sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Vulcano e Psicopata




Agora que Sylar encontrou seu caminho, não há mais volta para ele.
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Zachary Quinto


Disparado um dos melhores atores do elenco de Heroes, Zachary Quinto recebeu o SOS Hollywood para uma entrevista exclusiva para falar sobre Spock, Sylar, amizade com Leonard Nimoy e contar um pouco mais sobre o homem por trás de dois dos personagens mais comentados nesse ano. Afinal, Sylar é vilão ou herói? E como o novo Spock encara seu papel em Star Trek?

Com seu jeito altamente descontraído, simpático e inteligente, Quinto mostra uma das razões pelas quais chama atenção em tudo que fez: adora atuação. Treinado em teatro e devoto de atuações apaixonantes, o ator vive um estilo de vida sossegado, fora dos holofotes – a não ser que seja para promover seus trabalhos – e aposta nos amigos como grande arma para se manter são no meio de tanto estrelismo.

Acompanhe o bate-papo e entre na mente do psicopata mutante mais famoso da atualidade.


O que você ama na atuação? Você sempre aparenta ser muito apaixonado.
Adoro o senso de imersão, de precisar entender a psicologia e os pontos de vista do personagem. E fazer tudo que posso para incorporar essa personalidade. Essa possibilidade me atrai desde a infância.

Houve algum momento transformador ou marcante que iniciou sua carreira propriamente dita?
Foi uma evolução, na verdade. Minha infância foi muito imaginativa e criativa. Vivia brincando mo mato, construindo fortes, combatendo inimigos apavorantes e etc. Sempre tive interesse nas possibilidades da imaginação. Conforme fui crescendo, entendi que isso poderia ser levado mais a sério. Em termos de filmes, acho que A Ira de Khan ou mesmo Guerra nas Estrelas despertaram grande paixão por conta do conceito de fantasia e aventura, porém, o teatro tem mais culpa. Fiz minhas primeiras peças entre os 8 e 9 anos e comecei a estudar para valer aos 12 e foi a partir daí que atuação passou a evoluir de hobby para uma verdadeira vocação.

Sua família sempre apoiou?
(risos) Rolava um ceticismo sobre a idéia, mas aí comecei a convencer todo mundo do que eu era capaz e as coisas melhoraram (risos).

Quando conseguiu convencê-los?
As peças de escola eram mesmo um hobby, ensaiava depois das aulas e me divertia fazendo aquilo. Entretanto, elas me levaram a ser aceito por um programa teatral juvenil muito famoso na Pensilvânia [que admite cerca de 30 alunos por ano] e, naquele momento, minha família realmente compreendeu que a coisa era séria. O mais importante foi terem notado que havia comprometimento, esforço e paixão envolvido em tudo aquilo. Daí para a frente tive todo o apoio do mundo, inclusive durante os anos de faculdade [onde o ator estudou artes dramáticas].

Você sempre foi calmo e centrado assim desde a infância? É difícil não notar que você escolhe suas palavras muito bem, nunca se precipita numa conversa…
Sempre fui uma criança precoce, então fui assimilando essa postura ao longo dos anos, por normalmente me relacionar com pessoas mais velhas. Sempre. Aliás, isso acontece ainda hoje. Algo da experiência dessas pessoas desperta muito interesse em mim. Entretanto, os últimos cinco anos me permitiram encontrar grande equilíbrio pessoal e isso, sem dúvida, transparece na atuação e na minha postura pessoal.

E você conseguiu fazer isso mesmo com tanta pressão por conta da fama, do lançamento de Heroes e, agora, Star Trek. A “Hollywood Experience” foi um problema para você?
Gosto de alguns aspectos dessa coisa toda, enquanto ignoro outros totalmente.

Exemplos…
Adoro participar de eventos relacionados aos projetos em que estou envolvido, como festas promocionais, ações para algum público específico, lugares onde reencontro com colegas de trabalho fora do ambiente profissional. Isso é bom. Por outro lado, não gosto de visitar boates, curtir a noite e coisa do tipo, pois não quero atrair esse tipo de atenção, que pode ser negativa, para a minha vida. Tenho muito interesse em estreitar minhas relações com gente com quem trabalho, com gente interessante com quem possa trabalhar algum dia. Isso é divertido para mim.

Chegou a tentar esse tipo de vida social e não funcionou ou nunca teve interesse mesmo?
Chega um ponto em que convites começam a aparecer aos montes e é preciso exercer cautela. Alguns valem a pena, sem dúvida. Acredito que se tivesse vivido isso há alguns anos, até teria interesse em curtir desse modo, mas não é a realidade de hoje. Pelo menos a minha. No fim das contas, a “Hollywood Experience” é algo incrivelmente intangível e muito efêmera. Portanto, qualquer tentativa de viver conectado a isso o tempo todo e tentar se definir por essa postura provoca um sentimento de vazio na vida da pessoa.

E no seu caso, acima de tudo, ainda existe a questão de sua fama veio acoplada a um “bad guy”. Você é uma antítese total desse meio, então? Famoso como vilão, mantém os pés no chão o tempo todo…
Bom, muito disso tem a ver com o fato de eu não ter mais 20 anos. Se toda essa exposição tivesse acontecido naquela época, talvez minhas reações pudessem ser totalmente diferentes. Deve ser muito difícil encarar tudo isso quando você ainda não se conhece direito. Tenho certeza de que teria passado pela mesma jornada de autodestruição que muitos jovens atores passam hoje em dia, se isso tivesse acontecido há dez anos [Zachary tem 32 anos de idade].

Quando esse período de amadurecimento – os cinco anos – começou?
(risos) Esse número é um pouco genérico, na verdade. O momento da escalação para Heroes foi um momento importante, pois, pela primeira vez notei que minha carreira estava prestes a mudar, porém, com Star Trek, tenho certeza de que tudo vai mudar e muuuuuuito. Essa evolução acontece pelo acréscimo de experiências. Nunca teria conseguido Spock, sem ter feito Sylar antes, pelo menos é assim que funciona para mim. Evoluí muito a partir dos 25 anos. Olha o clichê: sou uma pessoa totalmente diferente. (risos).

E isso acaba influenciando seus personagens? Sylar está passando por uma certa evolução e seu Spock está nessa fase complicada dos 20 e poucos anos…
Há um pouco disso sim, mas tenho o hábito de seguir os roteiros que recebo da forma mais fiel possível, que é a função do ator. Gosto muito desse momento de Sylar. Ele busca essa identidade desde o princípio e, acredito, finalmente tenha encontrado. Uma vez definido, não há mais volta, pelo menos no caso dele. Não sei se os roteiristas pensam assim, mas é como eu vejo. Já Spock vive constantemente o dilema de ser um mestiço. Pude inserir bastante energia, força e, até onde o personagem permite, emoção. Ele é muito mais instável do que aparenta, especialmente na juventude. Conhecer Nimoy foi algo fundamental nesse aspecto e, não sei se somente pelo laço do personagem, mas acabamos nos tornando amigos e isso foi fantástico.

O que funciona mais para Sylar: vilão, herói, um pouco dos dois?
(pausa) Acredito que tudo que ele passou seja válido e interessante. Mas devo admitir que ele encontra o melhor de sua forma quando está em contato com o lado negro. Há um poder sedutor nessa perspectiva. Isso o torna atrativo e carismático, dramaticamente. Não é possível construir um personagem de televisão sempre com a mesma perspectiva, ou perfil pessoal, portanto, todas as outras nuanças da personalidade dele se somam para definirmos o verdadeiro Sylar. Sempre tenho a impressão de que o pessoal gosta mais quando ele resolve ser mal.

Você ainda está num momento de descobertas pessoais, como seus personagens?
Espero sempre estar nesse momento de descobertas. Ser uma pessoa de mente aberta às novidades é inestimável e, felizmente, posso agregar novos conceitos e informações à minha vida diariamente. Essa é uma das coisas fantásticas sobre Leonard [Nimoy], pois ele sempre está se redescobrindo, reinventando, tentando algo novo. É algo impressionante e farei o máximo para seguir esse modelo, sempre que possível.

Construir um personagem no cinema é muito diferente do que na TV? Todo mundo conhece Spock, mas ninguém ainda tem muita idéia de como será o “seu” Spock…
É sim. Em Heroes, filmamos cerca de nove páginas por dia, quando tudo dá certo. Em Star Trek, houve dias em que filmamos apenas uma página. Há tanto tempo a mais na TV e isso possibilita maior reflexão sobre o personagem, além do fato de que o “tempo de vida” desse sujeito é mais amplo, alguns momentos ou pensamentos podem tomar um episódio inteiro para serem desenvolvidos. Isso pode levar anos. Já no cinema, esse período é contido naquelas duas horas. Há um começo, meio e fim e tudo acontece de maneira mais concentrada. Digamos que se tratem de duas sensibilidades diferentes.

E o quão autêntico se pode ser ao reimagina alguém como Spock?
Meu objetivo é ser o tão autêntico possível de acordo com o estado de espírito e as emoções que personagem requer. Esse nível de autenticidade começa a ser definido quando encaro perfeitamente o fato de que nunca serei Leonard Nimoy ou farei o mesmo trabalho que ele. Spock original ajudou a moldar o mundo em que vivemos hoje, então ele é imbatível. O jeito mais honesto, e autêntico, de realizar esse trabalho é respeitar o momento pelo qual Spock está passando e qual sua função naquela tripulação de novatos. Cada um desses elementos fez sentido para mim, então foi no que acreditei durante cada momento das filmagens e, assim, pude contribuir da melhor maneira possível.

Existe pressão externa dentro do set de Heroes, especialmente por conta da influência da audiência e dos interresses do canal?
Não ligo muito para opiniões externas, sabe. Muita gente criticou os roteiros da segunda temporada, mas meu trabalho é fazer o melhor que posso, com o material que recebo. Continuo muito interessado em desenvolver Sylar e dar a maior credibilidade possível à série. A natureza da televisão prevê todo tipo de interferência e há tanta gente dando opinião, que manter os rumos é sempre complicado. Acredito que Heroes exista dentro de uma dinâmica positiva e que permite muita criatividade, sem grandes influências do canal, mas ninguém está livre disso. Pressões sempre vão existir, seja por problemas financeiros, audiência ou outros interesses comerciais. Mudanças acontecem, sempre conversamos sobre o que está funcionando, ou não. Por isso acredito que cada um deva fazer sua parte e permitir que o trabalho evolua. Ainda bem que só atuo.

Defina um dia perfeito
Humm..

Sem jornalistas por perto, acredito.
(gargalhadas) Bom começo (gargalhadas). Depende, mas precisa acontecer em Nova Iorque. Sou apaixonado por aquele lugar.

Mesmo tendo tentado destruí-la na primeira temporada de Heroes.
(risos) Ossos do ofício (risos). A culpa não foi minha. Então, provavelmente acordaria por volta de 9h, gastaria um tempinho fazendo as cruzadinhas e depois tomar café da manhã com alguns amigos. Depois disso, o inevitável seria passear um pouco e almoçar com amigos, e visitar o Central Park. Contando que seja Primavera. Nada de neve. De preferência. Passear sozinho é uma boa, mas meu cachorro seria ótima companhia. Perderia horas só passando entre as árvores e apreciando o dia. Mais tarde, um bom jantar e provavelmente assistir a uma peça teatral nova e encerrar a noite em alguma vinoteca em West Village, antes de cair na cama.

Humm, interessante notar que um dia perfeito não envolveria romance, apenas amigos e o cachorro.
Humm, é. Gosto de solidão. Ficar sozinho é difícil hoje em dia, por conta de tanto trabalho, então faço o que posso para apreciar esses momentos de contemplação e tranqüilidade. Dou muito valor ao meu tempo individual.

Você pensa muito na sua vida, trabalho ou apenas relaxa?
Sou muito geminiano nesse aspecto. Penso em extremos. Posso sair disposto a seguir totalmente a maré e ver até onde o acaso vai me levar, ou então saio de casa totalmente decidido a realizar alguma tarefa específica. Depende do que acontece ao meu redor. Nesse momento, estou muito ocupado e com muitas decisões em andamento, então preciso de bastante concentração para não fazer besteira. Gosto disso, mas nunca dispensaria um dia de folga no Central Park (risos).

Fábio M. Barreto

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