Ex-ator sério, Liam Neeson protagoniza mais um thriller genérico de ação que aposta na tensão para tentar esconder uma trama absurda e cheia de reviravoltas de dar vergonha.
Liam Neeson já foi um ator de respeito e que ora participava de grandes filmes abraçados pela crítica (“A Lista de Schindler”, “Michael Collins, O Preço da Liberdade”, “Kinsey, Vamos Falar de Sexo”), ora emprestava credibilidade a produções com menos respaldo (“Rob Roy, A Saga de uma Paixão”, “Os Miseráveis” etc.). Hoje, Neeson virou sinônimo de filme ruim, fazendo uma porcaria atrás da outra: “Fúria de Titãs”, “O Preço da Traição”, “Busca Implacável”, “Esquadrão Classe A” e por aí vai.
“Desconhecido” é mais um para acrescentar na lista. Típico thriller de ação genérico que o cinema americano produz a rodo, este é aquele filme de ritmo ágil e envolvente embalando uma trama para lá de estapafúrdia. A ação desenfreada e o carisma do elenco tentam esconder todos os buracos do roteiro, e o diretor em questão usa os recursos mais óbvios possíveis para manipular o espectador e fazê-lo esquecer que tudo aquilo ali não faz o menor sentido.
Diante da falta de sutileza que vê diante de seus olhos e ouvidos, resta ao público duas opções: mandar a noção passear e desligar o cérebro, aproveitando a tensão e as boas cenas de ação, ou simplesmente se irritar com o diretor e os atores que resolveram participar do projeto e, principalmente, com o produtor que deu sinal verde para a película.
Dirigido da forma mais manipuladora e previsível por Jaume Collet-Serra (que já havia dado prova de sua incompetência como diretor no também absurdo “A Órfã”), “Desconhecido” começa como um típico longa hitchcockiano, no qual o protagonista é apenas a pessoa errada, na hora errada. Mas depois de construir toda uma premissa, o filme tira da cartola a reviravolta mais implausível possível e vira um pastiche de praticamente todos os longas de espionagem e assassinos de aluguel já feitos, sendo a referência mais óbvia à franquia “Bourne”.
Liam Neeson é um renomado médico, Dr. Martin Harris, que vai a Alemanha com a mulher para participar de um seminário. Depois de esquecer uma de suas malas no aeroporto, ele deixa a mulher no hotel e volta ao local para buscar o objeto. No meio do caminho, sofre um acidente de carro e acorda atordoado em um hospital depois de quatro dias em coma. A partir daí, a mulher e mais ninguém se lembra dele; existe, inclusive, um outro homem se passando por ele.
Sim, você já viu esse filme antes. Na verdade, até videoclipe já usou esse plot (mais precisamente o da música “Crystal Ball”, do grupo inglês Keane). Nesse ponto, “Desconhecido” já sai perdendo porque a trama não tem nada de desconhecida. A direção pouco ousada de Collet-Serra não ajuda e o óbvio parece ser a proposta da produção. Os flashbacks são estourados e a edição picotada, sendo a trama toda explicadinha e mastigada, para que o espectador não tenha a menor dúvida em relação ao que está assistindo.
O resultado é um filme que é, sim, tenso. Mas que peca pela dramaturgia e narrativa pobres. A falta de pulso do diretor e um elenco carismático, mas trabalhando no piloto automático, tornam a trama ainda mais absurda e nada justifica a mudança de postura do protagonista, que sem a menor razão adota um complexo de culpa que vai de encontro à própria essência do personagem.
Para quem não se importa e quer só se divertir, boa sessão. A produção é caprichada, o ritmo flui e o filme passa em um piscar de olhos. Mas quem prefere diversão com um pouco mais de cuidado e estofo, o melhor é mesmo rever a trilogia “Bourne” ou os últimos filmes do agente 007 e ver como realmente se faz um thriller de ação de verdade. Quanto a Liam Neeson, só resta torcer para que ele desista de ser um herói de ação. A julgar pelos filmes do gênero que ele anda fazendo, em pouco tempo o ator vai virar um genérico de Stallone, Steven Seagal ou coisa pior.
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Fábio Freire escreve para o CCR desde 2010. É jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com pesquisa sobre a relação entre música pop e cinema. Já passou dos 30, mas ainda assim entende mais sobre cinema, música e seriados do que entende sobre gente.
Fábio Freire escreve para o CCR desde 2010. É jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com pesquisa sobre a relação entre música pop e cinema. Já passou dos 30, mas ainda assim entende mais sobre cinema, música e seriados do que entende sobre gente.
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