domingo, 9 de agosto de 2009

Anvil The Story of Anvil










































































Incrivelmente emocionante para o número de ‘fuckers’ disparados. A vitória do documentário é ser arte pura, eletrizante, real.





por Lucas Moreira





A mitologia do super-herói cunhada por Joseph Campbell (a The Hero’s Journey, conhecida fórmula repetida tantas vezes principalmente nos quadrinhos e no cinema, e base do Superman) introduz as padronizadas caracteristicas ao super-herói como uma pessoa que vive disfarçado em uma rotina regular, convivendo junto aos demais humanos, mas que secretamente esconde um poder que o difere das pessoas comuns, força esta que ele acaba por colocar para fora ao assumir uma outra identidade. Na não-ficção, o super-herói mitológico se associa diretamente com o artista independente: são pessoas extremamente talentosas e reconhecidas pela seus trabalhos no meio artistico, mas que por alguma razão não tiveram a chance de ter os holofortes da fama voltadas a ela (pois assim como na mitologia, todo super-herói tem seu super-vilão de direito), o que as obrigam de no dia-a-dia cumprir funções rotineiras e trabalharem em empregos onde não podem exercer seu talento, mas que as sustentam e patrocinam sua arte gerada paralelamente. Mas o que realmente diferencia o artista independente do de mercado se não as limosines e os hotéis de luxo do segundo? É esta a coisa mais maligna na arte, ela é incomprável, de nada importa ter o pincel mais caro, feito com penas de avestruz dourado, se não se tem o talento para manuziá-lo. Quando na abertura do documentário “Anvil! The Story of Anvil” figuras famosas do mundo do metal como Lars Ulrich (baterista do Mettalica), Lemmy Kilmister (líder do Motörhead) e Slash (guitarrista do Guns N’ Roses) apontam a perdida banda Anvil como tão digna de reconhecimento quanto eles, é prova cabal de que ter o nome escrito na calçada da fama ou o rosto publicado na capa de magazines para adolescentes não é o que importa.





Anvil é uma banda de metal canadence que esteve em seu ápice nos 80, mas as coisas desandaram feio e seus integrantes vivem até hoje fazendo esforço para retomar ao cume uma vez escalado, tocando em lugares minúsculos e convivendo com as mudanças trazidas pelo tempo, ainda tentando viver aos 50 anos o sonho adolescente imaginado aos 14, ainda na espera de que o OVNI que um dia os encontrou volte para captuá-los novamente. O empenho do cineasta Sacha Gervasi ao fazer um documentário direto acaba por diferenciar “Anvil! The Story of Anvil” de um mero especial musical, o filme toca muito mais em questões sociais (não é a toa que Michael Moore declarou ser “o melhor documentário que vi em anos”) sobre a vida pessoal dos dois integrantes remanescentes da banda, o vocalista e guitarrista Steve “Lips” Kudwlow, e o baterista Robb Reiner, inicialmente eles contam um pouco sobre o começo da banda e seu passado de fama, mas ao que a duração do filme avança, é como se toda a equipe técnica tivesse sumido, tamanha é a naturalidade que os dois continuam por enfrentar suas vidas como se não houvesse câmera alguma os registrando. Lips trabalha atualmente em entregas de comida para redes de supermercado enquanto Reiner tira sua grana em bicos de construção, enquanto é mantida na calota os ensaios e pequenos shows da banda, sempre na esperança de um dia haver um retorno bombástico da mesma. O sonho parece próximo de se realizar quando uma dedicada fã da banda consegue agendar para eles uma turnê pela Europa, que começa até muito bem, com a banda tocando em festivais de metal, mas é quando eles vão tocar sozinhos, as contas de seu próprio nome, é que as coisas começam drásticamente a dar errado, com shows acontecendo em terríveis inferninhos e para um público fraquíssimo. No final a turnê acaba servindo mais para o mal do que para o bem, pois com ela os músicos acabam se dando conta da dura realidade, de que talvez toda a sorte já tenha ido embora e que eles estão se esforçando para pôr vivo algo que já está morto a muito tempo.






Quando digo artista, me refiro ao amor dos músicos por sua arte que se comprova nas situações em que eles chegam a ultrapassar o aceitável, tocando para cinco pessoas ou em casamento, ou muito mais do que isso, só pelo fato destes caras estarem ainda nesta depois de todos esses anos sem receber devido retorno e em uma situação vergonhosa, já faz gráfica e digna de todo respeito sua arte, enquanto há artista famoso que faz chilique porque faltou o vinho tinto suave no camarim. Quando digo artista, me refiro aquele que mesmo nas piores condições consegue fazer sua arte existir, e “Anvil! The Story of Anvil” nos deixa isso tão claro quanto roupa branca lavada com OMO Multiação: sucesso é subjetivo.





Bonito retrato de resistência incrivelmente emocionante para o número de ‘fuckers’ disparados em sua metragem. Deixarás de temer quando deixares de ter esperança (Sêneca), um filme altamente recomendado mais para qualquer artista do que para fãs de metal. A única explosão emocional que Lips tem, no meio das gravações do décimo terceiro disco da banda, é justamente quando alguém tenta prejudicar a prática de sua arte, porque ai sim está algo que ele não poderia tolerar, é nesta furiosa atitude que ele está fazendo notar o quão grande é seu amor por ela. É inocente como em uma das conversas Lips diz que não consegue entender porque todas as pessoas ao seu redor tem esta devoção cega a ele, entrando no seu jogo e se interessando também em fazer a banda funcionar. A resposta é simples, e fascinante: porque simplesmente nenhuma delas tem fôlego capaz de vencer a dedicação dele.Os fatos e acontecimentos reais são nos apresentados envoltos do talento daquele que os registra. Gervasi tem a competência de escolher o final perfeito para desligar sua câmera, na hora exata. É esta também a vitória do documentário, ser arte pura, eletrizante, real. Como o metal, um som de naturalidade rebelde e provocador, pode ser honesto quando produzido por músicos que estão robóticamente encaixados no sistema? É por isso que Anvil, da forma como é, consegue ser talvez a única banda a realmente alimentar aquele desejo simples, sujo, desbocado e selvagem não apenas sob o palco, mas essencialmente, abaixo dele.




“Anvil! The Story of Anvil” EUA, 2009. Direção: Sacha Gervasi. 90 minutos.

2 comentários:

  1. Vlw, os vi na VH1 e tava pesquisando...brigaduuuuuuuu sem brigar por isso...rs

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  2. muito bom ,du caralho seu comentário, me emocionei nesse documentário,anvil é realmente uma banda histórica,pelo amor que eles tem ao heavy metal

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