quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Tron – O Legado





Vinte e oito anos após o lançamento do primeiro filme, esta continuação atualiza os conceitos vanguardistas mostrados no original e aprofunda a mitologia da franquia. Embora longe da perfeição, o espetáculo visual e seus interessantes temas devem agradar aos fãs da velha guarda e aos novatos neste universo.



 
Quando “Tron – Uma Odisseia Eletrônica” foi lançado, no hoje longínquo ano de 1982, o filme foi um fracasso do ponto de vista comercial. No entanto, a obra quebrou a barreira do cinema, influenciando não só cineastas, mas toda uma geração de programadores e estudantes de informática, se tornando um filme cult no meio nerd. Assim, faz sentido que a continuação do longa saia 28 anos depois do lançamento do original, considerando que aqueles que foram tocados pelo universo digital do longa estejam em uma idade adequada como mercado consumidor e formadores de opinião.
 


 

Dito isso, este “Tron – O Legado” não se trata de um remake ou de uma sequência genérica, e é palpável a paixão dos envolvidos em relação ao projeto. Produzido pelo criador da franquia, Steven Lisberger, o longa evolui e atualiza os temas mostrados na primeira fita, dialogando diretamente com o trabalho daqueles que foram influenciados pelo primeiro filme, dando mais significado ao “Legado” do título.



Roteirizado por Edward Kitsis e Adam Horowitz (egressos da série de TV “Lost”), a trama tem como protagonista Sam Flynn (Garrett Hedlund), filho de Kevin Flynn (Jeff Bridges), herói da fita anterior. Apesar de dotado do mesmo espírito rebelde que Flynn, Sam cresceu sem a presença de seu pai, que desapareceu misteriosamente quando ele tinha apenas sete anos. Certo dia, Sam recebe a visita de Alan (Bruce Boxleitner), velho amigo de seu pai e criador do programa Tron, que lhe avisa que recebeu um bip vindo do antigo fliperama de Flynn.



 

Investigando o que aconteceu, Sam acaba indo parar no mundo virtual da grade, descobrindo que seu pai está preso naquele ambiente virtual, agora dominado pelo programa Clu (também vivido por Jeff Bridges, rejuvenescido digitalmente). Com a ajuda da curiosa programa Quorra (Olivia Wilde), Sam tentará derrotar Clu e levar seu pai de volta para casa. No entanto, o clone digital de Flynn tem outros planos para pai e filho.



 

Como não poderia deixar de ser, o visual do filme é incrível. Apostando no contraste entre preto e branco, o diretor Joseph Kosinski, escolhido a dedo por Lisberger para o projeto, mostra em sua estreia cinematográfica que tem um ótimo senso estético. Kosinski e seu desenhista de produção, Darren Gilford, apostam em linhas arredondadas e formas que remetem diretamente aos produtos da Apple para o mundo da Grade (note inclusive a presença de uma maçã cromada em dado momento).



 

O efeito que rejuvenesce digitalmente Bridges para que este viva Clu é impressionante. A tecnologia, versão atualizada daquela utilizada em “O Curioso Caso de Benjamim Button”, ainda não é perfeita (em alguns momentos há um aspecto um tanto borrachudo), mas já está notavelmente avançada, permitindo que o ator encarne o vilão digital de maneira bastante convincente.



 

Além disso, as cenas de ação do longa são arrebatadoras, extremamente bem filmadas e criativas, embora alguns momentos venham carregados de referências a diversos clássicos da ficção científica. Difícil não lembrar, por exemplo, da fuga da Millenium Falcon em “Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança” quando da luta das naves de luz. Os efeitos 3D se dão apenas nas cenas na Grade e são utilizados primariamente para dar maior profundidade de campo. Não vá esperando objetos sendo arremessados em sua direção a cada dois minutos.



 

O grande problema de Kosinski jaz no ritmo da história, com sua inexperiência se mostrando neste aspecto, não conseguindo dar gás aos momentos mais parados do texto do longa. A despeito de alguns ótimos momentos na montagem, como a bela elipse envolvendo Sam e seus veículos, logo no começo do filme, a narrativa demora para engrenar e, por vezes, a trama parece se arrastar até a próxima cena de ação.



 

A atuação de tirar o fôlego de Jeff Bridges, que chega a lembrar o clássico Dude de “O Grande Lebowski”, consegue segurar algumas das “barrigas” da película, mas quando os não muito carismáticos Garret Hedlund e Olivia Wilde são o centro dessas cenas mais paradas, estas podem se tornar bastante monótonas. Michael Sheen também se destaca no elenco vivendo o dúbio e excêntrico Castor, enquanto a presença de Bruce Boxleitner como Alan e Tron em cena fará o dia dos fãs mais saudosistas de ficção científica.



“Tron – O Legado” utiliza elementos da clássica história de Frankenstein e até mesmo da religião católica (“o filho do criador”) para dar o seu recado, com o filme ainda sendo temperado por muitas citações à década de 1980 e ao primeiro exemplar da série. Embora o texto e o ritmo da fita nem sempre estejam em sincronia e o elenco mais jovem não conquiste tanto quando os atores mais gabaritados, o visual da película e a empolgante trilha da dupla do Daft Punk fazem valer o ingresso e esperar que o universo de “Tron” seja revisitado novamente no futuro.



 

 
Thiago Siqueira





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