Ao escrever Hellblazer, Brian Azzarello utilizou de três grande artimanhas para obter sucesso com o personagem. Primeiro levou John foi para a América, evitando assim cometer erros por não ter a mesma intimidade com a Europa que os autores anteriores. Adicionou também um personalidade mais enigmática e solene para Constantine, provavelmente por não dominar o linguajar britânico, evitando assim também os famosos discursos do personagem. Por fim temos John menos presente, por vezes com a trama correndo pelos personagens secundários e com poucas aparições de John - e nesse sentido a arte de Marcelo Frusin contribui bastante, deixando a presença de protagonista sempre marcante e assustadora.
Esses recursos são explícitos em “Cinzas e Pó na Cidade dos Anjos”. A trama têm início em um sex club interditado pela polícia, que encontrou um corpo carbonizado que, segundo testemunhas, pertence a John Constantine. Azzarello passa boa parte da edição entre o policial Turro, na investigação e interrogatório do incidente, e o Sr. Manor, que ao se confessar para o padre Sean, revela aos poucos a intrincada aventura que levou ao assassinato de Constantine.
[A seguir spoilers]
Azzarello demonstrou coragem ao colocar John Constantine em um clube de sexo e criar uma relação homossexual do personagem com seu inimigo, atraindo a furia dos leitores do personagem que não conseguem lidar com o mundo fora de suas quatro paredes de casa. Mas John é um espirito livre, e se entregar a todas formas de prazer se encaixa perfeitamente com o personagem, principalmente quando ele pode utilizar disso para atingir sua meta — e quem acompanha Constantine sabe que o personagem é obstinado o suficiente para fazer qualquer coisa por um objetivo.
Ao contrário de outros personagens do mercado de super-heróis, ou mercado mainstream, John Constantine não vive tendo seu passado apagado, ao ser reinventado por uma nova mente criativa o personagem segue como uma pessoa de verdade ao carregar todas suas experiências consigo. E John já enfrentou quatro décadas desde que foi criado por “acidentalmente” por Alan Moore, a pedido de seus ilustradores que queriam um personagem parecido com o cantor Sting. Se você, como Constantine, gosta de sacanagem, sexo, mistérios e encrenca, não perca mais tempo e compre a edição nas bancas e livrarias (pelo preço camarada de RS 17,90) antes que a Panini recolha.
A edição fecha com uma história de John Constantine ainda garoto, encontrando e trapaceando o demônio pela primeira vez em “A Primeira Vez”. Com arte de Dave V. Taylor, é o fim da jornada de Brian Azzarello, que seguiu produzindo 100 Balas e reencontro Marcelo Frusin em Loveless (que também já foi lançada no Brasil). Constantine por sua vez voltou para o Reino Unido, mas essa já outra história…
John Constantine: Hellblazer: Cinzas e Pó na Cidade dos Anjos
Roteito: Brian Azzarello
Arte: Marcelo Frusin, e Dave V. Taylor (em “A Primeira Vez”)
Capa: Tim Bradstreet
Editora: Panini Comics
Originalmente publicado em Hellblazer 170 a 174 e Vertigo Secret Files: Hellblazer.
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