terça-feira, 10 de novembro de 2009

Criadores de caso

Katie Featherston, perseguida por demônio em ‘Atividade Paranormal’




Publicitários monitoram blogs e redes sociais para criar oba-oba na internet em torno de filmes e bombar bilheteria.



FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cuidado, tem alguém seguindo você na internet, e não é seu chefe nem seu namorado. Estúdios e produtoras de cinema têm monitorado redes sociais como Orkut, Twitter e Facebook, além de cooptado blogueiros para disseminar o conteúdo de seus filmes, no intuito de criar um oba-oba na internet e alavancar suas bilheterias.
Dar brindes especiais para blogueiros, chamá-los para pré-estreias exclusivas ou criar ações específicas para um nicho -como promoções para sites que só falam de assuntos femininos- fazem parte das novas estratégias de agências de publicidade e de comunicação. Elas também contratam gente só para cuidar de contas do miniblog Twitter, interagindo com internautas.
"Monitoramos o Twitter para ter ideias para campanhas e depois para ver se as pessoas se engajaram, se estão passando adiante", diz Gustavo Borrmann, diretor de criação da RMG Connect, que tem a conta da Warner Bros. no país.
Muitas das estratégias são importadas dos Estados Unidos. Lá, o burburinho na internet já foi capaz de derrubar ou bombar diversos filmes só neste ano: a comédia "Brüno" teve queda de 40% na frequência entre sua estreia e o dia seguinte, em julho, devido a comentários negativos em sites. E o terror "Atividade Paranormal", feito com US$ 10 mil, foi de 12 para 2.000 salas de cinema em um mês, atingindo primeiro lugar das bilheterias em outubro, após estardalhaço dos fãs. O filme tem pré-estreia no Brasil à 0h de quinta para sexta.
Mas nem todo barulho é espontâneo. Um caso publicitário recente aconteceu com "O Doce Veneno do Escorpião", que vem sendo rodado em São Paulo com Deborah Secco como Bruna Surfistinha. A agência Dudinka, especializada em conteúdo para redes sociais, levou cerca de 30 "blogueiros e twitteiros influentes" para o set de filmagens e acabou por transformá-los em figurantes.
Dani Koetz, blogueira do "Ah! Tri Né!", que recebe 2.000 acessos únicos por dia e pelo menos um convite por semana para pré-estreia de filmes, esteve nas filmagens na boate Love Story. Ela conversou com Deborah, fez um post que pipocou em diversos sites e ainda afirmou que recebeu um cachê de "valor ínfimo". Eduardo Teixeira, sócio da Dudinka, garante que não pagou nenhum blogueiro. "Eles tiveram a experiência de estar num set", diz Teixeira. "E as fotos que eles fizeram ainda acabaram vazando, mas vazando entre aspas, foi uma coisa pensada."
Já a agência Núcleo da Ideia tem uma equipe de dez "animadores de web", entre jornalistas e publicitários, como Rebecca Leite, 22, estudante de comunicação social. "Tenho que falar a mesma língua dos internautas, não pode ser mecânico", diz ela, que cuida dos perfis no Twitter dos filmes "Besouro" e "Embarque Imediato". "Eles querem saber sobre os efeitos especiais, e respondemos tudo, tiramos do material de imprensa ou falamos com a produtora."
Para Flávio Bidoia, um dos sócios da Núcleo, a campanha na internet ajudou a criar um "anticorpo" contra as críticas negativas que o filme sobre capoeristas recebeu na imprensa tradicional. "Noventa por cento dos blogs falaram muito bem", diz Flávio, que também está de olho no seu Twitter.





"Críticos só são relevantes para os mais velhos"
DA REPORTAGEM LOCAL


Gordon Paddison é o executivo americano por trás dos sete anos de campanha digital da franquia "O Senhor dos Anéis", além de outros 200 filmes que lhe renderam o apelido de "mestre do barulho na internet". Neste ano, lançou sua própria agência de publicidade, a Stradella Road, que tem Peter Jackson entre seus clientes.
A empresa fez um amplo estudo sobre os hábitos dos frequentadores de cinema nos EUA, disponível em www.stradellaroad.com, e descobriu que 86% deles acessa a internet pelo menos uma vez por dia, 73% tem um perfil em redes sociais, e que a maioria dos que têm menos de 50 anos confia mais no boca a boca dos amigos do que nos críticos na hora de escolher um filme.
"Críticos já não são tão relevantes assim, só para consumidores mais velhos", disse Paddison, por telefone, à Folha.
"Está na hora de os críticos começarem a usar Twitter, Facebook, porque eles têm acesso a celebridades e isso pode ter um grande valor para os consumidores", falou. "Eles podem fazer comentários sobre a vida, sobre o que eles gostam de fazer ou de comer, sobre onde vão passar o Natal. Isso humaniza o crítico perante os olhos do consumidor e o faz mais relevante socialmente. Então, talvez, o crítico seja como um amigo. Deixa de ser apenas uma voz crítica, vira uma voz de confiança."
Para Paddison, a nova mania dos publicitários de "criar um viral" -fazer uma campanha publicitária se espalhar rapidamente pela internet de forma aparentemente espontânea- não existe. "Nós só criamos o conteúdo, são os internautas que o transformam em viral." (FE)


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