quinta-feira, 18 de novembro de 2010

XVI GOIÂNIA NOISE FESTIVAL



Goiânia Noise Festival chega à 16ª edição com programação variada e show inusitado de Gilberto Gil com o trio Macaco Bong



Em 1977, o punk destronou o rock do período com muita barulheira e a palavra de ordem: "faça-você-mesmo", o do-it-yourself. Foi a senha para o surgimento de rios de bandas e de gêneros que, por outra via, talvez nunca tivessem acontecido. No Brasil, tal fenômeno veio ocorrer plenamente apenas nos anos 90, com o advento daquela que, a essas alturas, poderia ser chamada de "A Era dos Festivais de Rock". O faça-você-mesmo foi trocado pelo coletivo "façamos-por-nós-mesmos" - embora muitos ainda prefiram o lema "fazendo-por-si-mesmo". Ao lado do recifense Abril Pro Rock e do brasiliense Porão do Rock, o Goiânia Noise Festival que, em 2010, chega à sua 16° edição, é um dos pilares desse levante. Os festivais revelam boa parte das bandas formadoras da atual, e caudalosa, cena do rock independente brasileiro. "A premissa dylanesca 'pedra que rola não cria limo' continua mais válida que nunca no Goiânia Noise", metaforiza um dos organizadores, Márcio Jr., também vocalista da banda Mechanichs.



As noites mais movimentadas do "Noise", como é chamado carinhosamente pelos goianos, rolarão em Goiânia no próximo fim de semana, entre os dias 19 e 21 de novembro. O festival desenrola-se dentro da programação da 3ª Conferência Brasil Central Music, iniciada no último dia 13, na capital. A Brasil Central este ano é correalizadora do Noise. No line-up, bandas e nomes importantes, como Krisiun, Musica Diablo, Otto, Nina Becker, Cólera e, para fechar, os californianos The Mummies, que tocam pela primeira vez no Brasil. Os Mummies (que inventaram seu próprio estilo: o "budget rock"), antes, tocam em São Paulo nesta quinta, 18. E quem são os esfarrapados integrantes dos Mummies? Eles não revelam suas faces nem à base de vodu: "Múmias são múmias", criptografaram à imprensa. É sabido, porém, que detestam toda espécie de tecnologia. Quem os viu em ação garante: a performance dos "mumificados" é das mais divertidas.



Este ano, o Goiânia Noise Festival tem orçamento estimado em cerca de R$500 mil e deve arrastar mais de 12 mil fiéis roqueiros para a rumorosa festa de guitarras. O encerramento, no domingo, tem tudo para ser histórico. O ex-punk da periferia (também ex-Ministro da Cultura) Gilberto Gil será arremessado para os anos 60/70, época na qual vingaram os grandes festivais da música popular brasileira, para dividir o palco com o power trio cuiabano Macaco Bong (o encontro também aconteceu em São Paulo, no último dia 14; clique aqui para saber como foi o show). O déjà vu (para Gil) acontecerá na Universidade Federal de Goiás. A "vibe" da apresentação vem sendo incensada como foi a dos Mutantes quando acompanharam o baiano em "Domingo no Parque", no III Festival de Música Popular Brasileira, em 1967. Momento ainda mais importante para a Macaco Bong, que há muito tempo vem "boxeando" no cenário independente.



A banda Vespas Mandarinas, que tem o ex-Forgotten Boys Chuck Hipolitho como frontman, tocará pela primeira vez no Goiânia Noise. "Para falar a verdade", assume Chuck, "só percebi o valor de festivais como o Noise há pouco tempo. Foi quando realmente me aproximei da organização e do conceito. Tinha tocado lá umas duas ou três vezes. Mas só agora percebo o valor que agrega à banda ter sido escalada". Para Chuck, o convite mostra que as coisas estão dando certo: "Fora que é rara oportunidade para reencontrar amigos antigos, gente talentosa e conhecer novas bandas. Sempre vale a pena. Sempre muito rock and roll", festeja.



A Conferência Brasil Central Music reúne também alguns dos festivais (menores) de música da cidade: Release Alternativo, Pé Rachado, Goyaz Festival e Música no Campus, entre outros. Nesta quarta-feira, 17, a programação terá três encontros especiais: Superguidis com Felipe Seabra, da Plebe Rude, Lucy and The Popsonics com John Ulhoa, do Pato Fu, e Diego de Moraes e O Sindicato. E, para quem curte um bom "falatório", haverá palestras, oficinas e muitos debates. Durante o dia, bandas participarão de palestras, workshops e gravações acompanhadas por profissionais da música nacional e mundial. Entre eles, o produtor Pena Schmidt, o guitarrista Peter Shelley (Buzzcocks) e a guitarrista Viv Albertine (do The Slits, cuja vocalista, Ari Up, morreu recentemente) - os dois últimos, deflagradores do tal do-it-yourself citado acima.



"Lembro a primeira vez que participamos do Goiânia Noise, em 2007. Fiquei impressionado com a cidade e com a estrutura do festival. Serve de exemplo para outros festivais independentes feitos no Brasil", afirma o baixista da Superguidis, Diogo Lachance. Outra banda que guarda ótima relação com o Noise é a mineira Pato Fu: "Somos das bandas que mais fazem esse meio-de-campo mainstream/alternativo. Por isso estamos sempre presentes em festivais assim. Tocamos no Noise em 2007 e, agora, vou tocar com a Lucy and the Popsonics com muito orgulho", diz o compositor John Ulhoa. Essa será a primeira vez que, juntos, tocarão o repertório de Fred Astaire, novo álbum da banda brasiliense, cuja produção é de John. "Estou curioso para ver como estão soando com baterista de 'carne e osso' [antes havia apenas uma bateria eletrônica]. Era uma coisa que pensamos desde as gravações: que seria esse o passo seguinte, e inevitável, para a nova sonoridade que eles têm a partir de agora".



O Walverdes, que também acabam de lançar disco de inéditas, Breakdance, é outro velho convidado do Goiânia Noise. E esse ano vai tocar de novo. "Tocar no festival é sempre muito bom, a qualidade e a diversidade só aumentam com o passar dos anos. Deverá ser nossa quarta ou quinta participação e, para quem gosta de Walverdes, é garantia de que assistirá nosso show em alto e bom som", promete o baterista Marcos Rübenich, que também é produtor da porto-alegrense Wannabe Jalva.



Quanto à polêmica questão do pagamento dos cachês às bandas, o presidente da Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin), Fabrício Nobre, afirma que, nas últimas quatro edições do festival, 100% dos artistas tiveram cachê ou ajuda de custo. "Sempre oferecemos também a melhor hospedagem, alimentação, traslado local e a melhor equipe técnica da região."



Nasce o "monstro"

Criado em 1995, o Goiânia Noise Festival mudou, de modo particular, a história do rock goiano. Em sua primeira edição, dez bandas de Goiânia, São Paulo e Distrito Federal se apresentaram para um público estimado em quatro mil pessoas. Após anos de intenso e perseverante trabalho realizado pela Monstro Discos, passaram pelo evento nomes nacionais de peso, a exemplo de Ratos de Porão, Los Hermanos, Sepultura e Patrulha do Espaço, além de dezenas de artistas internacionais de países como Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Argentina, Chile, Uruguai, Finlândia, Bélgica e Escócia.



Leo Bigode, produtor da Monstro, avisa que o selo passará a investir em uma relação mais "íntima" com os seus fãs. Leo conta que, ainda em 2010, o selo vai lançar um portal onde fãs poderão ter vantagens como, por exemplo, receber em casa postais, adesivos e CDs, além de ter acesso a uma coletânea de inéditas grátis para download.



Confira abaixo a programação completa do 16º Goiânia Noise Festival:



Quarta-feira, 17 de novembro

Compacto Petrobras

Centro Cultural Martim Cererê

Teatro Pyguá

1h - Macaco Bong (MT) e convidados: Vitor Araújo (PE) + naipe de metais dos Móveis Coliniais de Acaju (DF) + Jack - Porcas Borboletas (MG)

0h - Lucy and The Popsonics (DF) + John Ulhoa - Pato Fu (MG)

23h - Superguidis (RS) + Felipe Seabra - Plebe Rude (DF)

22h - Gloom (GO) + Diego de Moraes e O Sindicato (GO)



Quinta-feira, 18 de novembro

Unconvention Factory Brasil

Centro Cultural Martim Cererê

1h - Violins (GO)

0h20 - Mugo (GO)

23h40 - Johnny Suxxx and The Fucking Boys (GO)

23h - Hellbenders (GO)

22h20 - Dyskreto (GO)

21h40 - Space Monkeys (GO)

21h - Hot & Hard Co. (GO)



Sexta-feira, 19 de novembro

Centro Cultural Martim Cererê

2h - Krisiun (RS)

1h10 - Otto (PE)

0h30 - Black Drawing Chalks (GO)

0h - Nina Becker (RJ)

23h30 - Walverdes (RS)

23h - Viv Albertine (The Slits) (Reino Unido)

22h30 - Volantes (SP)

22h - El Mató A Un Policia Motorizado (Argentina)

21h30 - Spiritual Carnage (GO)

21h - Bang Bang Babies (GO)

20h30 - Fígado Killer (GO)

20h00 - Banda selecionada pelo Toque No Brasil

19h30 - Trivoltz (GO)

19h00 - Folk Heart (GO)



Sábado, 20 de novembro

Centro Cultural Martim Cererê

2h - Musica Diablo (SP)

1h10 - The Mummies (EUA)

0h30 - Cólera (SP)

0h - Mechanics (GO)

23h30 - 3 Hombres (SP)

23h - Do Amor (RJ)

22h30 - Vespas Mandarinas (SP)

22h - Ecos Falsos (SP)

21h30 - Bandanos (SP)

21h - Dizzy Queen (ES)

20h30 - Cuartro Invitados (Argentina)

20h - banda selecionada pelo Toque No Brasil

19h30 - Ímpeto (GO)

19h - Posthuman Tantra (GO)



Domingo, 21 de novembro

Centro de Cultura e Eventos da UFG (Campus 2)

19h- Gilberto Gil (BA) + Macaco Bong (MT)



Ambiente Skate Shop

19h - Galinha Preta (DF)

18h15 - WxCxM (GO)

17h30 - Ultravespa (GO)

16h45 - Radiocarbono (GO)

16h - Black Queen (GO)


Por Cristiano Bastos, de Goiânia (GO)


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