Entre as coisas que menti para mim mesmo que iria fazer no final de ano estava “dar uma chance ao novo álbum de Kanye West” – um disco tão previamente (e previsivelmente) elogiado, que de antemão já despertava uma forte resistência para eu sequer ouvi-lo… Bem, você, como leitor atento, já concluiu, logo na primeira frase do texto de hoje, que eu não cheguei nem perto de “My beautiful dark twisted fantasy”. O que não significa, claro, que não vou fazer isso – já fui mais que convencido (por você e tantos outros que respeito), de que é necessário escutá-lo com atenção, nem que seja para criticar. Só que não vai ser agora – e a razão disso é muito simples: eu quero ouvir coisas novas!
Síndrome de déficit de atenção? Falha de caráter? Mero capricho? Ou algo que você talvez conheça muito bem… aquela vontade de consumir uma novidade? Pode apostar na última opção – até porque esta é a época perfeita do ano para a gente sucumbir a esse impulso. É inevitável: as revistas e sites de música estão cheias de promessas para 2011 – da “nova revelação” da última forma mutante do gênero folk àquela dupla obscura que recicla sons africanos com toques de “zydeco” em Glasgow… Da cantora soul que é uma mistura de Rihanna com Tammy Wynette (sim, Tammy Wynette!), aos rappers de quem Eminem queria ter gravado as canções… Dos novos afilhados da dupla do Daft Punk ao novo projeto daquela metade de uma banda que fez sucesso por mais de uma década simplesmente porque era uma polêmica familiar ambulante (e eventualmente compunha algumas canções perfeitas!).
Com exceção desse último exemplo (no qual eu estava me referindo, claro, a Beady Eyes) todos os outros artistas acabaram de ser inventados por mim. Mas poderiam ser verdadeiros – a julgar pelo que vemos anunciados como promessas para esses meses vindouros. Menos do que discutir cada um desses novos artistas (minhas apostas, eu prefiro revelar depois de uma, digamos, apreciação mais profunda), o que me deparei perguntando a mim mesmo é o por que dessa nossa necessidade de saciar nossa fome musical quase que exclusivamente só com o novo?
Calma. Não vou abrir um espaço para filosofia barata. Quero apenas ter com você um ponto de partida para a gente analisar o que vem por aí. E ao mesmo tempo questionar se vamos ter espaço na nossa atenção – ou mesmo tempo! – para poder aproveitar tudo isso…
As propostas são tentadoras – e começa, como sempre, com o número especial do “NME” sobre novas bandas que devem chamar atenção no ano. Esse tema é inclusive recorrente aqui mesmo neste espaço – lembra-se quando, em janeiro de 2009 indiquei aqui a “desconhecida” Florence and the Machine (que depois levou quase o mesmo número de indicações no último VMA do que Lady Gaga?); ou, antes ainda, quando perguntei em abril de 2008 se estávamos ouvindo música demais? Mas desta vez essa inquietação vem aliada com uma oportunidade que tive recentemente: estava em Londres na semana passada, e tinha todas as possibilidades diante de mim para escolher novas músicas. E confesso que fiquei meio paralisado diante da oferta.
(A grande ironia é que justo hoje, quando existe mais acesso do que nunca para a gente escutar novos artistas, as opções para se adquirir esses trabalhos – de uma maneira que não seja digital – estão cada vez mais minguadas… Aquela Londres de “megastores” e bibocas entulhadas de CDs em cada esquina, como você talvez já saiba, não existe mais. São poucas as que sobreviveram à primeira década do século 21 – e conto nos dedos de uma mão só as que ainda oferecem uma chance de acolher este ultrapassado amante de música: a Sister Ray, no Soho; e a Rough Trade, na boa e velha Talbot Street. Mas eu divago…).
Eu mal havia completado minha apreciação das “novas” bandas que surgiram no final de 2010 – aquelas, como Everything Everything, que não tiveram o melhor dos “timings” para aparecer (apesar de apresentarem também um pop de primeira) – e lá estavam mais algumas dezenas de “new acts”, todos tão excitantes quanto outros artistas que eu já havia “acabado de conhecer” em 2010 – gente boa, que eu mal havia conseguido digerir, que gostaria de ouvir mais uma, duas, três vezes, mas que já estavam sendo atropelados por quem acabava de chegar.
Por esse estranho caminho por onde vai nossa curiosidade, de repente o novo disco do The XX – uma das coisas mais originais que apareceram nos últimos anos – parece menos importante do que uns neozeolandeses chamados The Naked and Famous. O próprio trabalho de Kanye West fica facilmente em segundo lugar (não estou falando de qualidade, mas de curiosidade, repito) quando você tem uns moleques de Los Angeles chamado Odd Future fazendo um hip-hop para lá de surreal (e violento). E quem é capaz de levantar uma sobrancelha para o provável novo álbum do Kasabian quando a expectativa maior é se uma das bandas mais misteriosas de todos os tempos, WU LYF, vai ou não sequer lançar alguma coisa? E que tipo de som será que nomes como Outer Limits Recordings, The Vaccines, Daughter, Savage Nomads, Ikonika, ou mesmo oOoOO (isso não é um erro de digitação!)? WOW!
Relendo rapidamente que escrevi, percebo que você pode interpretar o post de hoje como um desabafo de alguém que simplesmente não tem mais tempo e/ou paciência para ouvir tanta coisa. Mas deixe-me defender: é justamente o contrário! Eu queria ter esse tempo de ver e ouvir todas essas coisas – e aproveitar todas elas. O que estou fazendo, escrevendo este texto, é uma tentativa de me convencer de que isso é possível – e quase um pedido de desculpas para os “nomes consagrados” que eu devo acabar deixando em segundo plano…
Meu fascínio com o novo – e que, dsconfio, não é só meu, é constante! Por exemplo, ao digitar estas palavras, estou escutando um dos CDs que trouxe agora de Londres, de uma banda chamada Kisses (o álbum tem o mesmo nome) – um dos melhores dessa “safra”. Mas a pilha de coisas novas está grande – e eu quero mais. Por isso, vou pedir sua ajuda. Tem alguma coisa nova para me sugerir?
Queria montar, com o post de hoje, um grande “painel de novidades” – e com sua colaboração. É provável que você venha até com nomes que eu já tenho aqui na minha lista (só os do “NME” são 20, hein!), mas não deixe de tentar… Nem deixe de incluir algumas bandas nacionais que você acha que eu tenho absolutamente que ouvir – mas que sejam novas, por favor… Tenho o maior respeito pelos artistas que conseguem (não sei como, só pode ser talento) arrastar seus fãs dos anos 80 até seus shows de hoje em dia e ainda conquistar novas audiências. Mas esse já estão consagrados. Quero coisas novas – e nossas também.
Ou, se você souber de algum novo rapper cingalês, uma nova diva colombiana, um excitante duo novo do País Basco, ou um DJ bombando na Malásia, também agradeço. Ajude o meu ano musical a começar bem – que eu prometo que vou retribuir ao longo de 2011.
Aguardo sugestões.
seg, 10/01/11
por Zeca Camargo
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