segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Bruna Surfistinha - CRÍTICA 2

O filme em que Deborah Secco entrega-se completamente à personagem mais marcante da sua vida.

Marcus Vinicius
Avaliação: NOTA  8
 
 

O grande lançamento nacional da vez é sobre a garota de programa mais famosa do país. “Bruna Surfistinha” mostra a vida de Raquel, que decide sair de casa e virar garota de programa. Ao descobrir a internet e utilizá-la dentro de sua profissão, ela fica famosa e passa a ter que lidar com os agrados e as angústias dessa nova categoria. O filme, baseado no livro “O Doce Veneno do Escorpião”, best-seller que vendeu cerca de 300 mil cópias no Brasil, mistura a autobiografia com a ficção e o resultado é positivo.

Sem mais, o filme é de Deborah Secco. A atriz já havia afirmado que este era o papel da sua vida, e os motivos são bem claros. Há uma total entrega de corpo e alma por parte da atriz. Deborah conquista o papel e o público principalmente no olhar. A atriz encara o personagem e passa o olhar desencantado de uma jovem sem ilusões ou esperanças, mas transmite também o olhar forte e decidido de alguém que não tem outra alternativa.

A direção é do estreante Marcus Baldini, bastante premiado no mercado publicitário e que agora teve a difícil missão de repetir o sucesso do livro nas telonas. Percebe-se a constante preocupação do diretor em focar nas fisionomias da garota de programa, sobretudo no olhar, nos gestos, na postura e no corpo. De fato, é um interessante ponto de partida para o público ter a sensibilidade do que é a vida de uma pessoa que trabalha com sexo o tempo todo. A utilização das filmagens amadoras, ângulos bastante ousados principalmente nas cenas de sexo e a valorização da atuação da protagonista são as marcas da boa estreia desse diretor que até que poderia ter ousado mais e explorado mais a densidade da história, mas que não compromete o resultado que entregou ao público.

Algo que não podia faltar na obra são as cenas de sexo e elas estão por toda parte e em todos os níveis. Inicialmente, o filme propõe que elas surgiriam de forma contida, no entanto, a trama dá uma virada e o sexo apresenta-se mais intensamente. O diretor havia falado, antes da estreia, que a principal preocupação era de não fazer um filme pornográfico, mas embora ele tenha utilizado a comédia como foco para  distanciar um pouco dessa ideia, seria uma injustiça fugir do real. Em um determinado momento, as cenas de sexo se tornam cansativas, mas é quando mais nos sensibilizamos com a difícil vida de Raquel. Um mal necessário.

Uma aposta que deu certo foi a utilização do humor. Embora ele retire um pouco da densidade da obra, ele proporciona os principais momentos do longa como a cena das garotas de programa no salão de beleza. Outra cena divertida é a passagem dos vários tipos de pessoas que frequentam o estabelecimento das garotas. Um destes clientes é o jogador de futebol Dentinho, atacante do Corinthians, que faz uma participação rápida, mas divertida no filme.

Um fato curioso é que quase toda a trilha sonora do longa é composta basicamente por músicas internacionais.  Batidas agitadas dominam a obra e não poderia ser diferente ao traduzir a vida de Bruna. A trilha também acompanha os momentos dramáticos, como na sequência que a protagonista sai de casa. E a cena final, que é a mais tocante da obra, mostra muito bem o que faltou ser explorado na mesma. Com o foco na atriz e na trilha, mostra uma sensibilidade que poderia ter sido mais aproveitada. Em todo caso, antes tarde do que nunca.

“Bruna Surfistinha” é uma obra que agrada por sua competente conduta e principalmente pela total entrega de sua protagonista. O longa acerta ao optar pelo equilíbrio entre o drama e a comédia e segue o bom momento em que passa o cinema nacional.
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Marcus Vinicius
é crítico de cinema do CCR desde 2009. Produtor de comerciais de TV, também realiza projetos audiovisuais e eventos. Atualmente é concludente do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

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