Avaliação: NOTA  5
 
 

Phillip Seymour Hoffman era daqueles atores que pareciam fadados a permanecerem coadjuvantes para sempre. Era daqueles que conhecíamos o rosto de algum outro trabalho, mas não tínhamos ideia de seu nome. A aparência pouco agradável impedia que brilhasse, servindo como alavanca para os astros de “Twister”, “Boogie Nights”, “O Grande Lebowski” e “O Talentoso Ripley”. A oportunidade veio em “Capote”, há seis anos, e desde então, Hoffman fez valer o Oscar recebido pelo filme, passando a ganhar papéis mais elaborados que lhe renderam outras indicações ao prêmio e, principalmente, notoriedade e respeito no disputado meio em que vive.

Inquieto, como toda pessoa ligada a qualquer arte deve ser, ele agora se arrisca pelo mundo da direção cinematográfica. E deve ser dito que não faz feio para um estreante, assim como não impressiona. O roteiro de “Vejo Você no Próximo Verão” impede que Hoffman chegue de imediato ao estrelato na nova carreira. Já as performances dos atores fazem exatamente o contrário por um longa cheio de sensibilidade, mas que aparenta ter bem mais conteúdo do que realmente possui, ao opor o nascimento e o fim de dois relacionamentos afetivos.

Na tela, o próprio Phillip Seymour Hoffman contracena com Amy Ryan, outra atriz recém-descoberta do mundo dos coadjuvantes. Ele interpreta Jack, um tímido motorista de limusines que nunca namorou, mas que está disposto a mudar seu histórico amoroso. Já Ryan é Connie, uma espécie de vendedora de serviços funerários via telefone que também não consegue encontrar o par perfeito. Os dois, moradores de uma Nova York nada glamorosa, são apresentados pelo casal Clyde (John Ortiz) e Lucy (Daphne Rubyn-Veja), respectivamente, o melhor amigo de Jack e a chefe de Connie. A partir de então, enquanto os “cupidos” vão de mal a pior no seu casamento, a recém-formada união aposta na inocência para levá-la adiante.

Apesar de estarem bem distantes de suas idades mais prósperas, Jack e Connie mais parecem duas crianças. Possuem e assumem as responsabilidades que a vida adulta exige, mas fogem de encarar outras de caráter não-obrigatório, entre elas a de achar alguém para amar até o resto da  vida. Seria medo ou mera timidez? O roteiro de Robert Glaudini, adaptado de sua própria peça teatral, não dá respostas prontas. Apenas apresenta-os como adultos infantis que, por diversas vezes, assemelham-se a autistas pela maneira como reagem a certas negativas, como ter o jantar, que tanto esperou preparar, queimado por mero esquecimento.

O resgate no passado dos motivos para agirem de tal forma e a inclusão de diálogos que trouxessem explicações evitariam a sensação de que toda aquela montanha russa sentimental é artificial. A densidade imposta pela direção de Hoffman, sempre utilizando boas músicas e câmera lenta para intensificar os dramas vividos por seus personagens, não condiz com o que o roteiro tem para oferecer. Em suma, falta conteúdo para justificar a aura dramática de “Vejo Você no Próximo Verão”.

Por outro lado, Glaudini e o novo cineasta conseguem harmonia quando focam-se na simples história de amor de Jack e Connie, especialmente, quando fogem de uma comicidade que busca no estranhamento das situações o seu motivo de existência. É agradável vê-los se conhecer, visitarem-se em ocorrências desfavoráveis e acompanhá-los, de pouco a pouco, retirarem a timidez de seus rostos, abrindo o seu humor e a sua verdade para o outro. Trata-se de um relacionamento inocente que, por diversas vezes, nos convence de que realmente funciona de tal maneira.

No entanto, o roteiro vacila ao apostar em uma oposição de estilo de amores que jamais se contrapõem da forma mais adequada, principalmente porque a trama de Clyde e Lucy é marcada por uma série de confusões que, na tentativa de serem de natureza “moderninha”, soam atropeladas, deixando diversas perguntas sem dica alguma para obterem respostas. São traições seguidas de traições, superadas com o uso de drogas, as quais parecem afetar não só os personagens, mas também Glaudini. E daí saem as lições de moral mais indecifráveis possíveis. Uma lástima!

A compensação desta vez vem do trabalho de Daphne Rubyn-Veja e John Ortiz, que fazem jus às grandes performances de Hoffman e Amy Ryan, dois craques das atuações que dão a profundidade que o roteiro falha em conceder aos seus personagens. No entanto, não é o suficiente. Phillip Seymour Hoffman tem sua estreia como diretor boicotada por Robert Glaudini, em um romance de bons momentos isolados, mas que no todo é uma confusão de sensações só.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.