terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Burlesque

Sem inovar, musical chega para agradar os fãs de Cher e Aguilera.


 


De uns tempos para cá, no que podemos considerar a pós retomada do cinema musical, produzir um longa metragem do gênero não é uma tarefa fácil. Os musicais se tornaram luxuosos demais, o que implica necessariamente no custo elevado de produção, além de terem convencionado a ser uma vitrine para grandes atores mostrarem seu talento. Para que tudo saia como planejado, um bom diretor é sempre essencial para um roteiro que, quase sempre, vem cheio de referências aos musicais antigos e também à cultura pop.


 


Uma outra questão que deve ser considerada nos musicais é que o público é restrito, o que faz com que tanto investimento possa causar prejuízo. Nesse sentido, nada mais correto do que trazer duas estrelas da música para protagonizar “Burlesque”. Cher e Christina Aguilera são as grandes atrações de um musical que não tenta em momento algum trazer novidade ou mostrar originalidade na forma de contar sua história, que já foi requentada por inúmeros filmes e em diferentes gêneros.
Na trama, Ali (Aguilera) é uma típica moça do interior que reconhece ter um dom para a dança e o canto. Ela decide ir para Los Angeles procurar uma oportunidade de ser feliz fazendo o que gosta. Então ela conhece o Burlesque Lounge, uma casa de shows que tem como principal atrativo suas belas e sensuais dançarinas. Encantada com aquilo tudo, Ali tenta uma vaga para participar dos shows, mas Tess (Cher) irá demorar para reconhecer o talento da moça. Aliado a essa trama clichê, outros clichês aparecem: a paixão proibida e a ganância de alguém querendo comprar o teatro.
O grande risco de uma produção com esse argumento é reinventar meio a tantas experiências musicais que já existem na história do cinema. Não somente nas produções dos últimos dez anos, quando o gênero voltou a ser bem aceito pelo público e pela crítica, mas principalmente ao que já foi feito há décadas atrás. Uma produção inocente como “Burlesque” não consegue competir com o que já vimos e se transforma em mais uma película que vai ficar por aí rodando às custas dos fãs de Cher e Aguilera.


 


Inspirações são óbvias. É impossível não associar o teatro de Tess ao palco de “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” ou mesmo a  ousadia dos números de “Chicago”. O resultado é que “Burlesque” não se compara a nenhum destes, não trazendo nenhum outro atrativo, em termos de cinema, para a indústria. O roteiro de Susannah Grant, Keith Merryman e Steven Antin (também diretor) não sai do lugar comum e cumpre todas as poucas expectativas que temos desde o início da trama. Entretanto, não há contribuição estética ou mesmo narrativa, parecendo apenas um compilado de videoclipes de Aguilera. É mais coerente comparar “Burlesque” ao trágico “Glitter – O Brilho de uma Estrela”, já que são semelhantes em diversos parâmetros.


 


Por sinal,  não neguemos que Aguilera é uma exímia cantora. Sua voz impecável dá vida à maioria das canções de “Burlesque” e sua desenvoltura de palco ajuda no desempenho das coreografias, apesar de ela parece um pouco desperdiçada pela forma como Antin dirige o espetáculo. Não há tanta mobilidade da câmera nem ousadia da edição, se rendendo a cortes secos e sem graça. Não há sensação de grandeza, como temos nos já falados “Moulin Rouge” e “Chicago”, ou também no recente “Nine”, que per si é um filme problemático, mas o desempenho visual da obra é impecável.
Aguilera, que faz seu debut como atriz, veste a carcaça da moça desajeitada e sonhadora, sendo um tanto quanto forçado e, algumas vezes, rendendo caretas risíveis. Já Cher, veterana em tudo que faz, traz a força que o público pede, mas sua inexpressividade é clara. No elenco ainda temos o ótimo Stanley Tucci que, ao lado de Cher, tem momentos de grande química inegável. Porém, ele é talentoso demais para estar em uma produção mediana. Eric Dane, o McSteamy de “Grey’s Anatomy”, leva charme ao longa, mas se resume a prepotência de seu personagem. Fechamos os destaques com a caricata Kristin Bell e o sonho de consumo da protagonista vivido por Cam Gigandet.


 


A trilha sonora aparece quase sempre deslocada da trama dramática de “Burlesque”, mas muitas vezes quebra o gelo e recupera o ar perdido pela historinha boba. Mesmo assim, a maior parte das canções são boas de ouvir. Os figurinos e direção de arte cumprem seu papel, mas são pouco ambiciosos. Talvez esses aspectos técnicos importem pouco, já que os holofotes são sempre de Cher e Aguilera, independente o que elas vistam.


 


Em duas horas de projeção, a sensação que dá é que a trama se requenta a cada sequência, sem gerar bons momentos. “Burlesque” não é de todo ruim, mas seu lado comercial acabou dando expectativas demais de que pudesse ser um grande musical. Ficando apenas em nível mediano, certamente será um presente aos fãs das cantoras, independente de defeitos. Não mais que isso.





Diego Benevides
é editor geral, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação e estudioso em Cinema e Audiovisual. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.


FONTE:
http://cinemacomrapadura.com.br/criticas/190035/burlesque-2/

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