Avaliação: nota 7


Não se engane pelo pôster. Em “Os Especialistas”, Clive Owen e Robert De Niro são apenas coadjuvantes. Estamos diante de mais um filme protagonizado pelo ator que mais deu chutes, socos e tiros nos últimos anos: Jason Statham. Depois de emplacar a franquia “Carga Explosiva” e chegar a dividir atenção com “imbatíveis” de outros tempos nos cinemas em “Os Mercenários”, Statham justifica seu status em mais um eletrizante filme de ação que opta por não escolher heróis nem vilões. Pelo menos não explicitamente, já que em meia hora de projeção sabemos muito bem por quem torcer e que essa torcida não será em vão, afinal ele não pode morrer, nem mesmo em um longa baseado em fatos reais.

Pelo menos é assim que se apresenta a produção em seus créditos iniciais (apesar de já sabermos que a prática de incrementar não é proibida). Statham interpreta Danny, um assassino profissional que, para salvar a vida de seu mentor, Hunter (De Niro), parte em uma missão para matar três agentes das forças britânicas Special Air Service (SAS). A ordem vem de um poderoso xeque do petróleo, que busca vingar a morte de seus filhos em plena guerra. O objetivo parece, inicialmente, fácil de alcançar, mas a investigação e a atuação de um grupo secreto formado por ex-membros das forças inglesas, sob a execução de Spike (Owen), prejudica o prosseguimento das obrigações de Danny.

A sequência inicial de “Os Especialistas” já tenta confundir a cabeça do espectador, acostumado com personagens estigmatizados e de caráter definido em longas do gênero. Em uma emboscada bem planejada, Danny e Hunter assassinam sem pudor um desconhecido grupo de pessoas, aparentemente ricos e corruptos empresários do Oriente Médio. Dessa forma conhecemos nosso protagonista, um homem de moral questionável, para quem matar não é problema, mas um simples ato de profissionalismo, contanto que a vítima tenha alguma culpa no cartório. Ao se deparar com uma criança dentro do automóvel alvejado, por exemplo, ele se arrepende e promete nunca mais trabalhar no “ramo”.

O roteiro de Matt Sherring, inspirado no livro de Ranulph Fiennes, opta por não julgá-lo ou transformá-lo em um grande vilão. Descreve-o apenas como alguém que nasceu para matar, mas cheio de bons sentimentos. O mesmo pode ser dito de Spike. E é nesse caminho que a trama anda para criar uma enorme rivalidade entre indivíduos que parecem ler o mesmo código de ética. No entanto, a disparidade de tempo concedido para cada um dos personagens faz desse embate algo bem mais maniqueísta do que o roteiro desejava exibir. Por isso, não se impressione se, na primeira perseguição entre os dois, você já se pegar torcendo por Danny.

É ele que possui uma afável namorada em uma escondida casa no interior, enquanto pouco sabemos da vida particular do rival. Na verdade, Spike se sustenta no carisma de Clive Owen. No entanto, até nesse quesito ele perde para Jason Statham. Assim como seu personagem, o ator parece ter nascido para estrelar cenas de ação. A voz rouca e a falta de expressão (sim, essa característica é extremamente necessária) complementam a incrível disposição física do atual astro do gênero, que faz um salto entre prédios tornar-se uma cena crível. Conclui o elenco principal Robert De Niro, que nada pode fazer com o desinteressante personagem que tem em mãos.

Por sinal, Hunter é o grande erro do roteiro de Sherring. Sem demonstrar antecipadamente a amizade compartilhada entre ele e Danny, a história prejudica seu próprio plot, que soa inverossímil ao fazer o protagonista arriscar a própria vida para salvar a do melhor amigo. No mais, a trama convence com seu jogo de gato e rato que se torna ainda mais charmoso ao se passar nos anos 80 e dispensar chatas tecnologias. Ser baseado em fatos reais traz credibilidade histórica que ajuda a podar a criatividade do roteirista, sempre esperto em sua função de transformar os crimes em aparentes acidentes.

A direção é de Gary McKendry, que, em seu segundo trabalho, não hesita em utilizar o mesmo “expediente” de Paul Grengrass na franquia Bourne (que se tornou referência máxima no gênero) ao realizar eletrizantes sequências com câmera instável e edição cheia de ritmo. Um corte de dez minutos na duração final de “Os Especialistas” faria desaparecer uma desagradável “barriga” que prejudica o ato final, mas que não compromete o resultado deste convincente entretenimento que ratifica a condição de Jason Statham como o grande ator de ação do momento.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.