Cantei durante cinco anos na Modern Sound, todos os sábados, fiz exatamente 265 shows na casa. Em 2001 inaugurei o horário da tarde, de 16h às 20h, com a Délia Fischer e o Zé Luiz Maia, ainda sem bateria, pra ver se funcionava. Fui a primeira e única cantora fixa da casa, que só tinha instrumental nos outros dias. No começo não ia ninguém. Seis meses depois ganhamos o direito à bateria. Entrou o Kleberson Caetano.Vi o lugar pegar, devagar, e chegar a ter 200 pessoas, sábado após sábado, bombando! Dois anos depois, a Delia saiu, entrou o Paulo Malaguti Pauleira. O Kleberson saiu, entrou o Cacá Colon. O Zé ficou impedido de continuar, entrou o Mattosão. Hoje tenho dois baixistas, um luxo!
Eu que sempre ouvi de tudo, sempre me apaixonei por estilos e praias diversas, tive uma oportunidade que raramente é dada a uma cantora: residência, formação de público, teste de repertório, numa casa excelente. O que era pra ser música ambiente virou show. O repertório foi crescendo pra todos os lados: muitos standards de jazz, mpb, samba, Tom Jobim, Cole Porter, Cartola, Toninho Horta, Joyce, Thelonious Monk, Carole King, James Taylor, Stevie Wonder, Chico Buarque, tudo o que se pode imaginar. Tocamos a seleção de Bossa Nova do Ruy Castro, que disse que quando morresse, em vez de ir pro céu, queria ir pra M.S. Tomamos muitas caipirinhas, comemos muito salmão com alcaparras, muito carpaccio, muita cerveja gelada, até fumar podia.
Amadureci como artista, experimentei emissões, respirações, projeções, timbres, ganhei intimidade com o fazer música sob qq intempérie. Deprimida, feliz, doente, cansada, maravilhosa, de saco cheio, apaixonada, sempre lá. Fiquei 5 anos sem sair à noite na sexta, pra ficar pronta pro sabado. Recebemos canjas de tts músicos maravilhosos, que eu nem saberia mais enumerar, mas lembro do Mike Shapiro, do Idriss Boudrioua que ficava pra tocar You don’t know what love is, do Carlos Balla, do Itamar Assiere, do Alex Rocha, do Bruno Migliari, do Marcelo Costa, da Leny Andrade, do Marcelo Mariano, do Henrique Band, do Glaucus Linx, e muitos mais que fariam essa lista ficar imensa e estrelada.
Tinha gente que ia toda semana, anos e anos a fio. Isso sem falar nos amigos que fizeram da Modern um ponto de encontro. Todo sábado eu recebia visitas deliciosas, que viravam noitadas intermináveis depois que a casa fechava. Vi minha sobrinha crescer ali, correndo entre as mesas e os discos. Fizemos casamentos, uma amiga saiu de lá pra maternidade, tivemos amores, desamores, amantes, desamantes, tudo aconteceu!
Serei eternamente grata à Modern Sound e a tudo o que vivi naqueles felizes 5 anos, que de certa forma perduram até hoje, no patrimônio profissional mais valioso que construí na minha vida, o agora Andrea Dutra Quarteto, que em 2011 faz 10 anos de atividades, com a bola lá no alto, agora residente mensal no especialissimo Triboz, onde continuamos a nossa saga de tocar música bonita, seja ela qual for. Eu, Pauleira, Mattoso e o Cassius Theperson, que assumiu a bateria no ano passado.. Todo primeiro sábado do mês.
Qual não foi a minha surpresa quando cheguei pra cantar no Triboz e vi aquelas carinhas do tempo da Modern, na platéia, ainda fiéis. Muita emoção, muita felicidade.
O show sempre vai continuar, mas agora, quando o fechamento da Modern Sound é fato a ser consumado no dia 31, não pude deixar de me emocionar com o filme da minha vida, que passou dentro de mim, com a melhor trilha sonora que alguém já concebeu. Music in me.
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