quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Mad Men, 

a 6ª melhor série da atualidade

Yasmin Carli Kuhnert | Opinião, Top Maníacos | 5/07/2011 - 0:11



Conheci Mad Men no meio da febre de críticas positivas e prêmios. Curiosa nata decidi conferir. Afinal o que Mad Men tem? A premissa é simples: uma agência publicitária na Madison Avenue em plenos anos 60. Assim que li me veio uma coisa totalmente diferente do que vi no episódio piloto. Espero dividir com vocês um pouco de Mad Men.

Informações importantes sobre a lista: esse top 10 foi formado através de uma votação entre os colaboradores do Série Maníacos. Cada um escolheu três séries diferentes, que ainda estão no ar dando notas de 1 a 3. A série com a maior nota depois da somatória geral ganhou o título de “A Melhor Série da Atualidade”. Dexter e Breaking Bad fazem parte da lista de melhores séries da década, portanto fica claro que elas já estão entre as melhores séries da atualidade, na opinião dos colaboradores desse blog. Apenas séries veteranas com mais de uma temporada foram consideradas, ou seja, produções aclamadas como Game of Thrones não entraram. A lista será atualizada semanalmente até a medalha de ouro.

A série que esperou sete anos na gaveta até se tornar realidade. Passou da HBO a Showtime sem uma resposta positiva. Quando o pequeno canal AMC procurava um roteiro para estrear no mercado de séries Matt Weiner conseguiu dar vida ao projeto. De lá para cá foi um prêmio atrás do outro. A série que se passa numa das décadas que mais mudou o comportamento do mundo. A independência das mulheres em relação aos homens, o surgimento de movimentos contra racismo, a homossexualidade e a homofobia, as mudanças na música, letras marcadas de vontade de mudar, de libertar uma sociedade tradicionalista e rígida. Tabagismo, sexismo, adultério, alcoolismo e muitos outros temas presentes na década. Com personagens presos as tradições e lutando contra as mudanças, presos a situações desconfortáveis justamente pelo medo de se libertar dos costumes. É uma década onde as mudanças foram feitas e muitas pessoas não aceitavam a situação criada por essas mudanças. As mudanças da década são refletidas episódio após episódio na dinâmica dos personagens.

Na agência publicitária Sterling Cooper o que vemos é caldo do que era a sociedade, a série nos permite entender aquele pedaço da história através de histórias e personagens fascinantes. Um olhar diferente do que estamos acostumados. Não foi só o “façamos a revolução, a contracultura e pronto”. Isso afetou diretamente a vida de todos. A mulher que busca o seu espaço numa sociedade machista, a dona de casa que cansa de ser exibida como troféu e de ficar em casa o dia todo cuidando dos filhos. O homem descontente com a eterna rotina de trabalho, casa, esposa, filhos. A mulher objeto, que já passou da idade, mas ainda sonhar em casar e viver de uma rotina tradicional. Mad Men nos transmite por um prisma único tudo o que sabemos sobre os anos 60 com outros olhos.

Don Draper é o protagonista dessa história, o diretor de criação da agência vive num mundo de mentiras, sente-se numa eterna falta de controle e mesmo sendo bem sucedido, nunca está feliz. Crises pessoais e de identidade o levam a ficar solto no meio de uma sociedade que cada vez mais se modifica, tem que lidar com mulher, filhos, um passado pesado e ainda sim ser o mais brilhante publicitário. Peggy por outro lado é jovem e busca seu espaço numa sociedade sexista que vê a mulher como inferior, destinada a pouco fora da vida familiar. Ao contrário do sonho comum das garotas da idade dela, Peggy não quer casar, ela quer trabalhar, quer se tornar redatora.

Aguenta risos maldosos e com determinação adentra no mundo dito “masculino”, lidando com preconceitos constantes. Temos ainda muitos personagens que simbolizam a década de 60 muito bem. Como Betty Draper, a esposa fadada a ficar em casa, cuidar dos filhos, sem sonhos e ainda aguentar as traições e mentiras do marido, até que explode e joga tudo para o ar. 

Ou ainda Salvatore Romano, ítalo americano, católico e lutando contra o seu verdadeiro eu, gay não assumido leva uma vida frustrada e amarrado num casamento. Joan Holloway é a mulher que mexe com os homens, e por causa disso consegue muitas das vezes o que quer, usa sua sensualidade para sobreviver, mas sente-se frustrada por já estar ficando velha demais para casar, ela cansa da vida de amante, da falta de respeito. Joan tem o mesmo sonho de todos, ser feliz custe o que for. O irônico disso tudo é que em todos os personagens a gente pode notar uma insatisfação, por mais que esteja tudo se encaminhando a pontinha de infelicidade está ali, como um lembrete, de que isso não é o bastante.

Durante as quatro temporadas a série amadureceu com seus personagens nos levando através de um mundo masculino cheio de dramas e questões delicadas. Don não se importa pela felicidade do outro, ele busca a própria felicidade, ele não se conforma em ser bem sucedido profissionalmente e mesmo assim se sentir incapaz, preso a algo que ele não quer mais. Algo que talvez ele nunca quisesse, Don quer a liberdade de ser ele, a principal luta é conviver com o passado, com esse segredo. Weiner criou um personagem denso, em conflito com o verdadeiro eu e aquele que ele exterioriza para o mundo. 

Viajar através da mente de Don Draper foi uma agradável surpresa para mim que não sou tão paciente. O ritmo de cada episódio, e a importância do menor detalhe é o que torna essa série fascinante. O cuidado ao recriar em cada cenário um retrato da época. Até mesmo a forma de filmar, o enquadramento de cada cena foi medido para passar o clima certo ao telespectador. O perfeccionismo do criador ajudou a entrelaçar esse drama de homens e mulheres tentando sobreviver a um turbilhão de mudanças. Ver tudo o que você sabe e aprendeu como certo e errado mudar não é fácil. Muito menos sentir-se preso e impotente. A libertação de cada personagem vem quando eles admitem que não exista felicidade plena. Durante as quatro temporadas a vida de Don que vai do ápice ao fundo de uma crise e chegamos ao ponto que estamos. Ele tentando recuperar a tal felicidade, que ele jurava ter, mas era tudo fumaça. O que se pode concluir que ninguém é feliz por baixo de falsas máscaras e impressões. Só quando se despe de segredos é que talvez exista o tal sonho de ser feliz. Até quando vai durar? Ninguém sabe.

A década se passa, a próxima temporada se seguir o cronológico deve começar em meados de 66 a 68. Ou seja, final de década. Até hoje eu não sei dizer o que me conquistou em Mad Men. Se foi o ar de New York nos anos 60. Se foi o charme de uma sociedade fugindo das mudanças. Ou se foi o fato de poder assistir de perto a história de homens e mulheres que viveram numa época de perguntas, de questionamentos. Uma época em que negros, mulheres, homens, gays, começaram a se questionar se o que tinham era o que eles podiam ter ou se existia algo mais, será que estamos fadados a continuar nessa mesma sociedade machista, conservadora? Será que o meu ser feliz é só o que todos determinam? Não foi pelos prêmios ou pela crítica, esqueça isso. 

Comece a ver Mad Men com outros olhos. Mad Men é uma série para você apreciar o todo, não só a parte. Termine a primeira temporada, são só 13 episódios. Se depois você não tiver vontade de continuar tudo bem, mas garanto que se continuar não vai se arrepender. É um drama de primeira e por vezes nos faz questionar o que estamos fazendo. A época é outra, as dificuldades são diferentes, mas as perguntas sobre ser feliz, trabalho, rotina, lugar no mundo, estou fazendo isso certo ou errado são as mesmas. Encerro por aqui. Essa é a minha visão da série.  Sinto muito se não agradar. Esses são alguns dos motivos que trouxeram Mad Men ao 6º lugar entre as “Melhores Séries da Atualidade”. Até mais! @Yasminck

8ª – 30 Rock

Nenhum comentário:

Postar um comentário