Avaliação: NOTA 4
 


Um dos fundamentos mais básicos em um suspense de sobrevivência é fazer com que o público se interesse e se importe pelos personagens colocados naquela situação de perigo. Ao não fazer isso, a história, seja ela contada em um livro, série ou filme, se torna uma mera contagem regressiva para ver qual será o próximo a morrer, com a audiência jamais investindo emocionalmente em nenhuma daquelas pessoas e, consequentemente, jamais se importando com a trama.

Pois bem, alguém se esqueceu de contar isso aos realizadores deste “A Hora da Escuridão”, fita produzida pelo cineasta russo Timur Bekmambetov (“O Procurado”) e dirigida por Chris Gorak,  cujo retrospecto mais proeminente no cinema é como diretor de arte em longas como “Minority Report – A Nova Lei” e “Clube da Luta”. Unir dois profissionais que não são exatamente especialistas em desenvolvimento de personagens provavelmente não ajudou no sucesso da produção.

A trama básica mostra os desenvolvedores de software americanos Sean (Emile Hirsch) e Ben (Max Minghella) em aventura pela Rússia tentando fechar um grande negócio. Durante uma balada noturna, os dois conhecem as turistas Natalie (Olivia Thrilby) e Anne (Rachael Taylor). Tudo corria bem, até estourar uma invasão alienígena que os coloca em uma corrida pela própria sobrevivência.

Os aliens, aparentemente sem corpos físicos, são capazes de desintegrar seres vivos ao entrar em contato com eles. A presença das criaturas é delatada por surtos de eletricidade, como o ligar repentino de lâmpadas ou celulares. Ou seja, são antagonistas com um potencial formidável para um longa de suspense. No entanto, o visual pouco ameaçador das luzes amarelas da “aura” dos aliens e o efeito copiado de “Guerra dos Mundos” dos ataques destes acabam minando essa possibilidade. Até mesmo quando os bichos aparecem em sua forma real eles lembram mais um Pokémon do que qualquer outra coisa.

Outro problema são os personagens. O cast principal conta com ótimos jovens atores. Ninguém duvida do talento de Emile Hirsch, Max Minghella ou Olivia Thrilby. A questão é que eles não possuem espaço para trabalhar e estabelecer seus personagens, contando com cerca cinco minutos de histórias pessoais antes dos aliens invadirem, com a fita jamais permitindo que os conheçamos. Nesse sentido, o longa mais parece um adolescente ansioso para chegar ao clímax, pulando todas as preliminares.

Durante o segundo ato, são apresentados novos personagens russos, todos bastante caricatos e sem muita expressão, quase como se o roteiro estivesse cumprindo as cotas de adolescentes sobreviventes, militares durões e cientistas loucos. Chris Gorak ainda tem uma desatenção a detalhes que é preocupante. Em dado ponto, os protagonistas passam quase uma semana barricados em alguns escombros. Nesse período, nem as roupas deles ficam amarrotadas ou rasgadas e nem a barba dos rapazes cresce um milímetro que seja. Sem contar a arma elétrica que, mesmo molhada, continua a funcionar.

Além disso, a montagem é trôpega, com o cineasta e seus três montadores usando tanto o recurso do fade out que  começa a irritar. Dando a mão à palmatória, o diretor consegue arrancar algumas tomadas interessantes de Moscou deserta, coberta com as cinzas dos mortos, e a película conta com alguns efeitos bem realizados, principalmente nos escombros da metrópole russa, mas é pouco para compensar o investimento.

Quando visitamos uma cidade nova, nos sentimos como um elemento estranho ali e a adição de uma invasão alienígena seria uma oportunidade interessante para lidar tal premissa. No entanto, os realizadores falharam em perceber isso. A falta de grandes cenas de ação e a inclusão de uma trilha sonora genérica completam o espetáculo tedioso, que termina em um gancho para uma sequência que provavelmente nunca sairá.
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Thiago Siqueira
 é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.