quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Amy Winehouse

Uma Vítima de Seu Tempo

Por Paulo Terron
Com a privacidade escancarada e estimulada a viver sempre nos limites, Amy Winehouse também se viciou em alimentar a própria lenda ao seu redor.

Foto: MARCOS HERMES
Uma Vítima de Seu Tempo
ADEUS AOS PALCOS No Rio, no início de 2011: turnê brasileira foi a última em que Amy conseguiu se apresentar de maneira satisfatória
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Quando Amy Winehouse subiu ao palco da Arena Anhembi, em São Paulo, em 15 de janeiro deste ano, grande parte da plateia presente já sabia o que queria da cantora: o fracasso. As notícias vindas de outras cidades brasileiras nas quais ela havia se apresentado dias antes - Florianópolis, Rio de Janeiro e Recife - não colaboravam na melhoria do clima. A britânica realmente não estava em sua melhor forma. Cabisbaixa (quando não fixava o olhar perdido no infinito) e esfregando as mãos e os braços sem parar, Amy parecia tentar se esconder justamente atrás de seu instrumento de projeção profissional, o microfone. Na abertura do show vieram, de cara, versões medianas de três hits do álbum Back to Black: "Just Friends", "Back to Black" e "Tears Dry on Their Own". O público recebeu as canções com algum entusiasmo, só que a verdadeira empolgação só vinha quando a cantora cambaleava ou passava a mão no nariz, ações que ela repetiria inúmeras vezes durante a noite. Amy Winehouse - despreparada e obviamente desgastada física e psicologicamente - era como uma ovelha indefesa, atirada a três dezenas de milhares de leões implacáveis, ansiosos e sedentos por sangue.

Então, algo incrível aconteceu: a banda engatou em uma versão de "Boulevard of Broken Dreams", sucesso na voz de Tony Bennett nos anos 50, e parecia que os deuses da música haviam descido àquele palco para soprar entusiasmo dentro de Amy. A plateia paulistana reagiu à onda de energia com gritos, e a cantora sorriu. Dançando de forma sensual, mas contida, ela acariciou o microfone. As mãos até se afastaram, uma delas parando na cintura - uma pose que viria a definir a imagem icônica de Amy Winehouse. Aquela artista no palco, nos minutos seguintes, parecia ser a cantora que conquistou o mundo com seu carisma e que, praticamente sozinha, catapultou a música soul de volta para o mainstream.

O momento se prolongou com a triste balada "I'm on the Outside (Looking in)", de Little Anthony & the Imperials. Enquanto cantava sobre não querer "ficar trancada do lado de fora", Amy casualmente arrumava seu famoso penteado ("furtado" da lenda Ronnie Spector, das Ronettes), bagunçado pelo vento, quase sempre com uma segurança que faria falta a ela nos meses seguintes, até o cancelamento súbito da turnê, em Belgrado, na Sérvia. Mas em São Paulo, ao final da canção, Amy Winehouse ergueu a caneca que usava para beber um líquido não identificado como se brindasse aquele grande momento com a plateia. Uma pequena vitória contra os leões.
Você lê esta matéria na íntegra na edição 59. 

FONTE: http://www.rollingstone.com.br/edicoes/59/textos/uma-vitima-de-seu-tempo/

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