domingo, 6 de fevereiro de 2011

O olhar Invisível - La Mirada Invisible (The Invisible Eye)



Não sei o porquê de a maioria dos brasileiros gostar tanto de se rivalizar com os argentinos. Definitivamente, acho que devíamos procurar rivais mais à nossa altura. Não gosto do futebol argentino, considero os jogadores de lá um bando de catimbeiros sem esportividade, violentos e dissimulados. Mas em algumas áreas, reconheço, podemos nos deleitar com que os platinos têm produzido, como a música e o cinema.

No ano passado, o belo O Segredo dos Seus Olhos. dirigido por Juan Jose Campanella, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro merecidamente. Ele também dirigiu o elogiado O Filho da Noiva. É do diretor argentino Gaspar Noé o intrigante Irreversível e o também hermano Marcelo Piñeyro fez a direção do já considerado clássico Plata Quemada. Todos capazes de encher os olhos do cinéfilo mais exigente.


E ontem tiver a oportunidade de assistir o O Olhar Invisível dirigido por Diego Lerman, "arrentino" de 34 anos. Este filme foi exibido durante Fest Rio 2010, em outubro. Tendo como cenário de fundo os últimos anos da ditadura militar argentina, conta a história de uma preceptora, Maria Teresa (Julieta Zylberberg), funcionária de um tradicional colégio de Buenos Aires, que tem como principal função manter os alunos na linha. E linha, nos inícios nos anos 80, era a repetição do quadro de terror por qual passava toda a sociedade platina por aquelas épocas.

Os alunos são submetidos a uma disciplina semelhante a de militares. Meninos e meninas passam por revistas, como uma tropa. Os preceptores verificam toda a postura dos jovens, das meias aos colarinhos, passando pelo comprimento dos cabelos. Qualquer desalinho era notificado em caderneta.

Tendo como atribuição profissional cuidar da disciplina dos estudantes, onde até um beijo entre um aluno e uma aluna era alvo de repreensões, Maria Teresa, bonita e esguia, se amolda a uma personalidade anódina, mostrando sempre uma face rigorosa, beirando a cruel, para os alunos. Mas com muita sutileza da direção, outro personagem e apresentado ao público. Uma Maria reprimida, que teme a sua própria sexualidade. Sabe que a exposição de seus desejos poderá levá-la a uma perda de autoridade perante os alunos. Muito delicadamente, também é apresentada uma atração que Maria tem por um dos jovens. Ela sofre silenciosamente com isso, ao ponto de ocultar a compra de um perfume masculino apenas para, antes de dormir ter o cheiro do aluno para se deleitar.


Mas desejos latentes, quando não saciados, podem conduzir a comportamentos doentios. Por isso, ela leva ao chefe dos preceptores Carlos Biasutto (Omar Núñez) , um sujeito além da meia idade que nutre uma paixão por Maria Teresa, uma suspeita de que alunos estariam fumando escondidos. Recebe dele o aval para manter um olhar invísivel, que dá o título ao filme. Ela então sente-se abonada em conceder cores à sua fantasia de espionar os meninos no banheiro da escola. Diariamente, esconde-se em uma das cabines sanitárias de onde lança olhares furtivos. No local, mesmo se sentindo culpada por sua atitude, dá vazão aos seus instintos. Esse passa a ser o sentido da sua vida, como sugere o roteiro do filme, que dedica longos minutos ao que se passa no banheiro masculino da escola.

Toda a aridez e assepsia do local é sugerido pela câmera e pelas cores predominantemente cinzas e seus subtons. Cores vivas são evitadas, sugerindo a presença da ditatura no cotidiano daquelas pessoas. Neste ambiente, o chefe dos preceptores tenta seduzir Maria Tereza, mas não consegue trocar além de algumas cordialidades. Até um simples toque, durante uma conversa em um café, é evitado vigorosamente por Maria. A tentativa de aproximação passa por ele tentando convencê-la de tratá-lo pelo primeiro nome Carlos. Mas a jovem preceptora insiste inarredavelmente em um tratamento formal para desgosto do pretendente. Afinal, o que uma jovem na flor dos seus 23 anos iria querer com alguém provavelmente sexagenário?

O clima pesado do filme pode levar o público desavisado a uma certa angústia, já que quase nada é mostrado explicitamente. E ao contrário do que agora tem virado moda, não há nenhum recurso de voz narrativa em off para clarear o que está se passando no interior de Maria. A leveza da direção talvez seja o seu maior mérito.

Mas o final não é nada suave. O preceptor chefe descobre que Maria anda se esgueirando no banheiro masculino e passa a ter isso como um trunfo. Em um momento brutal ele a flagra dentro de um box, condena-a com toda a dureza possível, e aproveita a superioridade de posição e de condição para estrupa-la brutalmente. Ao final do ato, ainda diz para ela continuar diariamente com as suas zelosas investigações no banheiro masculino. Ferida em seus brios, em todos os sentidos, Maria o acerta com um estilete, pelas costas. O filme encerra com os apelos de socorro do algoz que se transforma em vítima. Até a morte do antagonista é sugerida, e não explícita. Como um tango trágico.


FONTE:


O Olhar Invisível (La Mirada Invisible),

de Diego Lerman (Argentina/Espanha/França, 2010)

por Eduardo Valente

Cinema de resultados

Logo na primeira sequência de La Mirada Invisible, que pode sem medo ser chamada de “sequência de introdução”, Diego Lerman deixa absolutamente evidente o seu domínio da linguagem cinematográfica. Ali, ele consegue, em poucos minutos, reproduzir todo o clima de paranóia e repressão vivido pela Argentina no 1982 em que se passa o filme, simplesmente filmando um grupo de alunos colocados em fila por uma inspetora de colégio e levados até a sala de aula para a chamada. Ali ele também demonstra a inteligência de quem sabe que seu filme se constrói nos olhos de seus personagens (o título, claro, já indica isso), e usa muito bem sua admirável atriz principal, Julieta Zyberberg para isso. O fato dela ter sido uma das protagonistas de Menina Santa certamente não atrapalha a que pensemos em Lucrecia Martel como uma referência forte para o filme, pela maneira como a relação do corpo dos personagens com o mundo será determinante ao longo de toda a projeção. No entanto, é exatamente este domínio preciso que acaba sendo o calcanhar de Aquiles do filme: sempre preciso, controlado. Retomando a lembrança de Martel, é um pouco como se um filme desta fosse dirigido por Juan José Campanella. Uma estranha combinação.

Lerman realiza um filme que “faz sentido” o tempo todo, consegue levantar todos os símbolos e metáforas que deseja, mas que nos toca muito pouco – exatamente porque, desde essa primeira sequência, entendemos exatamente onde ele quer chegar. Falamos em metáfora, porque é bem claro que as duas personagens principais do filme (a inspetora, e a escola em si) funcionam como metonímias da Argentina do período (tanto que, depois de resumir o filme o tempo todo ao interior da escola e da casa da personagem – com pequenas exceções todas elas filmadas de forma absolutamente fechada – Lerman nos créditos finais faz questão de trazer imagens de TV da época, com manifestações nas ruas). São personagens cheios de significados, que não podem fugir, portanto, do destino que a elas está traçado desde o começo.





Trata-se de uma estrutura que não precisa ser um problema em si, mas a questão é que Lerman não consegue fazer com que seu roteiro incuta nesta simetria e na narrativa nada que não faça com que o filme gire em círculos durante boa parte de sua duração, esperando apenas pelo símbolo final e definitivo, que vem na sequência catártica de rigor (mortis, no caso). Mas, que não haja engano: é um filme que fará sucesso no circuito dos festivais (talvez além dele), pois Lerman não deixa nada a dever para muitos dos grandes autores do cinema atual – com toda a dubiedade que o elogio pode carregar.

Maio de 2010
FONTE:
 
 


 
 
 
 
La Mirada Invisible (The Invisible Eye)




Mesmerizing film by Diego Lerman that will immerse you into an Argentina 1982 voyage where on the streets of the Argentinean capital people are challenging the military dictatorship but in the very traditional upper class school, that used to be called “Ciencias Morales” (Moral Sciences), everything is perennial calm with days passing by as if nothing is happening. That’s the setting to this story that can be a little disturbing thanks to an excellent inexpressive performance by Julieta Zylberberg that with tiny movements tells more than with words.

Story is sort of metaphor to what happened in March 1982 at Buenos Aires and tells about innocent and naïve Maria Teresa (Zylberberg) a 20-years-old classroom assistant that one of her main duties is to keep intact strict school discipline under the supervision of Mr. Biasutto, the chief classroom assistant, who seems to like and protect her like a father does with a daughter or a teacher with a student, as young Marita –as her family calls her- is relatively new to this job. Mr. Biasutto purpose is to teach Marita how to arrive at what he called “the optimum surveillance point” where nothing is missed and everything is scanned without alarming students. She has to become the invisible eye. But young and lonely Marita notices a student doing something wrong and keeps quiet; he becomes her fixation and wishes to survey him everywhere including at the boys restroom. With Mr. Biasutto’s permission Marita is authorized to investigate students that are allegedly smoking at the boys restroom and what follows is Marita’s downfall which is quite “metaphorical” similar to what happened in Argentina in those days.


You have no idea how tension is very slowly built in this fantastic movie that has mostly superficial everyday school dialogue, many silences and many takes with camera following Marita walking the majestic school building corridors or crossing the patio, the last making breathtaking visual compositions. When story climax arrives you are sort of prepared but still is very disturbing.


I believe that even if you’re not familiar with Argentina history you will enjoy this thrilling drama for just the apparent intense story; but knowing the events will allow you to see the other movie layer. But you will easily get that repression doesn’t achieve the best of results –whether it’s military coup or a young women trying to break free.

 

Film was official selection at 2010 Cannes in the Quinzaine section and the 2010 San Sebastian festival in the Horizontes Latinos section; this after being the winner in the previous year of the Sundance/NHK International filmmaker and part of Cannes’ Atelier de la Cinefondation. Those are very good credentials that absolutely describe an excellent character driven drama and a great, yet young, filmmaker.

 

Film is must be seen for those that enjoy Latin America films and for those that like their films to be well-crafted with a look and feel that resembles good European cinema.
Enjoy!!!

FONTE:






 The Invisible Eye

La mirada invisible

(Argentina-France-Spain)

Surveillance in the name of maintaining order at Argentina's top secondary school collapses into a psychosexual quagmire in Diego Lerman's "The Invisible Eye," whose engrossing first half succumbs to obvious dramatic turns. A far cry aesthetically from Lerman's landmark indie debut "Tan de repente," this adaptation of Martin Kohan's prize-winning 2006 novel "Moral Sciences" depicts the school as a microcosm of a nation enduring a failing military dictatorship in 1982. Classy production values and a knockout lead perf by Julieta Zylberberg will boost worldwide theatrical prospects after solid fest dates.

Lerman has not been a director prone to political statements and themes, and among his peers, he's one of the least likely to make a film that explicitly and stylistically recalls 1980s Argentine cinema. Yet both elements are at play in his new film, crafted around the hardly original notion that the poisonous oppression of a regime at war with "subversion" fosters nothing but monsters and repressed souls. Pic is generally faithful to Kohan's book, with a few narrative and character alterations; what's surprising in the end about "The Invisible Eye" is how on-the-nose its political and psychological talking points actually are.






Set in March 1982, when the 6-year-old junta is growing decrepit and willing to launch an absurd war with the U.K. over the Falkland Islands, pic is told exclusively from the p.o.v. of Colegio Nacional supervisor Marita (Zylberberg), who handles her charges with military-style propriety. She's as much a soldier of the state as the students, however, and proves willing to follow the orders of her boss, Mr. Biasutto (Osmar Nunez), who preaches an ideology that apes the dictatorship's.
The script by Lerman and Maria Meira arguably sets up its characters and issues too bluntly to begin with, but this problem is offset by the involving manner in which Lerman and his skilled editor Alberto Ponce create the intensity of a mystery-suspense movie -- a mood enhanced by Jose Villalobos' minimally deployed score. As Zylberberg's Marita delves into her new assignment -- keeping a close watch on the students for any signs of subversion -- the actor expertly uses facial expressions and eye movements to describe her inner character.

 

Marita's daily routines define her repressed loneliness: leading the students about in line formation, conducting dress inspections, filing her nails on the subway commute back home and finally having dinner with her ailing mother Elvira (Gaby Ferrero) and seamstress grandmother Adela (Marta Lubos). Marita is still a virgin at 23, and many of her problems come down to the simple fact that she needs to get laid. A snide comment at a party that her skin looks like a virgin's compels her to try moisturizer in the next scene (and later, some makeup), gestures underscoring her pathetic notions of personal freedom.

 

Unfortunately, after Marita's spying tactics go too far -- and once Biasutto takes his paternal concern for Marita past professional boundaries -- the dramatic course of the story becomes all too easy to anticipate. Sexual violence in the school is too cleanly charted with incendiary anti-regime protests (unseen, but audible) on the streets surrounding the school, diffusing the impact of what might have been a forceful fable.


Nunez is saddled with the burden of playing the all-too-evident stand-in for the dictators, but doesn't bring necessary nuance to the heavy-handedness. Alvaro Gutierrez's muted color palette mirrors Marita's life, with all production elements classically realized. The filmmakers were prevented from filming in the actual Colegio Nacional, but the substitute school locales are well captured for their ultra-establishment qualities.





FONTE:

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