roteiro.

Dos atores, o único que escapa é Paul Rudd, com timing cômico mais acertado, mas ainda assim próximo do overacting no qual Reese Witherspoon escorrega. Já Owen Wilson surge sem graça, incapaz também de transparecer qualquer paixonite pelo qual Matty diz estar acometido. Parte da culpa não pode ser creditada apenas aos atores. A direção de James L. Brooks contribui consideravelmente para o péssimo resultado do longa. Sem qualquer talento no comando das câmeras, o cineasta entrega um filme “arrastado”, que parece não ter fim (são longos 116 minutos de duração).

Composto basicamente por diálogos, “Como Você Sabe” não conta com passagens de tempo que aceleram o ritmo da narrativa, muito menos com um trilha sonora relevante. Vira, enfim, uma tortura cinematográfica com personagens neuróticos e nada carismáticos e um desfecho que contradiz com a proposta do roteiro. A demora do filme na chegada ao Brasil (estreou em dezembro nos EUA) já era um alerta para a qualidade duvidosa, que confirma-se com a esperada descida dos créditos.

____
Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.