Avaliação: NOTA 7
 


Quando Guy Ritchie assumiu a adaptação moderna de Sherlock Holmes em 2009, o potencial da franquia estava claro principalmente com a participação de Robert Downey Jr., certamente o ator de maior credibilidade e, ao mesmo tempo, cinismo da atualidade. Adaptando de uma forma peculiar o detetive criado por Sir Arthur Conan Doyle para as telonas, o segundo filme mantém o nível de entretenimento do primeiro e aumenta a ação em uma história basicamente mais interessante, mas se atropela em algumas escolhas erradas.

Em “Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras”, o maior inimigo de Holmes (Robert Downey Jr.) é o professor Moriarty (Jared Harris), que está envolvido com um plano que pode dar origem a um dos maiores conflitos da humanidade. Começando do ponto de onde o último longa parou, vemos Holmes se desventurar ao lado de Irene Adler (Rachel McAdams), até que esta tem seus serviços suspensos devido a uma suposta traição. Enquanto Watson caminha para o casório, Holmes detecta mais um plano mirabolante que precisa de sua interferência. Após convencer Watson que esse seria o último problema que o causaria e ajudado pela Cigana Simza (Noomi Rapace), o trio parte em uma viagem por vários países em busca de impedir os planos de Moriarty.

Mais uma vez, Ritchie conta com uma direção de arte impecável na reprodução da época e dos cenários onde a história se passa. Ainda que o uso da tela verde seja exagerado, os efeitos visuais compensam a artificialidade de algumas sequências. Aliás, Ritchie conta com uma equipe técnica bem mais afiada, focada no bom desenvolvimento das cenas. A trilha sonora de Hans Zimmer mais uma vez dá o toque característico de investigação que a trama precisa, sem nunca cair no caricato. A mistura de todo esse bom desempenho é notável principalmente na sequência do tiroteio na floresta, um espetáculo visual irretocável.

O roteiro da dupla Michele e Kieran Mulroney investe em conflitos bem mais interessantes que colocam as habilidades de Sherlock na berlinda, já que agora o seu inimigo é tão inteligente quanto ele e, de certa forma, há uma admiração mútua que canaliza uma disputa pessoal bem apresentada em uma das sequências do terceiro ato, mais precisamente quando o xadrez é o elemento chave para um dos diálogos mais inspirados da franquia. Outro ponto positivo é a relação entre Holmes e Watson, que faz com que o primeiro mostre um pouco da sua humanidade, mesmo que ao seu jeito próprio, e se importe com o destino de Watson, por mais perigoso que isso possa custar.

A montagem de Ritchie exagera na autoexplicação, enquanto vai e volta ao tempo para mostrar o que o público precisa saber, sem aceitar que os espectadores estavam atentos o suficiente para compreender a trama. Não que o texto subestime a capacidade de quem assiste (quase), mas a insistência em explicar demais alonga as pontas do roteiro. Afinal, sem motivações ocultas ou mesmo segredos curiosos, a obra perde um pouco da graça. Ritchie, que é um dos cineastas mais talentosos da atualidade, aqui se perde um pouco no seu próprio estilo com o exagero nos recortes da edição, mas nada que o diminua frente ao resultado final, que é proporcionar entretenimento ao público.

As piadas continuam sendo os pontos mais fortes do filme, até porque ficou claro desde o anterior que, se não fosse Robert Downey Jr., a franquia estaria fadada ao fracasso. As gags e o teor cômico se aproximam do deselegante, mas Downey Jr. consegue superar isso e dar o seu toque pessoal de ironia. É da química com Jude Law que saem os melhores momentos da película. Se por um lado vemos o melhor desenvolvimento dos personagens, o vilão perde sua força pelas motivações, que não são tão surpreendentes. E por mais que Jared Harris tente dar a presença necessária a Moriarty, apenas quando se sobrepõe a Sherlock é que ele alcança a nuance correta, tendo nas demais cenas pouca vitalidade ou funcionamento.

Noomi Rapace tem pouca energia em cena e nem mesmo suas habilidades contribuem para algo importante da história. Subutilizada pelo roteiro, a atriz não consegue substituir Rachel McAdams que, em sua pequena participação neste longa, serve não só como elo entre os dois filmes, mas como colírio aos espectadores. A principal adição ao elenco fica com Stephen Fry na pele de Mycroft Holmes, irmão de Sherlock, e peça essencial para a sustentação de todo aquele engodo. Ao ator também é dada uma comicidade que complementa a persona de Sherlock e funciona com espontaneidade em cena.

“Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras” é uma boa pedida para os amantes da diversão por trazer bons momentos de ação e personagens impagáveis. O talento de Guy Ritchie encontrou em Robert Downey Jr. e Jude Law boas oportunidades de realizar um blockbuster de qualidade e certamente a franquia não irá parar por aqui, tendo uma infinidade de possibilidades para novas histórias do detetive mais peculiar da história.
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Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), é especialista em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e arte educador na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.