quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Rihanna em São Paulo 2011

Com buracos na plateia 

e atrapalhada com o figurino

cantora pop faz estreia 

da turnê brasileira com show padrão

Eduardo Viveiros
19 de Setembro de 2011

rihanna
Rihanna  deveria rever seu figurino. A cantora de Barbados entrou no palco em São Paulo, na estreia da sua turnê brasileira (que culminará na abertura oficial do Rock in Rio), com uma hora de atraso e vestida de marinheira: listras, meia arrastão, bota e uma infame hotpant  que insistia em sair do lugar. Sua maior coreografia, de longe, era ajustar as bordas da peça cavada no corpão de cantora latina.

O incômodo com a roupa, porém, não parece ter minado sua vontade em se exibir pelo palco. Com caras e bocas, aproveitando o poder das belas (e grandes) pernas à mostras, a moça não poupou esforços em poses e coreografias, chegando a ficar de quatro na plataforma em frente ao telão. O suficiente para animar a plateia de fãs e clones, que não conseguiu encher o espaço enorme da Arena Anhembi, visivelmente cheia de buracos - contribuindo para um show confortável, mas que poderia ter acontecido em um cenário menor.

Apesar de mimetizar o velho roteiro das cantoras pop, Rihanna se destaca por não dar grande espaço para sua equipe de palco. Sem se apoiar em grandes coreografias com bailarinos, gosta de ter o foco todo para si. E mesmo sem trocar de roupa durante a hora e meia de show (como é padrão das suas colegas na categoria), aposta no mise-en-scène. Sobe ao palco em um ovo hi-tech, tira da cartola um minitanque de guerra estilizado, além dos comuns jogos de fumaça e chuva de papel picado somada ao jogo de telão, que faz uma retrospectiva dos seus mil penteados. Nada tão milionário quanto uma Madonna ou Kylie Minogue, mas ainda eficiente.

Seu repertório é de hits - as músicas inéditas, tão esperadas, devem ficar para o grande show no Rock in Rio. Rihanna chegou ao palco com o eficiente trio "Only Girl In The World" + "Disturbia" + "Shut Up and Drive" até acabar com "Umbrella", no bis. Um setlist em ritmo de "best of".

Esperta, não arrisca grandes firulas. É simpática na medida e fala o necessário. Oferece um drink à plateia (abrindo espaço para a gafe do guitarrista Nuno Bettencourt, que cumprimentou a todos com um espanholíssimo "salud" ao tentar falar português) antes de "Cheers" e desce à grade para sentir o calor dos fãs, que mais uma vez puxaram o cabelo da cantora, comportamento que parece ter se tornado rotina durante seus shows pelo mundo.

É interessante ver como Rihanna capitaliza em cima da imagem de "good girl gone bad discreta do pop", mais do que qualquer outra cantora pop. Ela abusa da sexualidade sem largar mão do feminismo, seja com tacos de baseball nas mãos ou sentada em cima do seu tanque, como uma Xuxa pós-Guerra do Iraque. Mesmo nos momentos mais românticos, deixa claro que não quer e não precisa de um homem forte ao seu lado. Talvez resultado do trauma com seu ex-namorado Chris Brown, que lhe encheu de sopapos em 2009, grande escândalo da sua carreira. Nem as músicas com duetos especiais (como "Love The Way You Lie", com Eminem, e o ragga "Hard", com Young Jeezy) ganharam contrapartes masculinas ao vivo. Rihanna se basta - ou quer muito acreditar nisso.

Falta-lhe, porém, um pouco de fôlego. Ninguém duvida da voz razoavelmente potente e bem treinada da barbadiana, que apareceu bem na sessão de baladas da noite - como os pop adultos "California King Bed" e "Unfaithful". Mas nos momentos mais animados - que, de fato, são a parte mais divertida do espetáculo - Rihanna deixa a bola nas mãos das suas duas vozes de apoio, às vezes sobre o palco e outras fora dele (já trazendo a desconfiança de playback). Enquanto as moças, escolhidas a dedo pela voz parecidíssima, dão a letra da música, a estrela baila e se resume a versos esparsos, até nos refrões.

Mesmo sem coreografias imensas, acaba-se com a impressão que Rihanna não consegue cantar e dançar ao mesmo tempo - coisa que qualquer um dos seus fãs mais devotos consegue, seja na boate ou de MP3 player na orelha. Tão esforçada, a cantora não deveria deixar a impressão de que, no fundo, se contenta em ser backing vocal no próprio show. Será culpa da roupa, que insistia em apertar seus fundilhos?


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