domingo, 15 de janeiro de 2012

Crítica: O Concerto





 
Mesmo depois de aparecer na lista do Globo de Ouro, ainda não tinha conseguido dedicar meu tempo para assistir essa comédia francesa que tão surpreendentemente chegou ao Brasil. Para falar a verdade, meus motivos iniciais para conferi-la nos cinemas era a simples presença de Mélanie Laurent, a bela e maravilhosa atriz de Bastardos Inglórios e Paris. Mas esta semana recebemos um simpático e-mail de um leitor que nos recomendou o filme e pediu nossa opinião a respeito dele, portanto achei quase uma obrigação assisti-lo e escrever este texto.
 
Há 30 anos atrás, Andrei Filipov era um renomado maestro da orquestra de Bolshoi. Durante o governo comunista de Brejnev, Andrei foi demitido de sua função por ter o hábito de contratar músicos judeus. Pior que isso, foi humilhado durante a apresentação mais importante de sua carreira. Passadas três décadas desde o ocorrido, Andrei se tornou faxineiro da mesma orquestra que uma dia comandou. Um dia, limpando a sala de seu chefe, ele lê um fax de Paris com um convite para a orquestra de Bolshoi tocar no monumental Théâtre du Châtelet. Em uma decisão radical, Andrei rouba o fax e começa a montar sua própria orquestra para terminar a apresentação que havia sido interrompida 30 anos antes. Então, o ex-maestro reúne seus velhos amigos e uma jovem talentosa violinista (que possui uma ligação misteriosa com o protagonista) para preparar um concerto das obras de Tchaikovsky em nada mais que duas semanas.

O Concerto pode muito bem ser descrito como uma sátira política. Apesar de tratar de um assunto sério como a discriminação étnica no antigo regime soviético, o filme usa o humor para passar sua mensagem. Desde os comunistas de hoje em dia retratados de forma muito caricatural, até as brincadeiras estereotipadas com algumas etnias (os judeus gananciosos, russos mal educados e etc). E como uma boa sátira deve ser, o filme diverte bastante e consegue nos encantar. Qualquer pessoa que tem ou já teve um grande sonho, vai se identificar com os absurdos que Andrei faz para realizar seu concerto, ou pelo menos os respeitar.

Infelizmente, o filme tem alguns pontos fracos. Digo infelizmente porque se não fosse por alguns problemas de roteiro, O Concerto tinha tudo para se tornar um verdadeiro espetáculo. Os roteiristas se deixaram levar pelo caminho mais fácil e rechearam a trama com “licenças poéticas” e situações extremamente absurdas e inverossímeis. Por se tratar de uma comédia, ou sátira como caracterizei no parágrafo anterior, a gente acaba esquecendo e deixando passar, mas acredito plenamente que esse tipo de cuidado em roteiro que muitas vezes diferencia uma comédia divertida de um filme genial. Além disso, as revelações em flashback das últimas sequências se mostram um tanto confusas, não sei se por culpa do roteiro ou da montagem mal realizada.

De qualquer maneira, deixando passar algumas pequenas falhas desagradáveis, o filme é muito bom. O protagonista vivido por Aleksey Guskov dá uma aula de perseverança e simpatia, enquanto Valeriy Barinov diverte bastante como um comunista perdido nos dias de hoje. E o que falar de Mélanie Laurent? Linda e perfeita como sempre, se destaca e emociona na última sequência do filme no papel de Anne-Marie Jacquet. Sequência que, por sinal, é extretamente bonita. Começa com uma música, depois entra uma narração em off, em seguida pequenos fragmentos do futuro dos personagens (‘flashforwards’) e por fim o choro emocionante da jovem Anne-Marie. Neste momento ocorre uma sacada especialmente inspirada dos roteiristas, ao sobrepor o texto narrado por Andrei com a música tocada por ele e pela moça, meio que mostrando como os dois personagens se entenderam através da música depois de tantos diálogos complicados entre a dupla, quando palavras não pareciam funcionar (visto que um é russo e a outra francesa).

Para concluir, se O Concerto não é perfeito como uma música de Tchaikovsky, o mesmo não pode ser dito da mensagem que ele passa. Acredito, e espero, que realizar o sonho de uma vida, independente dos caminhos atrapalhados que a gente tome, seja tão gratificante quanto o filme mostra ser.

Filme certificado com o Prêmio Panda de Prata.

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