domingo, 21 de fevereiro de 2010

Lançamentos de discos brasileiros diminuem 80%


Número foi divulgado pela Federação Internacional da Indústria Fonográfica; grandes gravadores apontam os motivos

Número de discos nacionais lançados em 2008 é um décimo de uma década atrás; Zezé Di Camargo reclama de pirataria



A música brasileira está com uma corda em volta do pescoço. É o que aponta o relatório da Federação Internacional da Indústria Fonográfica de 2010, divulgado no fim de janeiro.


Segundo o estudo, os lançamentos de discos de artistas nacionais pelas cinco maiores gravadoras do país caíram 80% entre 2004 e 2008. E, em 2008, foram lançados 67 álbuns de artistas nacionais pelas mesmas companhias -um décimo do número de uma década atrás.


Os números soam ainda mais pessimistas em um mercado como o brasileiro, no qual 70% da música consumida é local.


Mas, para Paulo Rosa, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), a estatística é inflada. "Essa redução é muito menor do que os 80% apontados", afirma. Rosa explica que as gravadoras dividem seus produtos em três séries de preço -alta, média e econômica. Mas, com as condições adversas de mercado, cada vez mais lançamentos de artistas nacionais são feitos com preço mediano. E o levantamento do IFPI considerou como lançamento apenas aqueles de preço mais alto. "Embora a estatística seja exacerbada, é a realidade. O investimento no repertório nacional diminuiu muito", rebate José Antônio Éboli, da Universal.


A Folha ouviu os presidentes das cinco principais gravadoras brasileiras sobre as causas para essa queda e a pirataria física e virtual é a primeira apontada. "Ela só vai diminuir mais o investimento em repertório local", diz Sérgio Affonso, presidente da Warner. Para Alexandre Schiavo, da Sony, falta uma lei severa contra a prática.


Para Zezé Di Camargo, que viaja o país fazendo shows, a pirataria se beneficia da ausência de pontos de venda em pequenas cidades. ""É muito difícil comprar um disco original no interior. Antes, qualquer cidade tinha sua loja. Hoje, tem muita gente que compra o pirata porque não encontra o original", afirma. O cantor defende que se esses pontos ainda existissem, venderia 30% a mais de seus discos. "Hoje, a gente vende 30%, 40% de discos que vendíamos. É muito diferente do que era há dez anos", diz Zezé, que, ao lado do irmão, Luciano, foi um dos artistas mais comercializados no Brasil em 2008.


Para Leonardo Ganem, da Som Livre, com a queda de venda de CDs as gravadoras passaram a arriscar menos. "A indústria tinha como lema gravar dez artistas para ter dois sucessos. Hoje, isso seria uma insanidade. Você tem que ser muito mais seletivo", diz Éboli.


Nesse cenário, artistas estrangeiros já consagrados se beneficiam. "Boa parte do que você tem que fazer vem pronto, o custo é menor", diz Affonso sobre gastos como gravação de disco e divulgação.


"Infelizmente, vai voltar a ser como na década de 70, 80, quando o mercado era 25% de música brasileira e 75% de internacional", arrisca ele. O que mudou esse quadro foi um incentivo que o governo criou para gravação nacional. As companhias podiam abater do ICM (imposto sobre circulação de mercadoria) a ser pago o que investiam em artistas nacionais, explica Éboli. "Mas o incentivo foi retirado há cinco anos. O produto nacional passou a competir em igualdade com o internacional por investimento. É como comparar o "Avatar" a um filme nacional."


Apesar da redução, Rosa é otimista em relação à venda de música brasileira, 70% do total. "É uma taxa muito alta de repertório local, superada apenas pelo mercado americano." Marcelo Castello Branco, da EMI, concorda: "É uma posição diferenciada".


BRUNA BITTENCOURT
F.S.P.

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