sábado, 17 de dezembro de 2011

P&R - Marcelo Adnet

Humorista fala de estreia como dublador e dos rumores sobre contrato com a Globo 
 
P&R - Marcelo Adnet


por Bruno Raphael

Cada vez mais multifacetado, Marcelo Adnet questiona o estereótipo do humorista popular que tem de ser palhaço o tempo todo. O comediante carioca de 30 anos deixa de lado a profissão para falar a sério sobre os mais diversos assuntos, como a política brasileira e o Leste Europeu, além dos novos rumores que envolveriam um suposto contrato dele e de sua esposa, a humorista Dani Calabresa, com a Rede Globo. Recentemente, Adnet também estreou como dublador na comédia O Zelador Animal, fazendo a voz não de um, mas de cinco personagens diferentes. Mais do que provocar risadas, o cabeça do programa Comédia MTV quer ser levado a sério, quando convir.
 
Estrear na dublagem com cinco personagens o deixou com medo?
Foi muito diferente do que eu imaginava, porque quando a gente não entende direito do assunto, pensa: “É só dublar e inventar cinco vozes”. É um trabalho em que você tem de sacar o espectro do personagem – saber como ele chora, como ele torce ou como ele ri. Se assemelha ao teatro ou ao cinema tradicional, porque você tem a construção, uma coisa meio Stanislavski.
Em 2008, você declarou à Rolling Stone que teria dificuldade de fazer programas humorísticos na Globo, por ter a necessidade de ser autoral.
Se um dia eu for pra Globo, eu acho que a gente vai sentar e conversar com muito cuidado. Acho que sou versátil, não preciso, necessariamente, falar palavrão pra fazer humor. A gente pode moldar isso, se for necessário.

Há boatos de que você e a Dani Calabresa irão para a Rede Globo. Você acha que é hora de renovar o humor, partindo de um canal de maior alcance?
Eu li tudo isso no jornal. [Aumenta o tom de voz] Ninguém me ligou ou me perguntou nada. É uma indústria de retweets: a imprensa repete uma coisa, sem se preocupar se é verdade ou não. Mas, agora que você está perguntando, posso dizer: depois do VMB [Adnet será o apresentador da premiação, em 20 de outubro, pela terceira vez consecutiva] eu vou pensar nisso. Tudo que saiu foi boataria. Meu contrato acaba em dezembro e todo ano nesse período eu decido sobre isso, então neste não vai ser diferente.

Um programa no formato do seu 15 Minutos, por exemplo, teria espaço fora da MTV?
Com suas devidas adaptações e bom senso, tudo é possível.

Você pretende trabalhar mais como dublador?
Gosto muito de experimentar novas possibilidades de trabalho. Tenho a coluna de esporte no jornal O Globo, que é uma atividade diferente de tudo que eu faço. Mas, se tem uma coisa que eu gostaria muito de fazer, é compor música. Mas de verdade, sabe? Não de comédia, música para as pessoas cantarem. Um CD com composições próprias seria algo bacana.

Você escreveu o prefácio do livro Da Rosa ao Pó (do colaborador da RS Gustavo Silva), sobre a Guerra da Bósnia. Parte da sua lua-de-mel foi na cidade de Mostar. Como foi essa experiência?
Foi muito legal ir lá e ver um pedaço de mundo que a gente nem imaginava que existia: as marcas de uma guerra que acabou em 1995, de um genocídio que foi uma limpeza étnica e um povo ainda marcado e emocionado. Eles são muçulmanos também, então vimos as mesquitas e ouvimos aqueles cantos, que são muito bonitos. Lá tem um clima meio de vila, é um pedaço de paraíso que destruíram 15 anos atrás. Tenho uma fascinação por aquela região iugoslava, em especial pela Bósnia.

Você foi convidado pelo PPS para entrar na política. Tem vontade de se candidatar a um cargo?
Acho que seria uma contribuição legal. Talvez um dia, quando eu estiver com a vida ganha. Porque acho que política você não faz pra ganhar a vida: você faz por princípio.

O que está achando do governo Dilma?
Votei na Dilma sem muita convicção, mas acho que ela surpreendeu positivamente a todos, por enquanto. É uma mulher séria, com ela não tem conchavo ou possibilidade de a coisa acabar em “vamos tomar um uísque aqui e resolver no meu barco”. A rédea é mais curta, por isso gosto muito do governo dela.

Como você vê o público jovem e a cultura pop brasileira atual?
A gente fica mais crítico com o passar do tempo e sempre cita o passado, como no filme Meia-Noite em Paris, do Woody Allen, que fica sempre em “Ah, mas em tal época era melhor”. O que uma criança de hoje vai falar pro neto? “No meu tempo que era bom, porque tinha Mr. Catra [risos].” Tudo isso é muito relativo: toda época tem seu lado bom e ruim. Não me vejo como um cara que possa dizer o que é melhor ou pior.

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