quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Aparecida – O Milagre



O pior filme do ano.



Ainda faltam mais duas semanas de estreias para que o calendário do circuito comercial brasileiro de 2010 se encerre, mas já é possível escolher com folgas o pior filme do ano, seja ele internacional ou não. Não há nada mais medonho do que “Aparecida – O Milagre”! É difícil acreditar ao longo de toda a sessão que uma produção como esta tenha conseguido investimentos, patrocínios e incentivos (ou qualquer outro tipo de apoio) com páginas tão bizarras compondo o seu roteiro. É difícil também entender porque atores de renome aceitaram participar dessa enrascada. Algo mais fácil é explicar porque tudo parece tão ruim neste longa.



 
Estamos diante de um verdadeiro novelão mexicano com temática religiosa, com direito a Murilo Rosa com bigode típico dos atores do gênero. Por falar nele, o ator interpreta Marcos, o grande vilão da trama, um empresário bem sucedido que não suporta a ideia de que o filho Lucas (Jonatas Faro) se embrenhe por áreas artísticas, imitando sua mãe Sônia (Leona Cavali), de quem é separado. A ambição, o dinheiro e as decepções do passado fizeram-no se transformar em um homem desagradável, sem fé alguma, mesmo advindo de uma família bastante devota de Nossa Senhora de Aparecida.



 

A partir de então… Bem, aqui acontece aquele clássico momento de redenção e arrependimento motivado por um trágico acontecimento familiar que leva o protagonista a resgatar suas memórias e pedir perdão. Para complementar a trama com os elementos devidos, ainda temos uma rasa relação amorosa para Marcos (com a cooperação de Maria Fernanda Cândido), um envolvimento com drogas para Lucas e, sobretudo, a explicação para o título do filme, que se confunde com o motivo pelo qual ele foi realizado: exaltar o catolicismo.



 
Como se não bastassem todos esses clichês, o roteiro, feito a quatro mãos (aqui pode estar um dos motivos para sua péssima qualidade) por Marcos Schiavon, Carlos Gregório, Pedro Antonio e Paulo Halm, ainda faz questão de acrescentar sequências sobrenaturais, como a visão do personagem principal do momento em que a santa é achada por pescadores no rio Paraíba do Sul (sim, acredite, isso acontece!), e não desistindo da demasiada afinidade entre Marcos e sua ex-esposa, transformando a personagem de Maria Fernanda Cândido em uma mera composição de cenário.



 

E o que dizer dos diálogos? A cada segundo, os personagens não se seguram e soltam uma frase feita, das mais pré fabricadas possíveis, fazendo o outro ter reação ainda mais previsível. Então, quando o pai pega o filho Lucas conversando com um traficante, não é de se espantar que, ao se atracar com o criminoso, ele solte um “eu vou acabar com a sua raça”, logo seguido por uma discussão e fuga com consequências que vão muito além da dramaticidade que o filme consegue repassar para o espectador. E o mau gosto desse exemplo se repete com mais intensidade do que qualquer pessoa possa imaginar durante a, felizmente, curta duração do filme.



A direção de Tizuka Yamasaki traz sérias contribuições para o resultado final da película. É ela quem comanda com tão pouco talento um dos elencos mais sem sintonia que já se viu no cinema nacional, com atores ora acima do tom ora despejando o texto que tem para interpretar. E isso se estende também para os figurantes. Experimente observá-los em algumas cenas e verá como é risível o nível de atuação deles, atingindo a mais alta gargalhada quando o tão falado milagre finalmente acontece. É impossível se segurar com o grito de espanto da enfermeira quando se depara com o tal milagre.



 

O clima fabulesco que a cineasta tenta implantar até que funciona na introdução da história (esse é o maior elogio que o filme pode receber), mas despenca em qualidade quando a trama dá um salto de 35 anos. E que salto mal dado! Aparentemente tentando dar algum ritmo para seu filme, Yamasaki constrói uma sequência vergonhosa em que compara pai e filho em situações distintas, alternando quadros com cada um deles, como que querendo ressaltar a diferença de personalidade entre os dois. Melhor seria permanecer na mediocridade sem se arriscar muito.



Cheio de cortes bruscos, “Aparecida – O Milagre” tem até a ousadia de trazer um formato de edição não-linear semelhante ao de “Tropa de Elite 2”, tendo início com a cena com caráter mais dramático de todo o filme, para depois dar verdadeiramente começo a sua história. Os resultados finais das obras, porém, não poderiam ser mais distintos. O melhor filme brasileiro do ano, infelizmente, traz uma ingrata semelhança com o pior de todos eles. Felizmente, as comparações param por aí.



Darlano Didimo



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