sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Federal - Brasil - 2010






Um pretensioso filme policial que falha em absolutamente todos os quesitos, até na data escolhida para ser lançado.


Apesar de suas diversas fragilidades, o mais novo filme policial brasileiro não poderia ter sido lançado em pior hora, apenas três semanas depois do maior sucesso de público e crítica do cinema nacional em anos, “Tropa de Elite 2”. As semelhanças das ideias geram inevitáveis comparações e evidenciam os erros de “Federal”, o maior longa brasiliense já realizado (com orçamento de R$ 5 milhões). A impressão é de um roteiro confuso e raso em suas reflexões, elenco absolutamente perdido, mesmo contando com um grande “astro” local e outro internacional, e direção medíocre, responsável por sequências que geram risos de deboche pela total falta de destreza técnica.



A sinopse não poderia ser menos original, dando luz a uma trama que mistura tráfico, corrupção e muitos tiros. Um massacre de uma família dá vazão a uma investigação liderada por Vital (Carlos Alberto Riccelli), delegado da polícia federal brasileira. Tudo estaria relacionado a uma bem articulada quadrilha que trafica drogas em plenas ruas de Brasília, sob o comando de Béque Batista (Eduardo Dussek), presidente de uma Organização não-governamental de fachada e assíduo frequentador de cultos evangélicos.



Para colocar Batista na prisão, Vital monta uma equipe teoricamente incorruptível. São eles: Daniel (Selton Mello), Rocha (Cristovam Netto) e Lua (Cesário Augusto). Enquanto buscam provas suficientes para incriminá-lo, além de se defenderem dos tiros do crime organizado e torturarem sem pudor, os quatros policiais têm de lidar com problemas pessoais, indo dos cuidados com a esposa grávida a problemas com alcoolismo, do descontrole comportamental ao “fraco” por mulheres estrangeiras viciadas.

Ao longo de sua uma hora e meia de duração, “Federal” revela um mundo já explorado com maior competência por outras obras brasileiras, seja do ponto de vista policial ou dos traficantes. No entanto, o roteiro de Érico Beduschi, Heber Trigueiro e Erick de Castro, que também dirige o filme, é tão confuso que reflexões acerca de questões que motivam e alimentam esse universo criminoso passam ao largo. Temos apenas personagens pontuais e extremamente desinteressantes que compões esses papéis, com direito a todas as caricaturas possíveis.



Então, o que deveria (e que eventualmente parece querer ser, vide o medonho plano final em Selton Mello) ser uma obra questionadora vira uma mera história policial que apenas surpreende quando se desfaz um de seus personagens principais antes da teórica hora “recomendada”. Além disso, a própria trama se perde ao desenvolver seus mistérios, trazendo na inexplicada cena inicial um belo reflexo do que será visto adiante. Quem é aquela família assassinada? Qual a relação deles com o tráfico? Entre perguntas jamais respondidas, o roteiro desaba.



A mesma sequência citada acima serve ainda para exemplificar o trabalho lamentável realizado por Erick de Castro, que justifica porque jamais havia se arriscado pela ficção anteriormente. Se o objetivo era construir belos planos juntamente com um ritmo intenso para empolgar o público de imediato, ele não o faz, tornando-se espantoso quando o título do filme surge de repente na tela. E dessa forma o longa continua. Ou melhor, depois tudo piora, especialmente quando a ação é inserida pelo roteiro. Chegam a ser vergonhosas essas sequências, que mais parecem ter sido feitas por amadores.


Com uma edição que opta pelo maior número de cortes possível, além de planos estáticos que passam longe de demonstrar algum realismo, o diretor faz de “Federal” um filme B com todas as letras. Até mesmo quando o roteiro foge do lugar comum e busca chocar, o cineasta impossibilita que essa sensação seja exalada pelos personagens e transponha a tela. Dessa forma, os dramas privados dos policiais não poderiam estar mais deslocados, sendo preferencial descartá-los na edição final da película.

Erick de Castro é ainda um péssimo diretor de atores e todos acabam prejudicados por ele. Até mesmo Selton Mello parece perdido como um homem honesto que não hesita em usar drogas em sua privacidade. Carlos Alberto Riccelli também nada pode fazer como um protagonista de destino trágico. Riccelli tem a oportunidade de dividir a tela com Michael Madsen, ator que já trabalhou com Quentin Tarantino e que aqui faz às vezes de vilão estrangeiro que compara o Brasil a Colômbia e ainda se aproveita das mulheres locais, em uma participação, no mínimo, estranha.

Passando a quilômetros de convencer na ação, no drama e na comédia, “Federal” pode ser, sem pestanejar, classificado como uma “bomba” do cinema nacional. A coisa fica ainda pior quando temos um exemplar imensamente melhor na sala ao lado. Tudo é tão mal feito que é preferível reassistir a “Tropa de Elite 2” algumas vezes do que ter a decepção de conferir uma obra policial de péssimo gosto.

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