quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Batalha do Facebook



Em 2008 o Facebook possuía 70 milhões de usuários e seu fundador, Mark Zuckerberg, era acusado de ter roubado ideias de colegas de faculdade. A história foi investigada pela Rolling Stone EUA e publicada em junho daquele ano. Hoje o Facebook acumula 500 milhões de perfis e a saga de seu criador se tornou tema de filme de Hollywood



É uma tarde ensolarada no centro de Palo Alto, Califórnia, e dentro das paredes grafitadas do quartel-general do Facebook, trabalhadores estão pendurando luzes e arrumando as mesas para as taças de champanhe. Amanhã à noite, haverá uma festa para celebrar o aniversário de 4 anos do Facebook. Mas em um prédio próximo - um dos estilosos escritórios do site de rede social não muito distante do campus da Universidade de Stanford - o fundador da companhia está alheio às preparações.




Andrew Garfield é Eduardo Saverin em A Rede Social, de David Fincher, previsto para 3 de dezembro no Brasil



Mark Zuckerberg, cabeça do império Facebook, está sentado na segurança de um pequeno escritório envidraçado, curvado sobre uma caixa de poliestireno com comida para viagem. Parece muito mais um garoto dentro de uma bolha do que o CEO de uma corporação que vale tanto quanto a General Motors. Com apenas 24 anos, Zuckerberg tem cara de bebê, pescoço bem longo e orelhas grandes. Desde que colocou o Facebook no ar de seu dormitório em Harvard quando ainda cursava o 2º ano, em 2004, ele foi eleito pela revista Forbes o mais jovem bilionário do mundo. Ele fez essa fortuna ao criar o Facebook para ser fácil de usar e viciante como droga. Todos os dias, milhões de usuários se conectam para espiar os perfis de seus amigos e postar uma rica quantidade de informações sobre si próprios: números telefônicos, gostos, agendas românticas. Zuckerberg e sua equipe trabalham para extrair todas essas valiosas informações dos consumidores para vorazes anunciantes. Com o número de usuários crescendo na razão de centenas de milhares por dia, não é de se surpreender que Zuckerberg tenha sido taxado como o "Bill Gates desta geração", outro garoto prodígio desistente de Harvard que mudou a cultura e acumulou riqueza e poder em grandes proporções. "Se vai haver outro Bill Gates", diz o ex-presidente de Harvard Lawrence Summers, "Mark é o mais próximo disso". E, como Gates em seu início de carreira, Zuckerberg enfrenta sérias alegações de que sua criação foi baseada em ideias roubadas.



Em um processo que um juiz descreveu como uma "briga de família", três estudantes de Harvard alegaram que Zuckerberg surrupiou suas ideias depois que contrataram o rapaz para programar um site de rede social que eles estavam criando. "Fomos passados para trás homericamente", atestou Divya Narendra, um dos estudantes. E, em abril de 2008, outro colega, Aaron Greenspan, entrou com uma petição de cancelamento da patente do Facebook, alegando que havia inventado um serviço similar meses antes.



ORGULHO NERD... Mark Zuckerberg, criador do Facebook, na porta de sua empresa, em Palo Alto (Califórnia). Em junho último, a rede de relacionamentos comemorou a marca de 500 milhões de perfis criados desde 2004



As disputas legais pelo império de Zuckerberg pintam um retrato curioso do homem que se colocou como o responsável por nosso futuro social. Uma das mais populares ferramentas sociais do mundo foi lançada por um brilhante nerd solitariamente sentado em um quarto de dormitório. De seus dias na Phillips Exeter Academy, onde era conhecido como o melhor programador da escola, Zuckerberg se alimentou de uma poderosa combinação de isolamento e senso de direito para superar seus companheiros. Ele é um supernerd nitzchiano da era digital - um universitário que passou a perna no sistema, impulsionado pela compreensão primária de como programar computadores para servir às necessidades humanas. Teria o império da rede social de Mark Zuckerberg, como tantas outras grandes fortunas na história, sido fundado através do crime?



O Facebook pode ter nascido sob circunstâncias controversas, mas há um momento inquestionável em sua concepção: uma terça-feira à noite em Harvard, em que um garoto prodígio de 19 anos sentou-se em frente a seu computador, deprimido, sozinho e prestes a ficar bêbado. Era o outono de 2003, e a World Wide Web estava apenas começando seu caso de amor com as redes sociais.


... E ORGULHO FERIDO Os gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss processaram Zuckerberg e faturaram US$ 65 milhões em 2008. Recentemente, eles reabriram o processo na justiça norte-americana




Em momentos de necessidade, duas coisas haviam feito Mark Zuckerberg perseverar: um obsessivo amor pela tecnologia e uma quase implacável veia competitiva (entre seus interesses pessoais, ele certa vez listou "derrotar meus adversários"). Sua relação com computadores vem desde a 6ª série, quando conseguiu sua primeira máquina e comprou uma cópia do guia de programação C++ para Principiantes. Na 9ª série, mergulhando de cabeça no curso de latim, ele havia criado uma versão computadorizada do jogo de tabuleiro War, ambientado no Império Romano. Estava sempre imaginando pequenas ferramentas capazes de fazer tudo mais rápido, "bobeiras", como ele as chamava. Em seu último ano em Exeter, ele e o colega de quarto, Adam D'Angelo, programaram um software para um MP3 player que era capaz de aprender o gosto do ouvinte e construir uma biblioteca digital baseada em seleções anteriores. Várias companhias mostraram interesse no aplicativo, mas D'Angelo e Zuckerberg não tinham intenção de vendê-lo. Eles não se importavam com dinheiro. Importavam-se com o código.



Mas em Harvard, Zuckerberg viu-se cercado por centenas de calouros cujos currículos eram tão impecáveis quanto o dele. Era apenas mais um na multidão. No segundo ano, ele havia se refugiado no domínio onde ficava mais à vontade, construindo um site chamado Coursematch.com que permitia que os estudantes fizessem inscrições online nos cursos e vissem quem mais estava se inscrevendo para a mesma classe. O projeto terminou de maneira abrupta - Zuckerberg rodava o site a partir de seu laptop, que logo travou por conta da demanda. Mas a experiência lhe ensinou uma lição importante: o que acontecia online não tinha a ver apenas com programação. Tinha a ver com o que funcionava bem com as pessoas. A despeito de sua virtuosa habilidade de programação, Zuckerberg resolveu não cursar ciências da computação. Em vez disso, escolheu psicologia.



A ARTE IMITA A VIDA Jesse Eisenberg interpreta Mark Zuckerberg




Os cursos não o ajudaram em sua vida pessoal. Sentado em seu dormitório naquela noite de 2003, Zuckerberg havia tomado um fora de uma garota recentemente. Ele começou a beber e mais uma vez procurou abrigo no reino que jamais o havia deixado na mão. Conectando em seu blog, criou um post chamado "Harvard Face Mash: The Process". Seu plano era tão simples quanto vingativo: criar um site chamado Facemash.com, invadir os arquivos de Harvard, baixar fotos de seus colegas de classe e postá-las ao lado de fotos de animais de fazenda para dar notas e eleger o mais atraente.



Você lê esta matéria na íntegra na edição 50, novembro/2010

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