O homem que tem o Universo DC nas mãos
Em passagem por São Paulo, Eddie Berganza, editor-sênior da DC, concedeu uma entrevista exclusiva ao Universo HQ e falou sobre artistas brasileiros, a Crise Final e muito mais
Por Eduardo Nasi
Quem provocou os comentários foi Eddie Berganza, editor sênior da DC Comics, em passagem pelo Brasil para uma série de eventos em São Paulo e Belo Horizonte, onde acontece o 5º FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos.
Berganza passou a tarde quente e abafada avaliando pastas de desenhistas brasileiros numa área ao ar livre nos fundos da escola. E havia bastante gente com portfólio debaixo do braço. Afinal, o editor é "peixe grande" justamente no cobiçado mercado norte-americano: depois de anos como o responsável pelos títulos de Superman, cuidou de Crise Infinita e assumiu revistas como Íon, Lanterna Verde, Novos Titãs e a elogiadíssima Liga da Justiça de Brad Meltzer.

Foi num intervalo entre as avaliações que Berganza falou com o Universo HQ sobre seus novos títulos na DC, Crise Final, a relação com criadores internacionais, download ilegal de quadrinhos, brasileiras gostosas e Lost.
Universo HQ: Bem, a primeira pergunta é inevitável. É sobre...
Eddie Berganza: A Crise Final?
UHQ: É.
Berganza: Hm, isso vai ser uma resposta longa. (risos)
UHQ: Bem, é bem provável que você não vai nos adiantar nada, mas não custa tentar.
Berganza: Grant Morrison é o escritor, J.G. Jones é o artista e a série é muito legal.
UHQ: Aqui no Brasil estamos acabando de ler Sete Soldados da Vitória no mês que vem. A minissérie é realmente tão conectada com a Crise Final quanto parece?
Berganza: Sim, eu contaria isso pra todo mundo. É isso.
UHQ: E o Homem-Animal do Grant Morrison, que já tinha uma relação com Crise nas Infinitas Terras?
Berganza: É uma série muito boa, mas eu apostaria mais em Sete Soldados.

Berganza: É verdade. Tem coisas grandes acontecendo. E está tudo coordenado. Cada história adiciona um fato novo e torna o Universo DC maior. É uma coisa que estamos fazendo bem desde Crise Infinita, quando a Guerra Rann-Thanagar, o Pacto das Sombras, tudo fazia parte de um plano maior. E isso vai até a Crise Final, passando por Countdown e por uma série que estou coordenando diretamente, Sinestro Corps.
E isso vai ser grandioso. Eu a chamo de "O Império Contra-Ataca por Geoff Johns". E então há um O Retorno de Jedi que será realmente bom!
UHQ: Essa fase que está saindo no Brasil é justamente a que marca a sua saída de Superman e o começo do trabalho em novos títulos. Tem algo em especial de que se orgulhe?
Berganza: Definitivamente, a Liga da Justiça. O Tornado Vermelho é um personagem fantástico. Se você nunca deu bola para ele, vai rever seus conceitos. Meltzer faz coisas incríveis com os heróis menores, como Vixen.

Berganza: Não, não tem. Novos Titãs também entra em uma fase boa, a equipe sai renovada... Vocês têm Titãs aqui?
UHQ: Sim, agora há duas novas revistas dedicadas à DC e lemos praticamente tudo que vocês publicam. Possivelmente, temos quase todos os seus títulos nas bancas.
Berganza: Então, os leitores vão perceber que Titãs também está completamente ligado à Crise. O grande lance é que o grupo muda, sai em busca de algumas coisas. Até Íon é interessante, porque foi onde comecei. Eu era editor-assistente quando o Kyle surgiu e é natural, para mim, ter editado o título.
E agora estou com Lanterna Verde, porque o editor que cuidava da revista saiu. Eu queria muito esse título, muito mesmo, então insisti.
UHQ: É uma fase em que os Lanternas Verdes estão recuperando a importância que já tiveram.
Berganza: É, eles estão grandes agora. Se bem que sempre estiveram por perto. Pode conferir: todo grande evento da DC tem um Lanterna Verde envolvido. Tivemos a Noite Final, em que Hal Jordan reacende o Sol, depois Kyle Rayner estava na Zero Hora... Sempre tem um Lanterna Verde.

Berganza: Foi a internet. Dá uma tranqüilidade imensa não ter que esperar por um pacote amarelo que chega pelo correio de um país estrangeiro. E, por outro lado, qualquer um pode nos encontrar.
O que é excelente para mim é que posso trabalhar com artistas que, no passado, não teria como. (Berganza aponta para Joe Prado, que estava ao lado) Veja o Joe: se preciso de um artista, digo o perfil para ele e logo recebo as amostras. Não tem nenhum pacote envolvido. É muito fácil. (Nota do UHQ: Prado trabalha para o Art & Comics, que licencia artistas brasileiros no exterior)
E há outros artistas de quem corro atrás para trabalhar, que é caso do Ed Benes, que acompanho desde WildCats.
UHQ: E você chega a ler quadrinhos feitos em outros lugares do mundo em busca de artistas?
Berganza: Bem, depende. Eu só leio espanhol, que é a única outra língua que sei.
UHQ: Nem material que é traduzido para o inglês?
Berganza: Até há alguns, mas não tanto quanto se pensa. E esses eu leio para ver se encontro algo diferente. Mas é difícil acompanhar tudo. Por isso, é bom fazer viagens como esta. É assim que tenho tempo de olhar trabalhos de artistas e até mesmo álbuns.
UHQ: Que diferenças você vê entre os artistas internacionais e norte-americanos?
Berganza: Muitas, com certeza. Os mexicanos, por exemplo, têm um estilo mais próximo do cartum, do desenho animado. Os espanhóis são sombrios. Até o Brasil tem um estilo, mesmo que vá de um Ed Benes a um Ivan Reis.

Berganza: He, he. Mas isso é fácil pra vocês! É só olhar pra rua. Esse... hmmm... traseiro das mulheres do Ed Benes estão por todo lugar. É sensacional.
UHQ: Por aqui, o download ilegal de quadrinhos já é bem grande, até por causa do atraso de um ano em relação à publicação norte-americana. Como você tem visto isso nos Estados Unidos?
Berganza: A experiência de vocês aqui é parecida com a que temos com encadernados. E, ao mesmo tempo, é o oposto, porque lá as pessoas esperam para comprar as histórias nos encadernados.
Mas o ponto é que mais do que nunca precisamos fazer boas histórias, porque essas vão ser lidas sempre.
UHQ: Para fazer um filme em Hollywood se faz muita pesquisa para entender o público e as necessidades. Nos quadrinhos isso existe?
Berganza: Não tem quase nenhuma, porque não dá tempo. É pouco eficiente, até porque não há como mudar. O que precisamos é de boas histórias, porque são elas que ultrapassam limites demográficos e tal.

UHQ: Você trabalhou naquela edição do Lanterna Verde que foi citada no começo de Lost. Por acaso ficou sabendo qual o mistério por trás daquela aparição?
Berganza: Tudo que sei é o que todo mundo sabe: na revista e no episódio aparecem um urso polar.
Eduardo Nasi é um grande fã dos quadrinhos da DC Comics. Pena que Berganza não teve tempo de ouvir as teorias dele para a Crise Final. Talvez fosse a chance de um brasileiro salvar o universo de Superman, Batman e companhia...
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