Prozac x Zoloft, Xanax x Ativan, Viagra x brochada, homem x mulher, amor x razão, relacionamento amoroso x independência de ser solteiro. Amor e Outras Drogas (Love and Other Drugs, 2010) gira em torno de competitividade e escolhas.
São os anos 90, e o mulherengo Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) largou a faculdade de medicina para trabalhar em uma loja de eletrônicos, como que competindo com o pai para mostrar-se no controle de sua própria vida. Mas Jamie acaba sendo despedido da loja, e passa a vender produtos bem menos inofensivos quando entra para o time de representates da gigante famacêutica Pfizer.
Somos então apresentados ao inescrupuloso mundo das prescrições de medicamentos tarja preta, porém de maneira leve, sem entrar nas implicações sócio-políticas desse mercado - ficando bem distante de O Jardineiro Fiel, para citar um exemplo. A falta de ética é usada para efeito cômico em diálogos e os personagens obedecem a um único objetivo: fazer com que médicos receitem o medicamento da Pfizer ao invés do concorrente. É o momento do boom do Viagra. Quem se importa com a ética quando se tem nas mãos a milagrosa pílula azul do sexo? Amor e Outras Drogas é hedonista, assim como a plateia da primeira década dos anos 2000.
Ainda assim, era necessário um romance para evitar que a adaptação ao cinema do livro de não-ficção Hard Sell: The Evolution of a Viagra Salesman revirasse os podres da indústria farmacêutica nas telonas. Entra em cena Maggie Murdock (Anne Hathaway), personificando uma das fantasias masculinas como a garota que quer só sexo, dispensando as complicações de um relacionamento - fachada que proporciona escape fácil, evitando assim o risco da dor que todos corremos ao amar.
Quando a personagem de Hathaway deixa de bancar a durona e abandona o discurso do sexo casual, admitindo sua fragilidade e insegurança, o romance com Gyllenhaal passa a funcionar muito bem e o casal encontra sua química. Hathaway também parece muito confortável com todas as cenas de nudez do roteiro.
Amor e Outras Drogas tem uma narrativa muito interessante, contruindo personagens que cativam a plateia e uma linda história de amor mas, chegando ao final, o roteiro vai se entregando a um dos finais mais piegas do cinema romântico dos últimos tempos. Há certos desfechos fantasiosos e simplistas que plateias atuais não engolem mais.
Também fica o desejo por mais referências da década de 90, especialmente na trilha sonora. Mesmo com o amplo uso de pagers, com o baseado, e com o figurino grungeiro de Hathaway - com direito a macacão, jeans rasgado e camisa de flanela xadrez -, a ambientação noventista não fecha sem a música certa. A rápida cena da "Macarena" é inspirada, mas faltou uma pitada de Seattle.
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