Avaliação: nota 7
 
 


Quando “Happy Feet: O Pinguim” estreou em 2006, os bichinhos encantaram a plateia mundial com tanta fofura e dança. Não à toa, a animação de George Miller venceu o Oscar na categoria, batendo maravilhoso “A Casa Monstro” e o regular “Carros”. Assim como os protagonistas da história, o público não conseguia ficar sem bater os pés durante a sessão. Uma continuação era inevitável e demorou a chegar às telonas. “Happy Feet 2”  é, acima de tudo, um filme comercial, com o propósito de alcançar bilheterias extraordinárias, mas cujo objetivo de divertir é alcançado sem muito esforço.

Na trama, os pinguins imperadores continuam ótimos dançarinos. A sequência inicial já mostra a alegria daquelas criaturas que se tornam amáveis de cara. Quando Erik, filho de Mano e Gloria, passa vergonha ao tentar dançar junto de seus companheiros, o pequenino decide fugir com dois amigos e se unir a outro grupo de pinguins, em busca de ser aceito como é. Lá, ele conhece Sven, um “pinguim” que voa e é idolatrado pelos companheiros. Enquanto Erik encontra um herói em quem se inspirar, seu pai Mano precisa levá-lo de volta aos imperadores. A rachadura nos laços familiares será superada em uma nova aventura, quando os imperadores ficam presos na neve após o choque de um iceberg e eles precisam lutar pela sobrevivência.

Ainda que possua ambição mercadológica, o novo filme tem, acima de tudo, um visual invejável, bem superior ao anterior no nível de detalhes dos personagens e na construção dos cenários. Os pinguins continuam exalando fofura, praticamente palpáveis aos olhos do espectador e causam empatia imediata. As tomadas que o diretor George Miller constrói para mostrar a magnitude de sua técnica impressionam com facilidade, mostrando um trabalho bastante apurado no desenvolvimento da película. Auxiliado por um bom uso do 3D, que não se restringe apenas à profundidade de campo, o diretor traz sensibilidade à história.

Enquanto o longa ganha em técnica, há perda considerável em roteiro. O que o público vê em tela é um abuso de histórias paralelas que não se unem com naturalidade. É difícil apontar o drama principal, se seria a prisão dos pinguins ou o conflito familiar de Mano e Erik, já que tantos núcleos e pequenas tramas são vistos no decorrer da projeção. Quem continua chamando atenção é o galanteador Ramon, sempre buscando um romance até encontrar a ousada Carmen. Desta vez, o alívio cômico fica a cargo de Will e Bill, a dupla de camarões krill, mas que nem sempre funciona da forma correta. Os ensinamentos do roteiro continuam lá, mas de uma forma bem madura, especialmente no que diz respeito à preservação ambiental.

A trilha sonora original empolga desde o começo, mas aparece bem menos que no filme anterior. Ainda que os dubladores nacionais façam um trabalho competente ao construir a personalidade de cada animal em cena, a necessidade em criar versões brasileiras para algumas músicas é um tiro no pé. Ao chegar ao terceiro ato, o pequeno Erik canta uma canção essencial para o desenvolvimento da trama, mas que acaba não emocionando pela irritação que provoca. Vale ressaltar também o bom trabalho da equipe de som, sempre detalhista.

Por mais que a história tenha se perdido em um mix de pequenas tramas que acabam não mostrando um foco certo para o longa, “Happy Feet 2: O Pinguim” é carismático e diverte da maneira certa. Continua impossível não sair da sala cantarolando algum dos hits vistos em cena (“Dragostea Din Tei” em especial) ou não melhorar o humor após a sessão. Sem malícias, mas nem um pouco boba, a animação exibe charme e é uma típica comédia familiar agradável.
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Diego Benevides
é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.