sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

CINCO CURTAS



Escrever sobre curtas é bom, pois dá para ser um pouco mais objetivo. Pelo menos, em teoria. Seguem cinco curtas-metragens bem diversos, vistos recentemente.

SIX SHOOTER

Impressionante a estreia na direção de Martin McDonagh, mais conhecido por NA MIRA DO CHEFE (2008). Seu curta SIX SHOOTER (2004, foto) tem muitos elementos do longa, com sua carga de tragédia, mas com um humor negro bem particular. Há também a presença de Brendan Gleeson, como sempre muito bom. Ele é o homem que depois de ter visto a sua esposa morta vai parar num trem em direção a Dublin e encontra um rapaz sem-noção e sem respeito pelas pessoas. E é melhor não contar mais que isso. Dei boas gargalhadas com esse filme e recomendo fortemente.

UMA HISTÓRIA SEVERINA

Desconhecia esse curta brasileiro premiado em vários festivais. O documentário UMA HISTÓRIA SEVERINA (2005), de Debora Diniz e Eliane Brum, foi exibido numa das aulas de Literatura Regional do mestrado e fiquei com um nó na garganta com o drama da mulher grávida de um feto sem cérebro tendo que lidar com uma Lei que proibiu os hospitais de realizarem aborto para esses casos, justo no dia em que ela deu entrada no hospital. Com cenas do Supremo Tribunal Federal contrastando com os depoimentos emocionados de Severina e do marido, recortados em capítulos com imagens de xilogravuras que remetem à literatura de cordel, o filme é um dos mais dolorosos e impressionantes curtas que eu já vi nos últimos anos. É possível encontrá-lo à venda em DVD em algumas livrarias.

DIÁLOGOS E AUSÊNCIAS NA SAGA DO CORDEL

Outro curta exibido numa das aulas, DIÁLOGOS E AUSÊNCIAS NA SAGA DO CORDEL (2007) na verdade nem tem título ainda. Eu que pedi um título ao diretor e amigo Elder Vidal, que fez um trabalho muito bom sobre uma visita à família de Patativa do Assaré, documentando sua ausência e a presença física personificada na figura do filho, que procura imitar o pai nas vestimentas, mas que se considera frustrado por não ser um poeta. Outro depoimento interessante é o da filha de Patativa, que passa a impressão de ainda estar vivendo com o pai, quando criança. O depoimento dela é o que mais revela aspectos da vida cotidiana do poeta. Todo mundo na sala incentivou o Elder a inscrever o filme em festivais.

HÔTEL DES INVALIDES

Longe de ter o mesmo impacto de SANGUE DAS BESTAS (1949), esse documentário de Georges Franju sobre um museu de guerra tem a intenção de mostrar o passado glorioso da França, mas que no recorte do diretor e na narração de Michel Simon só acentua o quão absurdas são as guerras e tudo aquilo relacionado a elas. HÔTEL DES INVALIDES (1952) mostra, dessa vez indiretamente, não mais o sangue dos animais, mas o sangue dos homens, derramado em vários conflitos.

WERNER HERZOG EATS HIS SHOE

O filme é exatamente o que o título descreve. O cineasta alemão Werner Herzog havia feito uma aposta com Errol Morris que, se ele fizesse um filme, ele comeria o seu sapato. Assim, na pré-estreia de GATES OF HEAVEN, de Morris, lá estava o alemão louco oferecendo um pouco de diversão para a plateia e prestigiando o filme do amigo. O sapato, mesmo depois de cinco horas cozido com muito alho, verduras e outros temperos, continuou tão duro de comer que foi preciso de uma tesoura para cortá-lo em pedaços. No fim, WERNER HERZOG EATS HIS SHOE (1980) funciona mais como uma bela propaganda do filme de Morris, que é bem mais do que um documentário sobre um cemitério de animais. Fico em débito com Morris e também com Herzog, cineasta que já tem tantos filmes interessantes no currículo. E eu vi tão poucos.

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