As histórias de perseguição às jovens bruxas ganharam sua adaptação mais vergonhosa.
Assistir ao novo filme do astro Nicolas Cage é uma experiência curiosa. Imagine uma trama cujos primeiros minutos exibissem uma fotografia interessante de tons alaranjados, um cenário macabro e uma sequência bem desenvolvida de enforcamento de bruxas. Dez estrelas talvez não fossem suficientes para definir a sensação de convencimento e boas expectativas causadas pela projeção. Por volta do seu quarto ou quinto minuto, uma reviravolta inesperada e suficientemente grotesca para não assustar ninguém retira ao menos uma estrela da pontuação final. E é dessa gradativa perda de pontos que o público deve tirar sua conclusão sobre a qualidade do produto final.
O clima apreensivo trabalhado nos minutos iniciais do primeiro ato pode ser justamente posicionado entre as melhores introduções de filmes de suspense. Os outros 90 minutos de projeção são tão descartáveis quanto a parcela inferior da enxurrada de filmes de horror que recebemos todos os anos. “Caça às Bruxas” é um filme vergonhoso para todos aqueles envolvidos em sua realização e audiência.
A perseguição às mulheres acusadas de bruxaria no período medieval é assunto que desperta natural curiosidade e interesse. Acreditando no apelo de sua temática junto ao público, o roteirista Bragi F. Schut e o diretor Dominic Sena tentam narrar a história de uma jovem punida pela Igreja por supostamente ter realizado um pacto com o demônio e ter levado a praga ao vilarejo. Entre pessoas de rosto desfigurado e aves de rapina que anunciam o destino do lugar, dois desertores vividos por Cage e Ron Perlman recebem a tarefa de conduzir a bruxa até um mosteiro distante, para seu julgamento e sacrifício.
Desde que bem adaptada, a proposta inicial do roteirista poderia fazer de “Caça às Bruxas” um filme assustador por seus detalhes e misterioso em seu argumento principal. A direção de Sena conseguiu distanciar dos personagens qualquer possibilidade de uma história convincente e comprometeu a qualidade de uma trama curiosa. O que vemos é uma sobreposição de falhas técnicas e tomadas pouco ousadas. Como reflexo ao trabalho incipiente do diretor, é difícil conseguir se envolver pelo clima sombrio das situações e momentos de ação.
Um bom elenco ainda conseguiria elevar a qualidade de um projeto falido, mas colocar tal responsabilidade nas mãos vacilantes de Cage não foi a decisão adequada para a situação. Passando longe de oferecer ao público uma atuação que fizesse esquecer os inúmeros problemas na execução do filme, o ator prova que sua temporada de sucesso terminou em 2002, quando recebeu indicações ao Oscar, Globo de Ouro e Bafta por “Adaptação”. Desde então, a carreira de Cage parece construída sobre um número excessivo de filmes ruins e personagens vergonhosos.
A fotografia em “Caça às Bruxas”, ao contrário do que se espera de um filme ambientado na época medieval, não colabora com a criação de ambientes sombrios. Entre os muros das cidades e nas grandes planícies, a luminosidade excessiva atrapalha a proposta assustadora do roteiro. Nas sequências desenvolvidas entre a névoa de uma floresta densa, alguns feixes de luz azul escapam das frestas entre as árvores e dão ao momento ares espectrais desnecessários e desafinados com a situação.
Entre minutos de êxito e horas inteiras de problemas, o saldo final de pontos positivos em “Caça às Bruxas” é ínfimo. As sequências finais de luta corporal entre Cage e algo que não pode ser citado – para não comprometer o desfecho da história – representam bem o que o projeto inicial almejava e o que foi conseguido pelo diretor. Com recursos inferiores e em tempos remotos, Bergman filmou uma bruxa muito mais assustadora.
Jáder Santana é estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e crítico de cinema do CCR desde 2009. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.