segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Bruna Surfistinha

“Deborah Secco quer te convidar para um programa.” Se eu fosse você, aceitaria.

Jader Santana
Avaliação: NOTA 8
 
 

A garota franzina que já era considerada símbolo sexual aos 20 anos, enquanto representava a índia que confundiu as ideias de Diogo Álvares Correia, em “Caramuru, a Invenção do Brasil”, somou uma década aos seus anos e provou que o tempo, ao menos para ela, foi generoso. Deborah Secco estrela o filme brasileiro mais quente da temporada com a certeza de que poucas vezes esteve tão em voga na mídia. O melhor de tudo é que seu trabalho está mais encorpado, embora ainda longe da perfeição, e sua beleza… é assistir pra ver.

“Bruna Surfistinha” é a grande aposta do cinema nacional neste primeiro semestre de 2011, ainda que seja imprudente destacar seu possível sucesso nas bilheterias. Levando em conta o trabalho massivo de publicidade, a divulgação involuntária causada pelo alarde criado em torno da adaptação e escolha da atriz, e o número de salas de cinema lotadas nos dias de estreia, espera-se que seja uma experiência bem sucedida, ao menos em padrões financeiros.

A verdade é que ainda em suas primeiras cenas o filme surpreende por suas qualidades estéticas e direção segura. E quando cito os atributos estéticos ainda não me refiro aos predicados físicos da atriz, que serão mais bem explicitados a seguir. “Bruna Surfistinha” não é fruto de uma adaptação amadora de um livro erótico e não se sustenta apenas no tema polêmico e na popularidade de seu elenco. A direção de Marcus Baldini consegue fugir do óbvio e, ao lado da fotografia, demonstra um trabalho cuidadoso da equipe envolvida em sua execução.

Em algumas sequências é possível perceber resquícios de um experimentalismo que Baldini carrega, talvez, de seu trabalho anterior na MTV brasileira. As cenas de sexo, sobretudo as mais elaboradas, são realmente interessantes, com cores, ângulos e distorções de câmera que merecem destaque. A estética erótica de Baldini passa longe do trabalho realizado por cineastas como o espanhol Pedro Almodóvar, que fez do sexo uma arte em “Carne Trêmula”, mas o resultado final de seus esforços para garantir alguma beleza ao ato é digno de reconhecimento e sinaliza uma carreira interessante pela frente.

Angulações e fotografia deixadas de lado, o ponto alto do filme é a disposição demonstrada por Deborah Secco na assimilação dos trejeitos e atitudes de uma garota de programa de classe média. É evidente que público e filme fazem um acordo no momento da compra do ingresso: “me dê duas horas de diversão e em troca finjo acreditar que Deborah tem 17 anos”. Incongruente ou não, a atriz faz esquecer a diferença de idades e se aproxima tanto do tipo imaginado para seu papel que é difícil perder tempo racionalizando defeitos.

A atuação de Deborah demonstra maior eficiência na segunda metade do filme, quando a personagem assume seu novo nome e nova vida. Até então, seus esforços não são suficientes para convencer como a garota insatisfeita com família e estudos. O trabalho da atriz não exibe a mesma naturalidade presente nas sequências em que Bruna esbanja seu sucesso, e os modos de garota confusa não correspondem ao tipo de Deborah. O mesmo pode ser dito das sequências finais do filme, quando a carga dramática do roteiro exige uma interpretação diversa daquela vista até então.

A grande falha de “Bruna Surfistinha” é a falta de profundidade, da equipe de produção e do elenco, demonstrada nas sequências dramáticas. Se a ousadia de Baldini fosse aproveitada e desenvolvida em tais momentos, o resultado final seria mais convincente. Duas soluções seriam possíveis para a questão: aumentar a duração do filme e se aprofundar no drama da personagem ou eliminar a fase decadente de Bruna. Sem tristezas e tragédias, a maior parte dos problemas do longa seria resolvida.

“Bruna Surfistinha” é entretenimento de qualidade, sem grandes ambições e propostas. Talvez por isso qualquer traço de ousadia técnica chame tanta atenção e marque pontos positivos. Nesse caso, o mais louvável é o esforço do diretor para fugir do convencionalismo e inserir sua marca pessoal em um filme sustentado publicitariamente por apenas um nome. Alguém ainda pensa em recusar aquele convite da Deborah?
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Jáder Santana
é estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e crítico de cinema do CCR desde 2009. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.

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