sábado, 12 de fevereiro de 2011

"Bravura Indômita" funciona, mas deixa ponta de frustração

 







Refilmagem de longa de 1969 tem muitas qualidades, mas não traz a marca pessoal da dupla de cineastas




--------------------------------------------------------------------------------
É UM FILME ESTRANHO DENTRO DA FILMOGRAFIA DOS COEN.
PELA PRIMEIRA VEZ ELES ABDICARAM DE IMPOR SEU ESTILO
--------------------------------------------------------------------------------


ANDRÉ BARCINSKI

CRÍTICO DA FOLHA



Numa carreira de quase 30 anos e 15 filmes, os irmãos Coen sempre fizeram tudo à sua maneira.

Mesmo quando atuam dentro das fórmulas de um determinado gênero, como o "noir" ("O Homem que Não Estava Lá", "Fargo"), a comédia ("O Grande Lebowski") ou o filme de gângster ("Ajuste Final"), a dupla imprime uma marca inconfundível em seus filmes.




"Bravura Indômita", refilmagem do faroeste dirigido por Henry Hathaway em 1969 e que deu a John Wayne seu único Oscar, é uma exceção. No filme, que estreia amanhã no Brasil, os Coen se preocuparam apenas em contar uma boa história.

Funciona, mas deixa uma ponta de frustração. Jeff Bridges interpreta Rooster Cogburn, o personagem de John Wayne, um caçador de recompensas beberrão. Com seu tapa-olho, mau humor e fala arrastada de quem está eternamente bêbado, Cogburn parece um pirata no Velho Oeste.

Ele é procurado por Mattie (Hailee Steinfeld), uma menina de 14 anos, que o contrata para prender o assassino do pai, o criminoso Tom Chaney (Josh Brolin).



 

Acontece que Chaney está escondido no meio do território indígena, onde poucos se atrevem a ir.

Cogburn e Mattie recebem a ajuda de La Boeuf (Matt Damon), um policial que também está atrás de Chaney.

Os dois filmes, tanto este quanto o de 1969, foram adaptados do romance de Charles Portis, um faroeste sobre vingança e determinação. Mas o livro também tem um lado cômico e divertido.




Os diálogos são ótimos. Dá para entender por que os Coen, que sempre escreveram bons textos, se identificaram com o senso de humor e o "timing" do livro.

As farpas trocadas entre Cogburn e La Boeuf e, principalmente, a verve de Mattie, totalmente inesperada para uma menina tão nova, dão um toque de leveza e humor.

Estilisticamente, o "Bravura Indômita" dos Coen não traz grandes inovações.

A fotografia de Roger Deakins, que já fez 11 filmes com os diretores nos últimos 20 anos, explora os grandes espaços da paisagem rochosa para realçar o mistério e perigo da saga do trio.




"Bravura Indômita" é um filme estranho dos Coen. Talvez pela primeira vez eles tenham abdicado de impor seu estilo. O que não quer dizer que o filme não tenha muitas qualidades.

E para quem quiser ver um faroeste típico dos Coen, sugiro recorrer ao DVD e rever o torto e genial "Onde os Fracos Não Têm Vez".





BRAVURA INDÔMITA



DIREÇÃO Joel e Ethan Coen

PRODUÇÃO EUA, 2010

COM Jeff Bridges, Matt Damon

ONDE estreia amanhã nos cines Frei Caneca, Reserva Cultural, Cidade Jardim e circuito

CLASSIFICAÇÃO 16 anos

AVALIAÇÃO bom





FONTE:










Glória do primeiro filme vem do Oscar dado a John Wayne






INÁCIO ARAUJO

CRÍTICO DA FOLHA



Sejamos francos: a glória de "Bravura Indômita" (1969) vem do Oscar de melhor ator ganho por John Wayne. Sejamos mais francos ainda: qualquer espectador mediano é capaz de citar ao menos uma dúzia de papéis em que John Wayne está tão bem ou melhor do que em "Bravura Indômita".

Mas assim é o Oscar. Ganha-se, a horas tantas, não porque seja o melhor trabalho da pessoa, ou o melhor daquele ano, mas porque é a hora de ganhar.

A história do filme é, literalmente, a mesma narrada no filme de 2010, com exceção do prólogo. Uma brava menina contrata o mais cruel dos agentes federais à disposição para buscar o assassino do pai.

Se a história é idêntica, bem diferentes são os estilos.

Em 2010, a versão de Ethan e Joel Coen é muito mais noturna, enquanto na de Hathaway predominam as cores claras. Até demais.

Os Coen devem ter percebido que há azul demais no filme original. Carregaram as tintas na escuridão. A um filme, o primeiro, parece faltar uma marca, uma autoria. No segundo, ela parece sobrar.

Num aspecto, porém, a versão original se destaca: a sexualidade. Tudo, no filme, gira, a rigor, em torno da sexualidade de Kim Darby, que interpreta a garota. De seu corte de cabelo "à la garçonne" à rejeição de qualquer assédio masculino, tudo em Darby traz a marca de uma ambiguidade muito evidente para não ser notada.

Pode-se dizer, na direção contrária, que seu chapéu tem a marca da inocência, de uma infância ainda não superada. No entanto, suas virtudes, como o talento mercantil imbatível, não remetem ao nascente feminismo (o filme é de 1969), mas a atividades na época essencialmente masculinas.

Da mesma forma, sua obstinação é menos de alguém ferido pela morte do pai do que de uma companheira de viagem que se sente plena por partilhar uma aventura.

Um outro: o que mais chama a atenção no personagem de John Wayne talvez seja a capacidade de alternar ao seu aspecto rústico um humor sempre afiado. Isso parece ausente em Jeff Bridges.

Na verdade, no primeiro "Bravura" existe um crime, mas ele parece ser algo anômalo num mundo essencialmente ordenado. No "Bravura" de 2010 estamos numa fábula ambientada num mundo inóspito, onde a perversidade talvez não seja a exceção, mas a regra.



BRAVURA INDÔMITA (1969)



DISTRIBUIÇÃO Paramount

QUANTO R$ 19,90, em média

CLASSIFICAÇÃO 14 anos

AVALIAÇÃO bom

Nenhum comentário:

Postar um comentário