quinta-feira, 17 de março de 2011

  Miranda Kassin e André Frateschi - Hits do Underground - 2010


Na sequência, este disco de "hits", que é legal.

Vou colar aqui em baixo esta matéria do Globo sobre o disco, que também discute a abrangência do "underground":

"CD de Miranda Kassin e André Frateschi reúne 'hits' do circuito alternativo e chama a atenção para um novo conceito de sucesso

RIO - À primeira vista, o nome do CD parece piada - e há uma inegável dose de humor ali, sim. Mas "Hits do underground", de Miranda Kassin e André Frateschi, é mais do que uma contradição engraçadinha. Em primeiro lugar, porque o título efetivamente cumpre o que promete, ou seja, uma compilação de canções que tiveram alguma representatividade no circuito alternativo brasileiro (umas mais, outras menos) nos últimos anos. E, mais do que isso, o enunciado sintetiza com precisão esta era segmentada - pela proliferação de gravadoras independentes com focos específicos, pela mudança que a internet (MP3, redes sociais) provocou na relação dos fãs entre si e com os artistas - na qual cada nicho tem suas "mais tocadas".

Óbvio em segmentos como o indie rock, o fenômeno mundial abarca também gêneros tradicionais, como a escola clássica da MPB e o samba. O compositor José Miguel Wisnik - que nesta década lançou um CD com faixas como "Baião de quatro toques" e "Assum branco", que, apesar de não terem alcançado as massas, tiveram impacto sobre um determinado público (regravações e releituras ao vivo por artistas como Gal Costa, Mônica Salmaso e Djavan indicam isso), transformando-se num exemplo perfeito desta era - comenta um dos efeitos dessa nova configuração.

- Há pouco tempo recebi uma lista que trazia, ano a ano, as músicas mais tocadas nas últimas décadas. Vim acompanhando, reconhecendo artistas e canções, mas chega um momento em que não conheço mais nada. É um reflexo dessa pulverização, a lista passa a representar apenas determinados segmentos - avalia o compositor, que indica que o próprio nome de seu disco (o ambíguo "Pérolas aos poucos") carrega num de seus sentidos uma referência à existência desses nichos: - Minha música circula de maneiras que eu mesmo não sei quais são. Chego a lugares diferentes do Brasil e vejo pessoas que sabem as letras. São redes que, para artistas que não estão nos meios de massa, têm um grande alcance, uma capilaridade.

Compositor de sucessos de um tempo em que eles ultrapassavam muros de nichos e atingiam públicos dos mais diferentes perfis ("Portela na avenida" e "Poder da criação" são dois exemplos entre muitos), Paulo César Pinheiro é autor de uma canção que, nessa lógica do mundo pós-internet, tem peso de clássico para o público específico do samba. Trata-se de "Nomes de favela", lançada em 2003 pela Biscoito Fino (uma dessas gravadoras segmentadas surgidas na última década).

- Os meios mudaram. E como as rádios e as gravadoras passaram a dar espaço para um único tipo de música, os artistas migraram para outros espaços, o computador. Democratizou, enfim - defende Pinheiro. - Os artistas conseguem gravar e o público consegue chegar à música de que gosta, inclusive a coisas fora de catálogo, que no passado eram inacessíveis e hoje estão a uma clicada de distância.

Gabriel Thomaz, vocalista da banda de rock Autoramas (com alguns "hits do underground" em seus 13 anos de carreira, como "Você sabe" e "Fale mal de mim"), também celebra a democratização que produz nichos.

- Você pode escolher aceitar o que é enfiado por sua goela abaixo ou ir atrás do que gosta. Isso é muito legal. Porque antes, se o sucesso era lambada, você tinha que aturar. Hoje todas as capitais têm festas segmentadas - diz Gabriel, que atribui ao mercado, e não a questões musicais, a dificuldade de surgimento de hits que rompam barreiras. - "Aquela", que gravei com o Little Quail, era um hit underground. Mas quando os Raimundos gravaram, vendeu demais. É só o público ter acesso.

No CD "Hits do underground", o casal Miranda Kassin e André Frateschi (com produção de Plinio Profeta) recorta um grupo específico - artistas da geração BR-00 (Os Mulheres Negras, da década de 90, são a única exceção), de todo o país, mas cujo trabalho circula pelos arredores da paulistana Rua Augusta, em palcos como o Studio SP. Estão lá Cérebro Eletrônico ("Dê"), Wado ("Fita bruta"), Rubinho Jacobina ("Artista é o caralho"), Curumin ("Magrela fever") e Mombojó ("Deixe-se acreditar"). Músicos que, diferenças estéticas à parte, trazem pontos de contato, afirma André:

- O barateamento da produção de um disco, o surgimento de novos espaços para mostrar sua música, o público que aprendeu a se informar por outras fontes que não a grande mídia, tudo isso fez esses artistas arregaçarem as mangas - diz André. - A identidade vem dessa forma de produção.

Intenção de fazer um CD pop

Curiosamente, o conceito do CD - sugestão de Plinio e de Alê Youssef, sócio do Studio SP - traz a ambição de fazer essas músicas romperem as fronteiras de seu segmento de origem e lançá-las para o grande público ("Tivemos a intenção deliberada de fazer um disco pop", resume o cantor). Um desejo que acabou por lançar luz sobre o valor das canções - letra e música - em si, que muitas vezes passava batido sob a riqueza de texturas dos arranjos originais.

A abordagem da dupla bebe nas referências que os dois trazem de trabalhos anteriores. Ambos fazem sucesso em São Paulo com shows de covers: ele toca David Bowie e tem um projeto cantando Tom Waits com Cida Moreira; ela faz um tributo a Amy Winehouse e a divas do soul. Partindo dessas influências, um dos maiores desafios foi cantar em português.

- O inglês permite vibratos que em português soam cafonas - explica Miranda. - E no CD lidamos com uma tradição de canção que não é a nossa. Não passei anos ouvindo Chico Buarque e Tom Jobim.

O lançamento do CD será no próximo sábado, no Studio SP (em show com supervisão artística de Monique Gardenberg). Eles negociam a vinda ao Rio, para o Rival + Tarde. Uma oportunidade de ouvir os futuros hinos de uma geração (correção: de certo segmento dela).

- Tendo a pensar que não teremos o "Inútil" dos anos 2000 - diz André. - Sinto, porque cresci com isso. Mas não sei se será ruim, não sei como um moleque que hoje tem 15 anos vai lidar com a inexistência desses hinos de geração ".

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