segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

As Facetas do Grande Plano de Philip K. Dick


Se controlar o destino de cada ser humano é parte de um grande plano cósmico, quem escreveu a trajetória da vida de Philip K. Dick decretou: seus livros e contos serão adaptados até o fim dos tempos e Hollywood nunca dependerá tanto de um autor como de ti!
Por Fábio M. Barreto, de Los Angeles
Minority Report, O Homem Duplo, Blade Runner – O Caçador de Andróides, O Vingador do Futuro e o recente Os Agentes do Destino (The Adjustment Bureau) são apenas alguns dos filmes inspirados pela obra de Philip K. Dick, cujo trabalho literário dentro da Ficção Científica apoiou o cinema do gênero de forma marcante nos últimos 20 anos. A predileção dos estúdios é claramente provocada pelo status irrefutável do clássico de Ridley Scott, mas é reforçada pelo simples fato de as histórias – curtas ou longas – serem efetivas e com grande apelo cinemático, como é caso de Os Agentes do Destino, com Matt Damon e Emily Blunt. Tudo faz parte de um plano, prega o longa-metragem de George Nofi, em sua primeira direção.
Roteirista com boas credenciais, Nofi encontrou um material perfeito para justificar sua estréia. Os Agentes do Destino brinca com o humor inesperado de 13 Homens e Outro Segredo, as perseguições exemplares de O Ultimato Bourne e mergulha fundo na Ficção Científica de Linha do Tempo, todos filmes escritos pelo agora diretor. Seguro dentro de sua proposta, Nofi consegue ser efetivo sem muito esforço e apostou na naturalidade que Richard Kelly excluiu em A Caixa, adaptado de um conto de Richard Matheson. Matt Damon e Emily Blunt entraram em sintonia rapidamente e o primeiro encontro dos personagens é sensacional; a dupla de Kelly falha pela artificialidade do sotaque e excesso de estereótipos ligados à personagem de Cameron Diaz.
Basta olhar um pouco para os lados e, em vez de um misterioso perseguidor usando chapéu clássico, encontrar inúmeras referências dessa história na literatura. Ela não é seminal, mas não tira sua efetividade. Inevitável não pensar em O Fim da Eternidade, clássico de Isaac Asimov, com suas praticamente inesgotáveis maquinações e cálculos capazes de definir o futuro da Humanidade. Esse é apenas um dos aspectos de Os Agentes do Destino, inspirado no conto The Adjustment Team, de Dick. Há implicações metafísicas, espirituais e existenciais nesse cenário, assim como um pouco de metalinguagem cinematográfica. Sempre que entramos no cinema precisamos exercitar a tal da “suspensão de descrença” [suspension of disbelief], ou seja, temos uma escolha: acreditar na proposta ou se desligar da projeção, do mesmo modo que David Norris (Damon) é confrontado com uma situação inusitada, tão irreal quanto um filme de ficção, e precisa decidir se entra no jogo ou tenta repelir sua inegável existência.
Essa resposta define a efetividade do filme, pois ao recusar o papel de herói em negação, Norris pode se definir pelo que sente, não pelo que acredita ou não. O romance com Elise (Emily Blunt) foge à regra da história de amor hollywoodiana e se torna central com relevância e propósito dentro de uma trama provocativa, mas acessível. Emoções são expostas e bem definidas, valorizadas por boas escolhas de ângulo e constante curiosidade mesmo depois que a mecânica do Bureau é explicada. Aliás, esse é mais um daqueles casos em que influenciador pode ser o influenciado pelo grande público, pois Os Agentes do Destino utiliza o conceito das backdoors, visto em Matrix, com bom resultado gráfico e, novamente, trabalhando metalinguagem, afinal, ao entrar numa das portas e cortar caminho, o personagem simula o ato de editar um filme – basicamente, encurtando ações, resumindo longas transições e garantindo a velocidade adequada. É um processo tão familiar ao espectador que ele se vê envolvido sem perceber a verdadeira razão. Pura diversão sem ofender o intelecto da platéia ou cair na mesmice.
Eu uso chapéu, e você?

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