quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

crítica
Imortais
(Immortals, 2011)
Por Marcelo Leme Avaliação:           5.0








Mitos desfigurados.

O cinema sempre adaptou mitologias e muitas delas sofreram com narrativas deturpadas, cujo propósito era apresentar versões distintas das fabulas, sacrificando o original a troco de potencial comercial. Este Imortais (Immortals, 2011) é o mais recente exemplo disso, e dificilmente agradará admiradores de mitologia grega. O roteiro sabota as lendas, embora em alguns atos busque referenciá-las. A decepção só não é maior pela diversão proporcionada, ainda mais pelo 3D que, se não é exuberante, ao menos não é ridículo como em várias produções recentes. Esquecendo-se – se é que isso é possível – que a história baseia-se em mitos, a obra torna-se um interessante longa de ação-ficção cujos nomes dos personagens foram emprestados dos personagens gregos.

A produção é caprichada, contando com aspectos técnicos empolgantes, entre eles a direção artística de Tom Foden, que marca com sombras a guerra entre a humanidade sobre o olhar esperançoso dos deuses. Cenas recorrem à beleza paisagística da Grécia antiga retratada em obras medievais, e o cenário gráfico impressiona juntamente ao figurino espalhafatoso, destacando-se nesse meio os deuses com suas armaduras douradas e os oráculos. Produzido por Gianni Nunnari e Mark Canton, dupla responsável por 300 (idem, 2007), o longa conta com vários momentos que levam o espectador a recordar da obra de Zack Snyder, sobretudo a câmera lenta registrando combates coreografados num travelling vagaroso.

No entanto, tantos artifícios artísticos não são o bastante para encobrir a mediocridade narrativa, sem nenhum compromisso com a veracidade dos mitos, o que, de certo modo, pode ser encarado como ofensa por seus mais fiéis apreciadores. Não é que tenha obrigatoriedade de ser idêntico ao conto, mas a trama deveria ganhar atenção. O desenrolar dela é insossa e preguiçosa, cheia de argumentos supérfluos para encaminhar uma ótica discutível a respeito dos interesses de seu herói. Teseu (Henry Cavill, o próximo Super-Homem) é transportado para outra história. Não sabe quem é o pai, ao contrário da fabula mitológica a qual indicava ser filho de Egeu, rei de Athenas. No longa foi treinado por Zeus em forma humana (John Hurt), o jovem que não teme o fracasso, a vergonha e a derrota, deve liderar o exército helenico contra o domínio do rei vingativo Hipérion (Mickey Rourke). Este está em busca do Arco de Epiro para libertar os Titãs aprisionados.

A jornada de Teseu se dá após assistir a mãe ser assassinada. Escravizado, se rebela junto a outros escravos e encontra a Oráculo (Freida Pinto) que o adverte sobre um futuro infeliz. O arco dramático se faz nesse percurso com altas doses de ação, ondas gigantes e sangue esguichando. Buscando apoio em algumas alegorias, acompanharemos um duelo decepcionante contra o Minotauro no labirinto. O novelo de linha que marcava o direcionamento de Teseu no labirinto deu lugar a rastros de sangue. Tarsem Singh assumiu o projeto entrando na ode de obras análogas, como os recentes Fúria de Titãs (Clash of the Titans, 2010) e a adaptação literária de Percy Jackson e o Ladrão de Raios (Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief, 2010) – que não deu certo. Entre tantos embates, fica uma sugestão sobre crenças, intervenções divinas e o livre arbítrio. Soa gratuito e passional, e quando Athena (Isabel Lucas) clama a Zeus (vivido por Luke Evans) para que ele não abandone a humanidade, aí fica difícil de levar a coisa toda a sério. 

Com atuações convenientes, o filme desenvolve-se de uma maneira expositiva, pouco exigindo de seu recheado elenco. Henry Cavill não tem lá muita simpatia, mas não decepciona nas cenas de ação – um prelúdio ao que virá no novo Superman - Homem de Aço (Man of Steel, 2013). Já a indiana Freida Pinto emula seu encanto notável, exibindo uma beleza divinizada numa cena de nudez. Rourke cumpre bem o papel de vilão, com ditados nada convencionais, violência amplificada e frutas mastigadas.  O restante do elenco pouco acrescenta encenando, pairando num tom consentido as pretensões visuais de Tarsem Singh.

Imortais é mais uma obra que se apóia em mitologias e decepciona em sua elaboração, porém inclui razoáveis conflitos capazes de deixar o público minimamente satisfeito – destaca-se a ira dos deuses num ato final – e um aparato técnico competente o bastante para glorificar o projeto pela experiência visual proporcionada. É a pincelada hollywoodiana funcional, buscando franquias quase às escuras, investindo num gênero tradicional para evocar novos seguidores.

Por Marcelo Leme, em 02/01/2012 Avaliação:           5.0

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