terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Sebos elaboram sites e debatem futuro incerto


Livreiro tradicional se adapta à internet e oferece maior organização e conforto.

Enquanto para alguns o fim das lojas de rua é só questão de tempo, "integrados" defendem que amor pelo livro garante perenidade.



Há quatro meses, o Sebo do Messias, um dos maiores de São Paulo e do país, alugou dois pavimentos num subsolo contíguo à uma de suas lojas na praça João Mendes, na Sé. Ali, na carcaça de um velho estacionamento, instalou o setor de internet de seu negócio.

Possui hoje dois acervos distintos, um somente para vendas virtuais no site próprio, com 100 mil volumes, outro para os clientes das três lojas de rua, com 150 mil títulos. "Se alguém compra um livro pela internet e alguém o tirou agora da loja, seja para comprar ou por desorganização, eu deixo o cliente da internet na mão", justifica Messias Antônio Coelho, 69, ex-lavrador mineiro que está no ramo há 40 anos.


Ele afirma que não cadastra seus livros em outros portais ("Quero andar com meus pés"), mas outros livreiros asseguram que o orgulho passa ao largo da verdade: para alavancar o próprio site, contam, Messias põe seus livros em páginas alheias travestido com outro nome.


O Brandão também tem sites próprios, mas diz que vende muito mais pela Estante Virtual. Outros sebos tradicionais do país, como A Traça (Porto Alegre), o Osório (Curitiba), e o Sebo Cultural de João Pessoa, dono da maior acervo da Estante Virtual (85 mil volumes), oferecem em suas páginas coleções on-line expressivas.


Para sobreviver, todos no setor, principalmente os menores, foram forçados a transgredir a velha imagem dos sebos. É algo que fica nítido na rua Pedroso de Morais, em Pinheiros, que reúne num quarteirão oito lojas cujos diferenciais são organização e limpeza -e, em alguns casos, conforto e charme.


Isso não impediu que as vendas caíssem em até 50% nos últimos anos no local, especialmente nas lojas que não cadastraram acervos nos portais de venda. Assim, prevalece entre os livreiros de rua a ideia de que o comércio on-line tem de ser seu aliado, não inimigo.


"Com a "Estante", você ganha uma fonte de receita regular, com menos oscilação que a da rua. Se está chovendo, como nas últimas semanas em São Paulo, a rua é um desastre", diz o escritor e jornalista Bernardo Ajzenberg, dono do sebo Avalovara, em Pinheiros, que faz 35% de suas vendas pelo portal.


Se os "integrados" defendem a adequação e dizem que o amor ao livro manterá os sebos de rua vivos, os "apocalípticos" honram o nome. "A internet está tirando o leitor da loja. Num futuro próximo não haverá mais livraria no Brasil", prevê Brandão Jr., do sebo homônimo.
(FABIO VICTOR)






"Garimpeiros" celebram o caos que internauta rejeita


Sentado num banco no corredor de um sebo no centro de São Paulo, o artista plástico Odires Mlaszho interrompeu o garimpo para contemplar uma pepita extraída do caos de livros velhos: um catálogo de produtos eletrônicos em alemão por R$ 3.


Não que o conteúdo interessasse a Mlaszho -ele nem tentou ler o que estava escrito-, mas lhe encantou o projeto gráfico datado e a disposição das letras no índice do volume. O artista, que entre outras coisas trabalha com livro-objeto, acrescentou de pronto o achado à sua cesta de compras.


"Sou profissional em garimpagem. O que gosto nos sebos, principalmente nos bagunçados, é que eles permitem isso. Portais como Estante Virtual ajudam bastante, às vezes consulto, mas o bom mesmo é descobrir algo que eu não queria comprar", diz Mlaszho, que vai a sebos pelo menos duas vezes por semana e diz que não pretende deixar de frequentá-los.


Seu contraponto é o professor universitário de engenharia mecânica Whisner Fraga, de Ribeirão Preto (SP), que, desde a expansão do comércio online de livros no país, praticamente só compra no ciberespaço. Foram, contabiliza ele, mais de 700 títulos adquiridos desde 2005 em sebos de todo o país, sempre via Estante Virtual.


"Compro diariamente pela internet, atualmente cerca de dez livros por semana. Muitas vezes alguém indica um livro, mas na loja não tem, está esgotado, então vou à internet e quase sempre acho", explica Fraga, cuja biblioteca privada soma 4.000 volumes.


O professor, que hoje raramente vai às lojas ("Às vezes para folhear novidades"), conta que pela rede seleciona a partir do preço, depois da foto, do ano de publicação e da descrição do estado do livro.

(FV)

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