quarta-feira, 18 de novembro de 2009

2012: uma catástrofe espetacular


Os maias descobriram. Os malucos com as placas nas ruas do mundo todo avisaram. Ninguém acreditou e o mundo vai para o beleléu. E quem melhor que o alemão Roland Emmerich para apagar as luzes em 21 de dezembro de 2012? É um espetáculo visual, com edição agitada e emocional e a certeza de ser impossível não reagir perante tamanha destruição: não importa se o resultado for risada, assombro ou puro ódio. É o auge das pipocadas de Emmerich, que já avisou ao Cinema.com.br que deixa os filmes do gênero depois de 2012. Foi demais até para ele.



Entretanto, o anúncio deve ser encarado com preocupação e não celebração, mesmo por quem desgosta de seu estilo. Emmerich tem carregado o gênero dos filmes catástrofe nas costas ao longo dos últimos 13 anos em Hollywood, com bons momentos como Independence day e O dia depois de amanhã e escorregadas inesquecivelmente ruins como 10.000 a.C. e o chuvoso Godzilla. Por mais que Cloverfield – Monstro, de J.J. Abrams, tenha apresentado a versão norte-americana para os filmes de monstro, a consistência e insistência de Emmerich conta mais ao longo prazo que o experimentalismo de câmera na mão de Matt Reeves.


Sua decisão de abandonar o gênero levanta a pergunta: quem pode assumir o cargo de Mestre da Catástrofe, abertamente repudiado por Emmerich? Michael Bay poderia ser um dos nomes, mas sua predileção por filmes de ação limita seu potencial destrutivo; Stephen Sommers não gosta da ideia; e J.J. Abrams vai passar alguns anos ocupado com os próximos Star trek. Aparentemente, a cadeira fica vazia. Claro que interessados, especialmente novatos, não faltam, mas Emmerich tem algo valioso – a confiança dos estúdios, que sabem de sua capacidade para realizar projetos dessa magnitude.


Isso fica claro em 2012, filme no qual Emmerich e Harald Kloser — roteirista e compositor — encenam um possível fim dos tempos apocalíptico, no qual a Terra sofre mudanças geográficas drásticas e, por consequência, vai dar cabo da maior parte da humanidade. O fenômeno astrofísico que vai deflagrar a tragédia foi identificado previamente, mas, como parte da receita para o desastre, evitá-la é impossível e salvar parte da raça humana é a única opção. Emmerich optou por soluções com grande base na realidade financeira do planeta, afinal, quem poderia patrocinar a construção do plano de salvação além do setor privado e de trilhardários ao redor do mundo? É a lei do mais forte... ou melhor, do mais rico. O presidente norte-americano, vivido por Danny Glover — em grande performance — perdeu a esposa anos antes e vive ao lado da filha, Tandy Newton. Referência direta a um futuro alternativo de Barack Obama, para azar de Michelle e da outra filha.


No outro lado do espectro está Jackson Curtis (John Cusack), um escritor frustrado e divorciado, que ganha a vida como motorista de limusine para um ricaço russo. Alheio a tudo isso, ele tropeça em situações que o alertam sobre o fim iminente e inicia uma fuga desesperada para salvar a família. A sequência entra imediatamente para o hall das grandes escapadas do cinema. É assustadora e impressionante ao mesmo tempo, com uma riqueza de detalhes apavorante na recriação, e consequente destruição, de Santa Mônica, Los Angeles e Las Vegas. Quem conhece esses lugares perde o fôlego. E essa é uma das maiores dúvidas da Sony: o nível de realismo vai ajudar ou prejudicar o desempenho do filme nas bilheterias? Ultrapassar a barreira do fictício pode ser tiro pela culatra e população de centros da Costa Oeste, especialmente as cidades diretamente afetadas, podem rechaçar o filme.


Enquanto o personagem de Cusack tem objetivos simples e poucas escolhas, o presidente de Danny Glover navega pelas mazelas da liderança. Ao mesmo tempo em que tem força para convencer os demais líderes do G8 a executar o plano de preservação do pouco que poderá ser salvo, entra em conflito com sua natureza benevolente e sente por seu povo, incapaz de sobreviver perante a força da natureza. É um homem nobre, mas há pouco espaço para nobreza em face à tragédia, especialmente quando o comandante do filme é Emmerich, que se diz cada vez mais pessimista. Mas até mesmo o diretor se redime por meio do personagem de Chiwetel Ejiofor (Filhos da esperança), que carrega praticamente a chama da sanidade e do amor ao próximo em meio a um ambiente conturbado e hostil.


Claro que sempre existem os malucos, e ninguém melhor do que Woody Harrelson para fazer as vezes do especialista em teorias da conspiração acampado permanentemente no parque de Yellowstone. Em papel inicialmente escrito para Dennis Hopper, Woddy brilha com bom-humor, exagero e um ar galante — reservado apenas àqueles indivíduos tão certos de suas convicções que nem mesmo a perspectiva do fim pode tomar-lhes os sonhos.


A alucinação do início do filme perde velocidade com a inevitável apresentação do plano do G8 e se transforma em drama emocional arrastado em seus 40 minutos finais, com mais obviedade que o normal e dispensável inserção de clichês adicionais para valorizar o sacrifício das pessoas. É aquela ameaça de catástrofe que pode colocar tudo a perder, mas o público sabe que será resolvida, afinal, para que ter sobrevivido a todas as mazelas anteriores para ruir perante a menor das ameaças? Mas não compromete.


O pior já passou. Assim como a carreira do Mestre da Catástrofe. E sobrou até para o Cristo Redentor, que ruiu e despencou sobre fieis que oravam a seus pés.



Qui, 12 de Novembro de 2009 18:05
por Fábio M. Barreto

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