domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Rede Social: Os Efeitos que Quase Ninguém do Oscar Viu

por Fábio M. Barreto, de Los Angeles



Semana retrasada os votantes da Academia entregaram seus envelopes com o destino de muitos filmes, especialmente nas categorias técnicas. O pai de uma colega de classe é membro da elite dos Efeitos Especiais e contou uma história curiosa que me deixou estarrecido por vários aspectos; e, acredito, vá surpreender muita gente aqui! Gostei de A Rede Social (The Social Network, EUA, 2010) (leia crítica feita para o site Veja.com.br) e, como de costume, mantive minha análise ao filme em si, sem esmiuçar muito seus detalhes técnicos e, felizmente, faço parte de uma geração que foi treinada sem o IMDB. Normalmente faço isso quando chega o DVD [agora só Blu-Ray, aliás, não compro mais o formato anterior, caso exista a opção] e me perco nos documentários. Entretanto, a história desse sujeito me tirou do eixo por defender uma tese: A Rede Social deveria ganhar o Oscar de Efeitos Especiais, mas não foi nem indicado por quase ninguém saber que os efeitos estavam lá! Conversa de maluco? Pior que não!



Enquanto assistia à entrega do SAG Awards fiquei encucado com uma coisa. O elenco de A Rede Social foi ao palco apresentar seu filme. Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, que faz um dos gêmeos Winklevoss e… ué, por que o outro gêmeo não foi?, pensei. Bom, ele não foi simplesmente por não existir. Hammer foi replicado ao longo de todo o filme de forma imperceptível, simplesmente perfeita. David Fincher usou dois atores e, mais tarde, substituiu o rosto de um deles pela segunda interpretação de Hammer. Não estou descobrindo a América, mas não fui o único a ser enganado.



Os membros da Academia de Efeitos Especiais também foram. Muitos tiveram que ser avisados especificamente, afinal, nem todo mundo leu a matéria publicada no New York Post sobre o processo. E é aí que entra a informação de bastidores, afinal, é, no mínimo, curioso saber que muita gente teria votado em A Rede Social se o estúdio tivesse feito uma campanha específica exibindo seus feitos, em vez de deixar o filme trabalhar por si. É um paradoxo, claro, arriscar a imagem de um bom filme ao valorizar um detalhe técnico, mas, com certeza, sua sutileza merece mais louros que surtos visuais de, digamos, Homem de Ferro 2. São duas escolas diferentes, dois objetivos distintos.



A Rede Social é o tipo de filme no qual não se espera um banho de efeitos, afinal, teoricamente, ele nem precisaria usar esses recursos. Lembro de um caso recente do uso de gêmeos na aventura juvenil As Crônicas de Spiderwick, no qual Freddie Highmore foi duplicado de forma bem interessante por meio do uso de câmeras computadorizadas que recriavam a tomada anterior para que o garoto pudesse atuar duas vezes sem a necessidade de tela azul ou inserções forçadas. Isso ajudou a garantir o contraste, mas não surpreendeu pelo simples fato de duplicar um ator bem conhecido. David Fincher acertou em cheio ao utilizar um novato, assim, quem entrou para ser surpreendido pelo filme engoliu o truque sem pensar duas vezes!



Há cerca de 12 anos, participei de uma palestra no Itaú Cultural dada por um dos realizadores de Tron – Uma Odisséia Eletrônica. Entrevistei o sujeito para o Estadão e nunca me esqueci de uma resposta: a maior revolução dos efeitos não vai acontecer com um cara na motocicleta virtual, mas sim quando ele estiver numa moto de mentirinha e ninguém perceber! Estamos vivendo esse momento, no qual efeitos certeiros rompem as barreiras entre realidade e simulação e, efetivamente, é possível se filmar qualquer coisa, em qualquer lugar, com qualquer um sem prejudicar a experiência de se ver um bom filme.



Mesmo sem prêmio, A Rede Social entrou para meu rol de filmes fundamentais por conta desse aspecto [ok, já estava na lista antes, rs]. Definitivamente, uma grande realização.



 

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