quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Qual o futuro da distribuição de filmes?


Por Cássio Starling Carlos

Quem ainda não é adepto do download de filmes que atire a primeira pedra!

Como aconteceu há alguns anos com a música e culmina hoje com a proclamada “morte do CD”, encontra-se em pleno curso a mudança de paradigma nas formas de consumo do cinema (ou melhor, do audiovisual, já que o tráfego de clipes e programas de TV pela internet é tanto quanto ou maior que o de cópias de “blockbusters”).

Os distribuidores e exibidores se queixam, claro, e ameaçam com o apocalipse. Afinal, se o ganha-pão deles circula livremente e sem custos pela rede, de onde vai sair o tão suado dinheirinho?

Na edição deste bimestre, a respeitável “Film Comment” abriu espaço para um divertido artigo do crítico argentino Quintín intitulado “Black Crow Blues”.
No texto de duas páginas, Quintín descreve suas desventuras em um site de download que supera, em oferta e variedade de títulos, o que se poderia imaginar da reunião das maiores e mais completas cinematecas de todo o mundo.

Como nem tudo é só alegria, o tal Black Crow (sob o qual mal se disfarça o irresistível site Karagarga) impõe regras proporcionalmente rígidas ao paraíso que suas fileiras representam para seus associados. E Quintín descreve com graça as várias fases de seu relacionamento com essa tentação, desde os primeiros flertes, passando pela paixão fulminante e pelos riscos de abandono até entrar numa espécie de idade do juízo. Legal!

O que mais chama a atenção no artigo é uma nota curta, impressa em vermelho e agregada pelos editores da “FC”, onde se enxergam os dez dedos de cautela por trás da decisão de publicá-la. Nela se lê: “Este artigo diz respeito a um bastante conhecido site de compartilhamento de arquivos. Mesmo que ‘Film Comment’ não perdoe tal atividade, trata-se de uma parte proeminente da atual cultura de cinema e por isso fomos levados a tratá-la”.

Pois bem.

E a circulação legal de arquivos enquanto isso?

Seguindo o modelo da indústria fonográfica, os paquidermes da produção têm ampliado, ainda que muito timidamente, a oferta em VOD ou “video on demand”. A matriz da Warner disponibiliza (apenas para quem reside nos EUA), além do grosso de sua produção contemporânea, parte já relevante de seu catálogo histórico, ou seja, filmes dos anos 30 em diante, antes reservados aos alucinados de cinematecas.

Nesta semana, a Disney anunciou a intenção de disponibilizar online uma ampla série de seus produtos, incluindo filmes, programas de TV e games. “Àqueles dispostos a pagar”, esclarece o comunicado.

Há algumas semanas, a Salon reuniu num eficiente balanço a já ampla oferta de canais de VOD existente nos EUA, num artigo no qual foram avaliados custos, qualidade e catálogo de serviços como iTunes, Amazon, Netflix, YouTube, Hulu, Joost, Babelgum, Jaman, SnagFilms, IndiePix e The Auteurs.


Na França, as Éditions Montparnasse mantêm serviço semelhante, com uma lista de títulos bastante desejável, infelizmente restrita aos habitantes da França, Suíça, Bélgica, Mônaco, Luxemburgo e Andorra.

Enquanto isso, no nosso cantinho de Terceiro Mundo tudo parece emperrado por limitações estruturais da rede (leia-se, universalização da banda larga, cabeamento em fibra ótica). Em 2007, a HBO havia anunciado que “até o final do ano” disponibilizaria seus conteúdos de séries. Desde então, não se ouviu mais falar no projeto.

Em abril deste ano, a direção do braço de distribuição digital da Warner andou dizendo que conteúdos da empresa estarão disponíveis “em breve” para usuários da América Latina.

Enquanto as grandes lançam esses balões de ensaio, seguimos timidamente alguns modelos já existentes. A Saraiva Digital, por exemplo, iniciou em maio um serviço que traz opções de aluguel (a partir de R$ 1,90, para títulos infantis, até R$ 4,90 para “lançamentos”) ou de venda (a preço semelhante aos de DVDs em ofertas).

A pirataria, por outro lado, não demonstra tamanho acanhamento, como comprova a autêntica segmentação de mercado operada pelos camelôs que atuam na região do Espaço Unibanco de Cinema.

Quando o negócio legal um dia sair da letargia vai acabar descobrindo aquilo que todo mundo que quer ver filmes já sabe: “tá tudo dominado!”.

*


Este artigo diz respeito a um bastante conhecido site de compartilhamento de arquivos. Mesmo que o Ilustrada no Cinema não perdoe tal atividade, trata-se de uma parte proeminente da atual cultura de cinema e por isso fomos levados a tratá-la.

Escrito por Cássio Starling Carlos às 2h45 PM

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